22 de dezembro de 2008

O Divino Cartola (1965)

NA VITROLA
Cartola foi gravado, na antiga, pelos principais cartazes da época: Francisco Alves, Carmen Miranda, Silvio Caldas, Ataulfo Alves, etc. Em 1942, gravou algumas faixas para o disco Native Brazilian Music. Mas somente em 1965, num compacto duplo do selo Mocambo, é que ele lançou um disco inteiro como intérprete.

Cartola canta seus sambas (hoje, clássicos) O Sol nascerá (parceria com Elton Medeiros) e Amor Proibido, além dos ótimos Não quebre meu tamborim (de José Caldas e J. R. de Oliveira) e Bobagem (de Almeidinha, que também participava da gravação com sua Escola de Samba).

Como vários outros discos, esse era mais uma raridade que, felizmente, se difundiu na internet.
Segue, então, as quatro faixas.

O DIVINO CARTOLA
Mocambo - CD 3.087


Baixe aqui esta jóia

19 de dezembro de 2008

Dona Inah hoje!

Dona Inah lançou recentemente um álbum (o segundo de sua carreira) só com canções de Eduardo Gudin. O disco está muito bom. Certa vez, dediquei um texto à ela aqui no Couro, enaltecendo-a. Atualmente, gosto mais ainda de vê-la em ação.

Hoje, ela será a convidada no Projeto Anhanguera dá Samba, o último do ano. Com esta postagem, também me despeço, já que só voltarei a escrever neste espaço em 2009.

Um abraço a todos e que 2009 seja cheio de alegria.

9 de dezembro de 2008

Samba no Beco (Vila Prudente)

A Vila Prudente é a favela mais antiga de São Paulo (anos 50) e lá se desenvolve um belo projeto de samba, o Samba no Beco, que recentemente completou um ano de atividades.

As rodas de samba acontecem sempre nos primeiros sábados de cada mês, à partir das 18h. Como chegar: a
cesso pela Av. Luiz Inácio Anhaia Melo no beco próximo à esquina com a Rua Divinópolis.

Ano que vem, deverei dedicar longos textos sobre esses vários projetos de samba que existem espalhados Paulicéia afora. Por enquanto, segue uma palinha da apresentação deles. O samba é o "Não diga a ela minha residência", de Bide e Marçal.


27 de novembro de 2008

João Borba no Clube Anhangüera


João Borba é um excelente compositor e um dos maiores gogós de toda a Paulicéia. Há décadas, canta seus sambas cadenciados em casas de samba, bares, biroscas e pagodes. Nesta sexta, ele será o convidado dos Inimigos do Batente no Projeto Anhangüera dá Samba. É a velha guarda de São Paulo mostrando o que tem pra cantar. O Clube Anhangüera fica na Rua dos Italianos, 1261 e o samba começa por volta das 22h.

21 de novembro de 2008

O Berro do Cabrito II

O Berro do Cabrito



Roteiro: Fabrício Alves e André Carvalho
Produção e Locução: Fabrício Alves

18 de novembro de 2008

Silvio Caldas em 78 rpm (Victor - 33.712 - 1933)

78 rpm

No passado, no tempo dos discos 78 rotações por minuto, era muito incomum, quase raro, que as duas músicas gravadas no álbum fizessem sucesso. Normalmente, quando isso acontecia (um novo sucesso), o samba do outro lado do disco, o “lado B”, passava batido, não acompanhando as glórias da faixa “co-irmã”.

Entretanto, se por um lado, os compositores da faixa “lado B” do disco não entravam para os anais da música popular brasileira, por outro, ganhavam tanto dinheiro quanto os do “lado A”. Afinal, quem levava para casa o sucesso, que para sempre reverberaria nas mentes e nos corações dos brasileiros de várias gerações, inevitavelmente, acabava levando, de lambuja, estas músicas que ficariam esquecidas por muitos anos.

E o que explica o insucesso (talvez caiba melhor o termo “não-sucesso”) destes sambas do “lado B”? Falta de qualidade certamente não era. Com esta postagem, inauguro a seção “78 rpm”, onde mostrarei exemplos de discos com um grande sucesso da época de um lado e, do outro, sambas que não entraram para a história mas que são “peso na balança”.

Pra começar, vamos com um disco do Silvio Caldas de 1933. Um dos sambas é o famoso “Lenço no pescoço”, de Wilson Batista, que deu origem a lendária polêmica com Noel Rosa (da qual falarei mais detalhadamente no futuro). No outro lado, “Na floresta”, um samba belíssimo, digno da obra do Divino Mestre Cartola.

Victor - 33.712 (1933)

Lado A - Na floresta (Silvio Caldas - Cartola) - Samba
Lado B - Lenço no pescoço (Wilson Batista) - Samba


16 de novembro de 2008

Inaugurado site com acervo de Hermíno Bello de Carvalho


Foi inaugurado na última semana o site com o valiosíssimo acervo do Hermínio Bello de Carvalho. São gravações caseiras raras e diversos documentos acumulados ao longo destas décadas em que ele vem servindo (e muito bem) à Música Popular Brasileira.

4 de novembro de 2008

Mais um blog de samba

Pra quem não é ruim da cabeça nem doente do pé, vai uma dica de blog de samba bom. É o Lira do Povo. Lá é possível baixar LPs e velharias de 78 rpm.
Aproveitem.

31 de outubro de 2008

Anhanguera da Samba hoje

Quem samba fica quem não samba vai embora. Hoje tem Toninho Nascimento e Noca da Portela no Clube Anhanguera. Quem os acompanha são os Inimigos do Batente. A roda começa às 10 da noite e o clube de várzea, tão aconchegante, fica na Rua dos Italianos nº 1261, no Bom Retiro.

30 de outubro de 2008

Samba no Centro de Cultura Popular Consolação


A partir de hoje, e ao longo de todo mês de novembro, a roda de samba do Bula da Cumbuca irá se apresentar às quintas-feiras, no Centro de Cultura Popular Consolação. O samba tem início às 21h e o couvert artístico é de 8 reais.

A roda será formada por Paulinha Sanches, Paulinho Timor, Marcelo Homero, Cacá Sorriso, Edu Batata e To Be. O endereço é Rua da Consolação, 1901.

28 de outubro de 2008

Samba de Terreiro de Mauá tocando Cartola

Segue um vídeo da rapaziada do Samba de Terreiro de Mauá (alô Edinho, alô Marcelo) fazendo uma bela homenagem ao Mestre Cartola neste ano de Centenário do fundador da Estação Primeira.

No vídeo, eles tocam "Devia ser condenada", uma das raras parcerias dele com Nelson Cavaquinho e "Ao amanhacer", sem parceria.

24 de outubro de 2008

Homenagem a Marcelo Justo

Hoje no Ó do Borogodó terá uma roda de samba com os Inimigos do Batente e Samba Rahro em homenagem a Marcelo Justo, falecido recentemente. A renda será revertida para sua família.

14 de outubro de 2008

O Berro do Cabrito I

O Berro do Cabrito



Hoje, inauguraremos a seção “O Berro do Cabrito”, que nada mais é do que o Podcast do Couro do Cabrito. Ora com roteiro do meu amigo Fabrício Alves, o popular Boi, ora com roteiro meu, mas sempre com a produção e locução dele, o Duque da Voz.

Neste primeiro programa, teremos muitas brasas:

1 - Laços do amor (Velha da Portela - Zé Catimba) - Velha da Portela e Grupo Natal (1985)
Partido alto dolente do Grupo Natal acompanhada pela gostoso flauteado de Camunguelo.

2 - Identidade (Ederaldo Gentil) - Ederaldo Gentil (1983)
Faixe que dá título e abre o terceiro disco do poeta baiano. Verdadeira crítica social.

3 - O Caveira (Martinho da Vila) - Martinho da Vila (1973)
Martinho da Vila esbanjando cadência e divisão. Faixa que faz parte do disco “Origens”.

4 - Mano Décio ponteia a viola (Mano Décio da Viola - Waldemiro do Candomblé) - Mano Décio da Viola (1974)
Como todas as faixas do disco “Capítulo Maior da História do Samba”, este partido, parceria com Waldemiro do Candomblé, é de muita qualidade. Brasa!

5 - Samba pras moças (Roque Ferreira - Grazielle Ferreira) - Roque Ferreira (2004)
Sucesso na voz de Zeca Pagodinho, esta versão é versão do compositor, com um arranjo menos comercial (bem melhor).

6 - Deu cupim (Henricão - José Alcides) - Henricão (1980)
Samba dolente do compositor e intérprete paulista. Este é o único LP gravado em vida por ele.

7 - Conversa de malandro (Paulinho da Viola) - Zé da Cruz e Conjunto A Voz do Morro (1965)
Samba Sincopado de Paulinho da Viola (ele fez outros na época do Conjunto A Voz do Morro). Na interpretação, Zé da Cruz e seu batuque na palhinha.

8 - Não bula na cumbuca (Paulinho Timor) - Paulinha Sanches e Bula da Cumbuca (2007)
Samba de Paulinho Timor, jovem compositor paulistano, interpretado pela sensacional Paulinha Sanches, outro jovem talento da Paulicéia.

9 - Zé Ciumento (Aniceto do Império) - Aniceto do Império (1977)
Partido alto gravado no disco “Aniceto e Campolino”. Espetáculo!

10 - Samba do Irajá / Não foi ela (Wilson Moreira - Nei Lopes) - Wilson e Nei (1980)
Um samba melhor que o outro.

Roteiro, Produção e Locução: Fabrício Alves

11 de outubro de 2008

Cartola 100


"Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve" (Nelson Sargento)





Quem me vê sorrir (Cartola - Carlos Cachaça) - Cartola e pastoras da Mangueira (gravação de 1940)

2 de outubro de 2008

Voz do Morro (Geraldo Pereira - Moreira da Silva)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA
Geraldo Pereira já era tão conhecido no asfalto quanto no morro. Seu nome já se encontrava estampado em diversos discos de 78 rpm, assim como em diversas partituras, vendidas nas casas musicais do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, em Mangueira, ele era um respeitado compositor da Estação Primeira.

Em 1942, ele lançou no terreiro um samba sobre a Praça Onze que logo contagiou a todos. No mesmo ano, no dia 1º de outubro, seu "parceiro" (entrava nas parcerias, mas não compunha nada) e intérprete Moreira da Silva gravou o tal samba, que se chamava "Voz do Morro" na Odeon. Em depoimento aos autores do livro "Um certo Geraldo Pereira" (Funarte). Moreira diz:

"Esse samba para mim é um desconhecido anômimo. Meu nome taí mas eu não me lembro desse A voz do morro de jeito-maneira nenhuma."

No começo do ano seguinte, saiu o disco e logo o samba já estava nas rádios.

Entretanto, existia uma política dentro das escolas de samba que dizia que apenas sambas inéditos poderiam ser cantados no terreiro. E quando o presidente da Mangueira, Angenor Mulatinho, e o mestre de harmonia, Cartola descobriram que o samba já tinha sido gravado, proibiram as pastoras de cantá-lo. Geraldo Pereira ficou aborrecido e passou a ir cada vez menos ao terreiro da Verde Rosa.

"Esse samba sobre a Praça Onze o Geraldo fez e trouxe para a Estação Primeira da Mangueira. O samba estava até pegando na quadra. mas aí descobriram no morro que o samba já estava gravado, porque estava tocando nas rádios. Como samba de quadra tinha que ser 'virgem'. Seu Angenor de Castro, que foi presidente da escola quatro anos, proibiu a execução do samba na quadra. O Geraldo ficou muito aborrecido, mas teve que cumprir a ordem. Naquele tempo, samba de quadra não podia ser gravado, era só da escola."
(Nelson Sargento)

Em 2006, Tantinho regravou a obra-prima.

Voz do Morro (Geraldo Pereira - Moreira da Silva)

Sabemos que já que já acabou a Praça Onze
E que as escolas de samba não saem
Mangueira, já participou a Portela
E esta retransmitiu para Salgueiro e Favela
Preparem seus tamborins
A Praça Onze Acabou mas ós temos onde brincar
Por isso não vamos chorar

Desce a Estação Primeira com seu conjunto de bamba
Portela e todas as escolas de samba
Mesmo sem Praça todos hão de ver
Que as escolas não deixaram de descer
A Praça Onze acabou mas nós temos onde brincar
Por isso não vamos chorar

1943 - gravado por Moreira da Silva em disco de 78 rpm - Odeon

2006 - gravado por Tantinho no disco "Memória em Verde Rosa" - Independente

25 de setembro de 2008

Gisa Nogueira é a bola da vez no Projeto Anhanguera

Depois de mais de 20 anos sem se apresentar em São Paulo, Gisa Nogueira, grande compositora e irmã de João Nogueira, estará junto dos Inimigos do Batente na roda de samba mensal do Projeto Anhanguera nesta sexta-feira.

Nos últimos anos, Gisa vinha se dedicando às artes plásticas e à carreira de professora, estando afastada do meio musical. É uma oportunidade, pois, que não deve ser desperdiçada. Até lá!


18 de setembro de 2008

Samba!!!

Samba é coisa séria, rapaziada... Quem acha que samba é uma farra, e tão-somente uma farra, é bom começar a refletir sobre o que o samba representa para nós, neste ano de 2008.

O samba já foi nossa música mais popular. Se hoje em dia as rádios tocam Zezé de Camargo e Luciano, outrora tocavam Zé e Zilda, Orlando Silva, Ciro Monteiro, Aracy de Almeida entre outras “madeiras”. No asfalto, os sambistas compunham seus sambas a torto e a direito, alimentando o mercado fonográfico. A qualidade das composições era alta. E o povo brasileiro consumia coisa boa.

Afastado da cidade, também havia o morro e a roça. Naquele tempo o malandro não descia, mas a polícia no morro também não subia. E se chegava à roça (por exemplo, Oswaldo Cruz), chegava quando o samba já estivesse desbaratinado.

O tempo passa, os velhinhos perdem o espaço nos terreiros (agora quadras), os bons compositores de samba do passado sequer são conhecidos pela população brasileira. Come exceção daqueles nomes que um dia fizeram sucesso (Paulinho, Martinho, etc), quase ninguém sabe reconhecer o valor de um Elton Medeiros, um Wilson Moreira, Nelson Sargento...

Hoje em dia, a maioria dos jovens que tocam nas baterias das escolas de samba, filhos e netos de bambas, sequer escuta samba. Contenta-se em escutar pagode, funk e qualquer outro lixo imposto via grande mídia. Com raras exceções, as quadras das escolas sequer têm samba de terreiro sendo feito.

Certo, a grande mídia, por enquanto não levantou essa bandeira de resgate. E quem a levanta? Quem escuta um samba bom e depois o canta na roda. Quem escuta e se identifica com essa linhagem de samba e depois vai compor alguma coisa. Quem se emociona com estes sambas e depois vai bater um pandeiro na roda, cantando no coro e vibrando de alegria... Somos nós.

Muitos me perguntam: “Pô, André, você fica aí atrás de velharia. Pra que isso?” Ué, se cada um não se mobilizar, nada vai pra frente. Gosto de descobri sambas de nomes como Jorge de Castro, Marino Pinto, Bucy Moreira da mesma maneira que gosto de resgatar sambas perdidos do Geraldo Pereira, do Cartola e do Nelson Cavaquinho. E claro... o que é meu é seu. O samba não pertence a ninguém, pertence a todos.

A mensagem é uma só: sambistas do Brasil, uni-vos! Somente juntos poderemos valorizar o nosso ritmo mais contagiante e brasileiro.

11 de setembro de 2008

Trecho de "O Mistério do Samba"

A Velha Guarda da Portela dispensa apresentações. Basta ouvir para sentir. Quem ainda não viu o filme "O Mistério do Samba", corra para os cinemas, que é sensacional. Segue um trechinho.

29 de agosto de 2008

Samba e Choro no Bom Retiro


Continuando o Projeto Anhanguera dá Samba, hoje teremos a participação do cantor Tião Preto, juntamente com o grupo Inimigos do Batente. A novidade fica por conta da roda de choro com o Grupo Choro em Linha de Passe, às 19h.

Inimigos do Batente convidam Tião Preto Grupo Choro em Linha de Passe

Local: Clube Anhangüera

Endereço: Rua dos Italianos nº1261 – Bom Retiro – São Paulo - SP

Data: 29/08

Horário: a partir das 19h

Ingressos: R$ 10,00 + um agasalho ou alimento não-perecível para doação a entidades assistenciais do bairroComo chegar: Marginal Tietê (sentido Penha), passando a Ponte da Casa Verde, terceira rua à direita, primeira à esquerda e novamente primeira à esquerda.

24 de agosto de 2008

Com lealdade (Alberto Lonato)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA

Paulinho da Viola, além de ser um genial compositor, também é um excelente intérprete. E ao longo de sua brilhante carreira, gravou sambas de muitos outros belos compositores. No disco "Eu canto samba", de 1989, ele gravou um samba de Alberto Lonato, um dos grandes baluartes da Portela, chamado "Com lealdade". Trata-se de um samba de terreiro primoroso, gravado com um arranjo finíssimo, na cadência, como eram tocados os sambas no terreiro da gloriosa Portela. Brasa!!!!

Com lealdade (Alberto Lonato)


Fito os olhos da mulher que eu adoro
E não posso confessar o meu sofrer
Prefiro sacrificar minha amizade
Mas não quero ser falso a alguém
Que me trata com lealdade
Com lealdade

Tenho feito investidas para me declarar
Trazendo escritas palavras bem ditas
E na mão meu chapéu
Mas quando me aproximo meus olhos embaçam
Eu não posso ser falso a um amigo fiel (fito os olhos da mulher)



Este samba é dedicado àquele que me apresentou essa obra-prima, o Martinho 87, camarada e parceiro de samba.

20 de agosto de 2008

Terra Brasileira na Meirinha

Hoje, no bar da Meirinha, tem samba com o Terra Brasileira. Pra quem não conhece, trata-se deu um projeto de resgate dos sambas da Velha Guarda. No repertório, muito samba de terreiro e partido alto. Vale a pena conferir!


16 de agosto de 2008

A despedida de Caymmi


Como nas despedidas as palavras faltam, não vou ficar com muitas delongas aqui. Quero apenas dizer que hoje, dia 16 de agosto de 2008, o mestre Dorival Caymmi, aos 94 anos, nos deixou. Sua obra, linda obra, fica.

Pra quem quiser se despedir escutando suas lindas canções, deixo pra vocês alguns álbuns dele, e um vídeo tirado do documentário "Um certo Dorival Caymmi"

Descanse em paz, mestre.

12 de agosto de 2008

Homenagem à minha Portela querida


Eu não direi o que se passou entre nós
Porque este desengano dói
E quanto mais eu ando penando
Mais a tristeza me persegue

Eu fui condenado a viver desprezado
E por isso, os meus olhos vertem lágrimas
Pensar em ti pra que?
Chega de padecer!
Eu, se quisesse penar
Não esperava você me falar em amar
O sofrer é da vida eu aceito
E é por isso que eu vou navegar para nunca mais voltar
E beber para esquecer o nome daquela ingrata que me fez sofrer

Mas repare bem, não é assim
Esse mundo é uma roleta e nós somos jogadores
Eu já lhe disse que não quero mais seu amor
E que você não é não, a dona do meu coração
Você foi uma nuvem que passou e que não volta mais
Vai pecadora arrependida, vai tratar da sua vida
Por favor me deixa em paz

Agora estou resolvido a não amar a mais ninguém
Quero viver como um passarinho
E se queres ser minha, Iaiá, tens que abandonar a orgia
Só assim, alegria tu terás

Postado originalmento no blog Idéias de Improviso

9 de agosto de 2008

Cristina Buarque e Terreiro Grande em setembro

Sambistas do Rio e de São Paulo, atenção para as datas das apresentações (imperdíveis) da Cristina Buarque e Terreiro Grande no próximo mês.

Rio de Janeiro

Dia 6 de setembro, sábado, às 16h00 no Clube Municipal de Paquetá - ( R$ 5,00 )
Dia 7 de setembro, domingo, às 17h00 no Trapiche Gamboa Rua Sacadura Cabral - 155 - Praça Mauá - ( R$ 18,00 )

São Paulo

Dia 20 de setembro, sábado, às 21h00 no SESC Pinheiros - ( R$ 15,00/ R$ 7, 50 )

31 de julho de 2008

Sambistas santistas

Ainda vou escrever um texto com mais propriedade sobre estes senhores santistas. O samba que eles fazem toda semana é algo mágico, divinal, sensacional. São os sambistas do Ouro Verde, clube de futebol e malha localizado no bairro do Marapé, em Santos. Por hora, para matar a curiosidade de vocês, seguem dois vídeos da excelente roda que eles promovem.




21 de julho de 2008

Legenda do samba paulista no Clube Anhanguera nesta sexta-feira


Seu Nenê é uma lenda viva do samba paulista. Sua Escola de Samba, na Vila Matilde, leva seu nome. E seus sambas carregam história. História de um tempo em que o samba era feito com tambus e zabumbas e que os sambistas sambavam agachados, levantando poeira em porões de casarões no centro da cidade. Sim, porque em São Paulo não havia os morros para fugir da polícia e sambar em paz. Sendo assim, os porões eram onde rolavam os pagodes.

Este senhor de quase 87 anos será o ilustre convidado do próximo Anhanguera dá Samba!, projeto de grande valia para o samba da cidade de São Paulo. Assim como na ocasião em que foram convidados Germano Mathias e Oswaldinho da Cuíca, legendários sambistas da Paulicéia, a vez é do samba paulistano. E ninguém representa melhor o samba daqui como esta ilustre personalidade.

Até sexta!

Inimigos do Batente convidam Velha Guarda da Nenê da Vila Matilde e seu Nenê

Local: Clube Anhangüera

Endereço: Rua dos Italianos nº1261 – Bom Retiro – São Paulo - SP

Data: 25/07

Horário: a partir de 22h

Ingressos: R$ 10,00 + um agasalho ou alimento não-perecível para doação a entidades assistenciais do bairroComo chegar: Marginal Tietê (sentido Penha), passando a Ponte da Casa Verde, terceira rua à direita, primeira à esquerda e novamente primeira à esquerda.

17 de julho de 2008

O samba é minha raiz, minha herança, meu viver

Samba é cultura, samba é arte popular, samba é resistência cultural, samba é identidade brasileira. Diferente de outros estilos musicais, o samba é um estilo de vida. Já dizia o mestre Candeia: "vive melhor quem samba!". O samba não é apenas música, é uma força coletiva que transcende o âmbito musical e atinge a própria alma. O coração se enche de prazer, a emoção toma conta do sambista, que, cantando, sambando e versando na remandiola, atinge seu estado mais sublime de existência. O samba é êxtase, é a alegria em seu estado mais puro, despida de vaidade, hipocrisia e falsidade.

O samba não pertence a ninguém, pertence a todos. O samba cantado na roda pertence à roda de samba, aos sambistas que fazem daquele momento de integração, a própria vida. Quando eu socializo meu acervo através deste Couro do Cabrito, do
Prato e Faca e do Coisa da Antiga, o faço por ideal. Por que diabos vou segurar comigo um disco que não mais existe para vender? Para min, a maior recompensa é fazer com que estes sambas saiam da esfera particular, restrito à vitrola de um sujeito, e passe à esfera pública, sendo cantada com devoção nas rodas de samba.

Repito: não disponibilizo sambas para que as pessoas somente escutem as pérolas em suas casas, o faço para que o samba volte ao seu lugar de origem, a sua verdadeira casa: a roda. Gosto de colocar novos sambas na roda. Na primeira vez, quase ninguém canta. Na segunda vez, o povo já canta o refrão no coro. Após algumas vezes que o samba é cantado na roda, ele já volta a pertencer, efetivamente, à roda de samba.

Minha posição com relação ao samba é de amor puro. Enquanto viver, empunharei a bandeira do samba. Tentarei, e tenho certeza que, nós, juntos, conseguiremos hastear a bandeira do samba no mais alto dos mastros. Esta é a minha verdade. E sei que muitos que agora estão lendo este texto, estão juntos comigo nesta empreitada. Conto com vocês!

14 de julho de 2008

Ingrata Solidão (Geraldo Babão)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA

Conheci este samba na apresentação que o Terreiro Grande fez em São Paulo no Teatro FECAP ano passado. Pouco depois, achei o
vídeo deles tocando a música no Youtube e comecei a cantar o explosivo samba nas rodas. Para minha surpresa maior, fuçando nuns discos velhos meus, achei a pérola num disco do Zuzuca, dos anos 70. Brasa!!!!

O samba Ingrata Solidão, do genial compositor salgueirense Geraldo Babão, é daqueles que levantam uma roda de samba. O coro ("soooooooooooolidão") canta junto com força esse samba, um tanto desconhecido da maioria, mas clássico, genial, sublime...

Ontem, descolei um belo disco do Salgueiro, da Ala dos Compositores (valeu, Frank!) e tomei um susto quando vi que tinha uma versão ótima do Zuzuca, mandando muito bem, cheio de malemolência no cantar. Compartilho com vocês o samba e ainda deixo
um link para vocês ouvirem o Terreiro Grande tocando a música em Paquetá.

Ingrata Solidão (Geraldo Babão)

Solidão (solidão)
Por que tanto me persegue
E não me deixa de mão
Solidão
Te considero em minha em vida
A pior tentação
Solidão (solidão)
Eu ainda espero um dia
A felicidade invadir meu coração

Eu vou lhe mandar embora
Ô ingrata solidão

Depois que conseguir tudo o que quero
Quem há muito eu espero
Não sentirei mais paixão
Vou sufocá-la num beijo
Que é todo o meu desejo
Te esquecerei solidão

1 de julho de 2008

Quero estar só (Candeia - Wilson Moreira)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA

Este samba é algo sublime. Só poderia ser lindo pois os dois compositores que assinam a parceria são os mestres Candeia e Wilson Moreira.

Reparem na beleza da poesia, absolutamente integrada com a doce melodia e involta pela serenidade que o divinal Wilson Alicate traz em sua cantoria. Um primor de samba!

Esta gravação aqui apresentada, a primeira, é do disco do Acervo Funarte do Candeia. Brasa!

Quero estar só (Candeia - Wilson Moreira)


Quero estar só
Não me vejo no espelho
pra não me ver acompanhado
Quero estar só
Não quero ouvir conselho
pra não ser mal educado


Tudo que tens pra me contar já sei de cor
O que vais falar pra mim não pode ser melhor
Pois desde os tempos de criança eu já sabia


Se conselho fosse bom
não se dava, se vendia
Se vendia oh, não se dava
Não se dava oh, se vendia


Quero estar só

Não me vejo no espelho

pra não me ver acompanhado

Quero estar só

Não quero ouvir conselho

pra não ser mal educado


A minha voz leva ao infinito
o bom que aprendi nesse mundo bonito
Velho mestre em refrão sempre dizia


Se conselho fosse bom
não se dava, se vendia

Se vendia oh, não se dava
Não se dava oh, se vendia


26 de junho de 2008

Ivan Milanez no Clube Anhanguera esta sexta


“Qualquer criança bate um pandeiro e toca um cavaquinho/ Acompanha o canto de um passarinho sem errar o compasso/ Quem não acreditar, poderemos provar, podes crer/ Nós não somos de enganar, melodia mora lá no Prazer da Serrinha // Nós vivemos alegres a cantar/ A nossa escola é muita emoção porque ninguém jamais poderá desmoronar a nossa união” - Prazer da Serrinha (Rubens da Silva - Hélio dos Santos)

O samba adquiriu uma roupagem imperial e nobre quando surgiu o Império Serrano, o menino de 47, escola que, de cara, foi logo acabando com a supremacia da Portela e da Mangueira. De lá, surgiram nomes como Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, entre outras cobras. Quem conviveu com esses bambas e hoje faz parte da Velha Guarda do Império é o sambista Ivan Milanez.

E quem estiver em São Paulo nesta próxima sexta-feira terá a oportunidade de vê-lo em ação, ao lado dos Inimigos do Batente, no Clube Anhanguera.

Segue informações sobre o evento:

Inimigos do Batente convidam Ivan Milanez

Local: Clube Anhangüera

Endereço: Rua dos Italianos nº1261 – Bom Retiro – São Paulo - SP

Data: 27/06

Horário: a partir de 22h

Ingressos: R$ 10,00 + um agasalho ou alimento não-perecível para doação a entidades assistenciais do bairro

Como chegar: Marginal Tietê (sentido Penha), passando a Ponte da Casa Verde, terceira rua à direita, primeira à esquerda e novamente primeira à esquerda.

Os blogs de samba

Para escrever sobre blogs de samba eu preciso, antes, contar como nasceram os meus blogs de samba. Desde a época em que fiz um trabalho de conclusão de curso sobre samba de terreiro na faculdade, eu passei a pesquisar com afinco este ritmo quente. Passei, então, a publicar algumas coisas no Idéias de Improviso, que como o próprio nome diz, reúne textos diversos. Depois de algum tempo pensei que precisava fazer um blog exclusivo de samba.

Surgiu este Couro do Cabrito. Aqui, coloco textos, sambas para ouvir, informações sobre discos, documentos históricos, vídeos e muito mais. Com o tempo, foi ganhando vida e, hoje, fico muito feliz quando comentam e elogiam seu conteúdo. Pois bem, eu já tinha o Couro, mas queria postar discos de samba completos para o povo baixar. Eis que surgiu, então, o Prato e Faca. Passei a assinar Alvarenga do Morro do Chapelão neste novo blog e comecei a postar as brasas. Hoje o blog já conta com 120 álbuns. E sou bem chato no que diz respeito ao repertório: nada de Cacique de Ramos e derivados, nada de samba comercial e nada que, particularmente, eu não goste.

Algum tempo depois, criei mais um blog, o Coisa da Antiga. Este aí é a menina dos meus olhos, apesar da freqüência de postagens não ser tão ágil. Explico por que gosto tanto dele: lá, eu disponibilizo fonogramas antigos, da época dos 78 rpm. Faço compilações de compositores desconhecidos e consagrados. Vibro quando vejo que uma porrada de gente já baixou os sambas do Caxiné, do Príncipe Pretinho, do Djalma Mafra...

Antes de criar estes blogs, entretanto, já fuçava na internet atrás de blogs de samba onde eu pudesse baixar bons discos. Primeiro conheci o Cápsula da Cultura, depois veio o Um Que Tenha e, mais tarde, o Loronix. São blogs com ótimos acervos: o Cápsula da Cultura disponibiliza discos de música popular brasileira difíceis de encontrar, assim como o Loronix, que só tem velharia. O Um Que Tenha põe até lançamento e por conta disso, tiveram um problema recentemente com a gravadora Biscoito Fino, que pediu para que eles tirassem do blog seus álbuns. O Fulano Sicrano, que assina o blog, atendeu prontamente.

Além desses citados blogs que disponibilizam brasas, ainda temos o Toque Musical, o Abracadabra e outros baús de tesouros perdidos pela rede.

Blogs com muita informação sobre samba

É importante ressaltar que, além desses blogs que disponibilizam discos, também existem blogs de samba com muita informação e histórias do samba. Desses todos, o que eu mais gosto é o Terreiro Grande, tocado pelo Renato Martins e pelo Ricardo Brigante. Lá podemos escutar várias raridades, ler muita coisa interessante e aprender cada vez mais sobre os antigos compositores do nosso samba.

No mesmo estilo deste blog, recentemente surgiu o Samba de Terreiro de Mauá, com informações sobre antigos bambas e algumas músicas para baixar. Preciso ainda citar os ótimos Em Nome do Samba, o Só Candeia, além do Vermute com Amendoim, que possui uma boa equipe de estudantes de jornalismo/ amantes do samba que atualizam o blog constantemente.

A dica é explorar todos estes blogs e, a partir deles, conhecer novos sítios. Com certeza tem muito mais coisa que não citei aqui. Segue a lista dos links:

Prato e Faca
Coisa da Antiga
Terreiro Grande
Cápsula da Cultura
Um Que Tenha
Loronix
Toque Musical
Abracadabra
Samba de Terreiro de Mauá
Vemute com Amendoim
Em Nome do Samba
Só Candeia

18 de junho de 2008

"Estão vendendo a sua cultura"

Esta entrevista de Elton Medeiros concedida ao jornalista João Bosco Rabello foi publicada no suplemento cultural de domingo do Correio Braziliense no 22 de janeiro de 1978 (outras partes da reportagem especial aqui e aqui). Na ocasião, Elton já lamentava os tristes rumos que as Escolas de Samba estavam tomando. Como podemos ver hoje, foi um caminho sem volta: as agremiações de samba tornaram-se um inescrupuloso negócio.
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Domingo, 22 de janeiro de 1978
por João Bosco Rabello

Homem de Escola de Samba, compositor e parceiro de Paulinho da Viola, Élton Medeiros é também profundo conhecedor e estudioso da cultura popular. Neste depoimento, ele faz uma comparação entre o que aconteceu com as gafieiras e o que acontece com as Escolas de Samba: a invasão do elemento estranho que quer impor seus hábitos e as conseqüências disso.

Elton Medeiros: “Estão vendendo sua cultura”

João Bosco Rabello – Elton, como você vê a situação das escolas de hoje, e principalmente a partir das modificações feitas por Fernando Pamplona?

Elton Medeiros – Olha, já em 1948, o Império Serrano introduz modificações na escola de samba. A Aprendizes de Lucas também nesta época introduziu modificações na bateria, a frigideira. Então, você identificava o som da escola pela bateria, pela frigideira e pelo prato, isso em 1948, quer dizer, antes da aparição de Fernando Pamplona. O Pamplona começa a fazer carnaval no Salgueiro mais ou menos em 1959/60. O Salgueiro introduziu modificações, mas visando à participação de elementos da comunidade da escola em que ele saiu, ou a escola para a qual ele trabalhou, que foi a Acadêmicos do Salgueiro. Então, ele teve a preocupação de fazer um carnaval barato. Se não me engano, o primeiro carnaval do Salgueiro com Pamplona foi uma homenagem aos Fuzileiros Navais. Se não foi o primeiro, foi um dos primeiros. Depois, ele veio com temas de escravidão. Esses temas como você pode notar, dão oportunidade aos carnavalescos de fazerem, criar um carnaval barato. As fantasias são tangas, fantasias de escravos, e o que ornamentam essas fantasias são os adereços, que são feitos pelos cenógrafos, hoje em dia chamados carnavalescos. Então você tem de notar influências que a escola de samba sofre em razão de modificações da vida da cidade, entende? Modificações de caráter social, e que refletiram no comportamento do sambista. Eu falei, note bem, sobre modificações feitas no Império Serrano e, essas modificações foram feitas a partir, talvez, de uma necessidade sentida pelos elementos naturais de escola de samba. Foram modificações feitas por esses elementos. As que o Pamplona fez já não foram feitas por elemento natural de uma escola de samba. Já as do Império Serrano, em 1948, foram feitas pelos elementos naturais da escola de samba, daquela comunidade. A Aprendizes de Lucas também. Outras escolas de samba devem ter feito também modificações, mas essas foram as mais marcantes. Dessas eu posso falar porque eu acompanhava os desfiles dessas escolas de samba.

JBR – Fernando Pamplona era um elemento de fora da escola. Quero que você veja as duas posições: a do desenhista Lan com relação a Portela e do Pamplona em relação ao Salgueiro. O Lan é portelense desde 1949, mais ou menos, e nunca fez um traço para a Portela; e dizia: “Não faço figurinos para a Portela porque estaria interferindo num processo que não me diz respeito”. Diante disso, como você vê a atuação de Pamplona?

EM – O que eu quero dizer a você é que a Escola de Samba, por ser comunitária, ele deve ser artesanal. Ela não deve ser uma escola de samba que sirva de estágio de acadêmicos, nem mesmo veículo de promoção pessoal. Então, o artista de TV se utiliza da escola de samba para ser apontado na rua. Dona Beki Klabin, por exemplo, há alguns anos, disse que desfilava porque gostava de ser apontada na rua. Ora, pombas, escola de samba foi criada para proporcionar um divertimento barato, coisa de pessoas marginalizadas na sociedade. Essas pessoas criaram um divertimento barato. A escola de samba sempre foi de pessoas que não tinham dinheiro para ir ao Baile do Municipal, de pessoas que não tinham dinheiro para ir ao Monte Líbano, outro qualquer baile de gala.

JBR – O que era uma escola de samba no início?

EM – Ela vem dos concubins, que eram aqueles grupos de pessoas, concubins..., cordões de velhos, ranchos... Os ranchos é o tal negócio. O rancho vem dos concubins, entendeu, os ranchos passaram por um processo de transformação que as escolas estão passando atualmente, os ranchos atraíram pessoas da classe média, e você pode ver que o Ameno Resedá era um bloco de sociedade, foi um rancho de elite, e depois do aparecimento do Ameno Resedá trouxe realmente uma satisfação visual para muita gente e, ao mesmo tempo, decretou a decadência de todos os outros, porque o que ocorre com as escolas de samba hoje em dia é o que ocorreu com as gafieiras em relação à classe média.

Ela invadiu as gafieiras e, acho que já disse isso, umas cinqüenta vezes. Foram lá. Foram assistir aquele modo característico, todo especial, de se dançar em gafieira, de elemento de gafieira. Bem, mas chegando lá os elementos de classe média ao invés de se submeterem ao regime de gafieira sem interferir no comportamento do dançarino de gafieira, do freqüentador da gafieira, eles começaram a fazer amizade com os donos das gafieiras. Ora, o dono de gafieira é um comerciante como outro qualquer. E incutiram na cabeça deles que se botassem uísque em vez de batidas de limão, de pêssego, etc, leite de onça, se eles substituíssem o sanduíche de salame por outros salgadinhos mais sofisticados, eles ganhariam mais dinheiro porque esses freqüentadores de classe média trariam outros elementos de classe média para fazer despesa. Muitos deles, é verdade, pediram empréstimos e realmente ganharam muito dinheiro. Eles investiram no negócio. E a classe média estava presente recusando o sanduíche de salame e as batatinhas. E aí o que ocorreu? Esta gente, não satisfeita em impor as sua bebidas e as suas comidas dentro daquele ambiente, os seus costumes, passaram a impor também a sua maneira de dançar. Ou se não quiseram impor, pelo menos começaram a dançar da maneira que sabiam dançar ou tentaram imitar os dançarinos de gafieira sem saber. Eles pisavam os pés dos dançarinos de gafieira. Os dançarinos de gafieira faziam aquelas filigranas, aquele bailado, sem prejudicar a dança dos companheiros. Eles não chegaram pisando os pés dos outros e os elementos naturais das gafieiras foram se afastando e chegou um momento em que a classe média se viu sozinha nas gafieiras. Então, aqueles que eram atração nas gafieiras, desapareceram, criaram novos hábitos da classe média. Então, está havendo uma inversão de comportamento. Bom, quando a classe média se viu sozinha nas gafieiras, sem o elemento de atração para ela, ela se afastou também. Então, as gafieiras foram fechando. Então, eu sou contrário à tese do Albino Pinheiro, quando ele diz que as gafieiras fecharam por causa do metrô. Não é verdade, muito antes do metrô elas já tinha desaparecido. Agora, ele como elemento da classe média...

É, meu amigo, não é nada pessoal, é uma questão de ponto de vista, que é antagônico ao dele. Não é verdade, antes do metrô as gafieiras já tinham desaparecido. O Elite ainda está aí suportando o Rio de Janeiro. Mas, a Estudantina que pegava as sobras do Zicartola, já fechou há muito tempo. O Mauá já fechou há muitos e muitos anos. A Pavuna Grande também, e outras mais aí... Aquela gafieira da Rua de Santana, chamada Cheira Vinagre, o Dragão, tudo isso foi fechado por causa da invasão do elemento de classe média que marginalizou dentro do seu próprio reduto, o elemento de gafieira.

Bom, a classe média tomou um divertimento barato. Acabou com o divertimento deles. Mas, ainda tinha a escola de samba como opção. E a classe média foi para as escolas de samba e a mesma coisa está ocorrendo com as escolas de samba. Esse processo inflacionário é o resultado. Com fantasia de custo superior a dez mil cruzeiros, coisa que o sambista salário-mínimo não suporta. Não pode suportar financeiramente. Como ele não podia tomar uísque na gafieira, como ele não pode comer salgadinhos mais caros, acostumado que estava com o sanduíche de pão francês com salame. Com batidas. A mesma coisa está ocorrendo com as escolas de samba. Algumas têm uísque para vender, mas mesmo a bebida normal do sambista está custando um preço absurdo. Uma garrafa de Leite de Onça custa tão caro que você tem a impressão que ali dentro tem ouro. Uma garrafa de cerveja a Cr$ 30,00. Então, as escolas de samba hoje, apesar de serem consideradas, até por decreto, como de utilidade pública, não é de utilidade pública coisa nenhuma. Elas são pequenas empresas. Onde é que está a utilidade pública? São empresas, não são mais de utilidades públicas. Você paga no primeiro passo que você dá dentro do terreiro, verdadeiras casas de comércio. Então, as escolas de samba estão sujeitas a influências, isso, todos nós estamos sujeitos a influências.

JBR – Bom, isso também foi dito pelo Paulinho e pelo Candeia, que ninguém tem ilusão de que as escolas voltem a ser o que eram há muitos anos. Eles acham que apesar dos compromissos com turismo, comprometimento de ordem financeira e tudo mais, a estrutura interna das escolas não deve sofrer alteração. Acontece que as escolas estão se transformando também internamente, na sua essência, lá dentro.

EM – É claro. Eu vou chegar onde você quer. O que ocorreu foi o seguinte.

JBR – Peraí, só pra acabar meu raciocínio. Eu quero dizer que, por exemplo, a Riotur interfere bastante em todo esse processo, a partir do momento em que ela mantém contratos de prestação de serviços com os sambistas, mas ela não vai lá dentro do terreiro da escola, determinando qual samba-enredo que vai representar a agremiação, ou determinar se fulano ou beltrano farão ou não parte da Ala de compositores da escola, certo? Ela não diz, por exemplo, que o samba vencedor deve ser o do Jair Amorim e do Evaldo Gouveia, entende?

EM – Certo, mas eu quero dizer pra você porque existe esse processo de permissividade dentro das escolas. Isso ocorre por causa da inflação existente hoje nas escolas. Então, um grande passista, um grande mestre-sala, um grande diretor de harmonia, descobriram que para comprarem uma fantasia cara, basta que eles trabalhem como garçons ou roleteiros nas escolas. Então, ele se evadiu do terreiro da escola de samba para a roleta, ele se transferiu do terreiro das escolas para servir nas mesas. Deixou de ser sambista para ser roleteiro, para ser garçom, pra ser cozinheiro, porque ele sabe que dentro da escola de samba ele recebe dinheiro sem se aborrecer a troco de nada, vamos dizer assim como uma troca. Uma compensação financeira. É isso exatamente, uma compensação financeira. Então, ele prefere trabalhar de garçom. Quem perde com isso? Um grande mestre-sala deixa de dançar para servir cerveja. Perde-se um grande mestre-sala e ganha-se um mau garçom, perde-se um grande tamborinista e ganha-se um péssimo roleteiro que, às vezes, trata mal o usuário, porque ele está revoltado. Nos seu subconsciente ele sabe que ali não é o seu lugar. Ele pode desconhecer as causas, ter consciência do porque de ele estar ali, mas ele, no fundo sabe que ali não é o seu lugar, ele fica revoltado.

Então, é por isso que digo que escola de samba hoje, a situação dela é muito profunda. Escola de samba hoje deve ser e pode ser objeto de estudo sociológico, político, econômico, etc. Psicológico também, porque o comportamento de um “roleteiro” desses é digno de ser estudado por um psicológico e por um sociólogo também. A inflação, o alto custo da fazenda, da fantasia, aliás, do instrumental, da bebida, porque antigamente a escola de samba foi criada para oferecer um divertimento barato. A partir do momento que esse divertimento está caro, esse elemento quer permanecer. Porque ele acha que é filho daquilo, ou acha que os avós dele foram os criadores daquilo e eles acham que o ambiente deles é aquele.

Então, eles querem permanecer ali, mas não sabem mais como permanecer ali, sentindo-se bem, então, passam a disputar um lugar de garçom e de roleteiro. E aquele que não consegue esse lugar, porque a escola não pode ter tantos garçons e tantos roleteiros, então eles passam a fazer comércio com a ala da escola. Eles vendem uma vaga na ala, vendem uma ala para outro. O cara tem uma ala que é famosa, por exemplo, a ala das marquesas, vamos dizer assim, essa ala é famosa, então, o líder da ala, vende um “título” oficial, quer dizer, sem registro de título oficial, nada disso. Vende por dez mil, acho que tá por aí o preço. Então, eles estão vendendo tudo, inclusive, a cultura deles. Estão vendendo a sua própria cultura. É o que vem ocorrendo nas escolas de samba. Então, um componente que não é iniciado em escola de samba, e nunca se dedicou ao samba, mas que muito marotamente já percebeu que samba-enredo já está sendo objeto de cobiça do comércio musical, o que ele faz? Ele também já chegou à escola de samba. Os chamados colunáveis, foram os primeiros a chegarem às escolas de samba. Porque há pessoas que não vêem seus nomes na coluna social, e para essas pessoas, a realização máxima é ter os seus nomes nas colunas sociais. Esse me parece ser o objetivo de muita gente que hoje está, por exemplo, na Portela, como é o caso do Hiram Araújo. São pessoas minhas amigas, o Hiram, Carlos Lemos, Pederneiras, são elementos que, sabe... O Hiram é médico, o outro é jornalista, o outro dentista, então eles querem se ver citados numa coluna social. E, como eles não têm o outro meio de chegar à coluna social eles se utilizam das escolas de samba para atingirem os objetivos deles. Então, o compositor que nunca se dedicou à escola de samba, percebendo que o samba-enredo hoje...

JBR – Bom, se dá destaque prum médico, dá muito mais para um compositor né?

EM – Exato. Dá porque o colunista social quando faz uma citação de uma determinada pessoa na coluna social, ele dá a entender ao leitor dele que está bem por dentro dos outros componentes das escolas de samba. Então, ele cita nomes de pessoas da comunidade, o lado desses que estão procurando promoção pessoal. Pra dizer – que está a par da vida da escola. Então, o compositor de classe média que nunca se dedicou à escola de samba, percebe que é um acordo meio de divulgação, não só pessoal como profissional. E, chega trazendo vícios dos meios de divulgação do comércio musical, a chamada caitituagem paga, que já está dentro das escolas de samba. Então, hoje, o compositor que não é de escola de samba mas que já conseguiu numa ala de compositores, paga, porque ele sabe que para cantar samba-enredo e preciso ter determinadas... Um tipo de interpretação à qual ele não está acostumado, exige sacrifício de quem canta, porque às vezes um puxador de samba fica mais de uma hora cantando um samba-enredo, então, ele paga a elementos da escola de samba para fazerem isso. É a chamada caitituagem paga, um vício do comércio musical.

JB – Depois, o próprio sambista tem de pagar aos colegas para poder cantar o seu samba. Quer dizer, o elemento natural da comunidade vê-se obrigado a entrar no esquema de caitituagem, para que, por exemplo, a bateria toque durante a apresentação de seu samba, do contrário vai cantar sozinho. É o começo da desunião, certo?

EM – Perfeito. Então, está dividindo a escola. Esses vícios de caitituagem que estão sendo trazidos para as escolas de samba estão provocando a desunião dentro da escola de samba. Tá dividindo a escola. Então, se não pagar a bateria e um determinado número de coristas para cantar o samba-enredo, o puxador de samba terá de cantar sozinho. Você está percebendo que quem tem maior poder aquisitivo é que está mandando hoje na escola de samba. Então, o sambista está em último plano. E o samba também. Fica o sambista marginalizado dentro de seu próprio ambiente. Ele hoje é garçom, varredor da sede, roleteiro, carpinteiro, só não é sambista. Tudo que ele pode fazer dentro da escola de samba para tirar proveito, ele vai fazer. Ganhar dinheiro, ele se acha no direito de tirar proveito também daquilo que ele criou. Mas, acontece que esse proveito que ele tira é muito menor do que o tirado por aqueles que se promovem através de colunas sociais, sendo citados como ilustres médicos, ilustres jornalistas, então, são pessoas que procuram chamar a atenção da sociedade de um modo geral. E, não há dúvida que isso tem reflexo na profissão deles, só traz benefícios, profissionalmente falando.

Agora, o sambista que era um excelente passista e que passou a varrer, esse não vai se promover como um grande varredor, porque isso é subemprego e subemprego é o que mais existe hoje em dia, aqui. Ser promovido como um integrante de uma classe de subemprego, isso não leva a nada. Porque até a invasão dessa turma de classe média no meio do samba, o sambista, o cenógrafo, que hoje é chamado de carnavalesco, ele dava vazão às suas tendências artísticas. Mas hoje, o elemento natural da escola de samba não faz mais o carnaval, porque o carnaval hoje é feito por um grupo de acadêmicos liderados por um professor deles, geralmente é assim, ele não faz mais samba-enredo, porque esse negócio eclodiu agora com a Portela, a tomada do samba-enredo foi oficializada agora com a Portela, então, ele não é mais destaque, porque o destaque nunca teve sentido de ostentação, que aos poucos esse sentido foi crescendo dentro da escola, e hoje o destaque...

14 de junho de 2008

Adeus Jamelão

O mangueirense José Bispo, o popular Jamelão, partiu aos 95 anos de idade nesta madrugada de sábado.
Que descanse em paz.

13 de junho de 2008

Bula da Cumbuca

Logo mais, à noite, tem uma boa roda de samba no Kabul, um agradável bar situado numa travessa da Avenida Consolação. É o Bula da Cumbuca, integrada pelos já anteriormente citados aqui Edu Batata, Paulinha Sanches, Paulinho Timor, Marcelo Homero, além do pandeirista Kaká Sorriso e do excelente Luis To Be no sete cordas.

O Kabul fica na Rua Pedro Taques nº 124. Couvert artístico: 10 reais. A roda começa lá pelas 22 horas.

10 de junho de 2008

As belas melodias de Anabela


Dona Ivone Lara foi a primeira mulher a compor um samba-enredo para uma escola de samba, o Império Serrano. Antes disso, já fazia, escondida, seus sambas de terreiro. Compunha e jogava na mão de seu primo Fuleiro, o mestre, que apresentava, sempre com grande sucesso, nas rodas de samba. Bem antes dela, Dolores Duran também fazia história ao compor suas próprias canções que interpretava.

A história de compositoras talentosas de samba no Brasil ainda é curta. A grande maioria das boas intérpretes de samba são exclusivamente cantoras e não arriscam tirar a sorte com as melodias e poesias. Recentemente tivemos a grata surpresa da Teresa Cristina, que também é compositora. Mas o melhor ainda estava por vir. E veio.

Há alguns meses atrás, tive o prazer de ouvir uma composição de Roberto Didio e Renato Martins, chamada “O mar e o amor” interpretada pela excelente cantora Anabela, do Núcleo de Samba Cupinzeiro, de Campinas. Uma beleza! Pouco tempo depois, fiquei sabendo que o CD do Cupinzeiro (do qual ainda irei me aprofundar mais em outra ocasião) estava no forno e que Anabela, além de cantar, teria algumas composições no disco.

No começo desta semana, finalmente, escutei com toda a calma do mundo o maravilhoso trabalho do Cupinzeiro. E qual não foi meu espanto ao ver que a belíssima cantora também é compositora de mão cheia. E excelente instrumentista!!!

Inerte, sentado no sofá com o encarte do álbum na mão, consegui me transportar para uma roda de samba lá em Barão Geraldo, que ainda não tive o prazer de conhecer. Refleti e senti que o espírito da roda de samba, que é o que nutre de vida e emoção o samba, está presente nas composições de Anabela.

Em “O samba chama”, ela interpreta sua composição, além de bater o surdo com muita categoria. Vale a pena escutar.

O samba chama (Anabela)

Nego, eu fui ao samba
Fui para ser a sua companheira
Porém cheguei mais tarde
Me deste uma rasteira

A dama era linda
Que graça, que beleza
Você fazia mestre sala
Exaltando as formas
Dando bandeira
Triste é saber
Que dançaste com outro alguém
Não vou lhe perdoar
Companheira de orgia
Não mais serei

Minha bandeira
Eu não vou guardar
Descobri que não sou sua
Pode acreditar
Sou do samba que sempre chama
Ele não me abandonará



3 de junho de 2008

O samba paulistano

A Paulicéia já foi chamada de “túmulo do samba” por Vinícius de Moraes, o poetinha. Até hoje, muitos cariocas não admitem (ou fingem não acreditar) que paulista saiba fazer samba. A levada é diferente, as raízes de um lugar são diferentes das raízes do outro, a melodia, a harmonia, a inspiração, tudo varia de um lugar para o outro. É preciso ir atrás, resgatar, descobrir, garimpar novos talentos do samba na cidade de São Paulo. Entretanto, quando se vive o samba em toda sua intensidade, os nomes surgem. E com eles o samba puro, autêntico, sem deturpações. Do jeito que o mestre Candeia gostaria de ver e ouvir.

Paulinha Sanches, Paulinho Timor, Marcelo Homero e Edu Batata são alguns desses nomes bons de São Paulo. Jovens, talentosos e, acima de tudo, sambistas, valorizam o que há de mais sublime no samba: a cadência, os versos ricos em melodias, a inspiração espontânea e, como não poderia deixar de ser, a harmonia, tanto aquela que vem da música quanto aquela que envolve a todos, nas rodas de samba.

Paula Sanches é uma das mais talentosas e promissoras cantoras que surgiram no meio do samba nos últimos tempos em São Paulo. Diferente das jovens cantoras de MPB que pipocam por aí (e que cantam qualquer coisa, sem uma linha específica), Paulinha é uma cantora romântica. Romântica no sentido mais puro da palavra: é uma cantora de samba porque ama o samba, porque vive o samba e porque cultua o samba. É uma sambista da linhagem de Isaurinha Garcia, Linda Batista e Carmen Miranda. Suas interpretações marcantes de sambas sincopados do passado a diferenciam das outras “sem linhagem”. No samba “Não Bula na Cumbuca” de Paulinho Timor, ela esbanja categoria. Gravando com descontração, como se estivesse numa roda de samba na “Meirinha”, Paulinha mostra pra que veio: pra continuar o legado riquíssimo do samba, para mostrar que há novas (e boas) cantoras de SAMBA surgindo e, principalmente, para tocar a sensibilidade humana com interpretações de sambas tão comoventes. Uma cantora de categoria, uma sambista de S maiúsculo.

Quem interpreta a outra composição de Paulinho Timor, “Aquela Maria” é o sambista Marcelo Homero. Cantor, ritmista dos bons e compositor, Marcelo é um dos fundadores do Projeto Nosso Samba, de Osasco, que tem como propósito resgatar e preservar o samba de terreiro autêntico e atualmente toca surdo e canta no conjunto Inimigos do Batente, além de fazer uma roda por semana com os amigos Paulinho Timor, Paulinha Sanches, Edu Batata e Kaká Sorriso no Clube Etílico Musical, o famoso bar da Meirinha, na Vila Madalena. Marcelão já acompanhou nomes como Wilson Moreira, Germano Mathias e Tantinho da Mangueira, além de outras feras do Rio e de São Paulo. Seu timbre de voz é inconfundível e sempre surpreende os apreciadores de samba mais exigentes com seu repertório de sambas “lado B”. É um monstro do samba.

O compositor destes dois sambas chama-se Paulo Leal Ferreira Vargas Netto, mas é conhecido nas rodas de samba como Paulinho Timor. Apesar da pouca idade (25 anos), tem experiência de sobra no mundo do samba. Afinal, não é qualquer um que já tocou tamborim com Monarco, versou com Wilson Moreira e comeu os quitutes da Tia Surica... Paulinho é compositor dos bons. Seus amigos mais próximos sabem cantar de cor e salteado dezenas de (bons) sambas que nunca foram gravadas, mas ficam para sempre na memória do sambista. E ficam na memória apenas porque emocionam e tocam no fundo da alma da gente. Batuqueiro nato e cavaquinista por diversão, ele também já acompanhou muitos bambas pela estrada da vida afora. Uma de suas maiores emoções foi acompanhar o mestre Roberto Silva, de quase 90 anos, numa roda memorável no bar Ó do Borogodó. Esse promete.

Por fim, falaremos do cantor, cavaquinista e compositor Eduardo Luiz Ferreira, o Edu Batata. Diretamente de Pirituba, zona oeste de São Paulo, esse mestre do cavaco comove com seus floreados e acordes divinais todos que tem o samba como ideal e paixão maior na vida. Tocando com os Inimigos do Batente, com o Samba Rahro, na roda de samba semanal da Meirinha ou com os amigos, Edu toca seu cavaco com um sorriso estampado no rosto. Sorriso esse que parece se misturar com os acordes que ressoam de seu cavaquinho e contagia a todos. Ao longo de sua carreira, já acompanhou grandes personalidades do samba como Monarco, Jair do Cavaquinho e Xangô da Mangueira. Seu coração é cheio de amor como suas composições são ricas em melodia.

Meu pinho (Edu Batata / Airton Weckerlin)

Quando abraço meu pinho e vejo um novo caminho
Pra essa dor de mudar
Pois é dentro do peito que ela quer se instalar
Mas quando te acaricio, as notas que soam vêm pra amenizar Trazendo junto a mim uma imensa alegria
Inocente, tão singular (2x)

Belos acordes e sons que até a passarada faz invejar
Miraculoso remédio que tira o tédio quando o ouvido apura
Luz que ilumina meu ser me devolve esperanças
Rica és tua melodia, claves soltas pelo ar
Agonias que somente você, ó meu pinho, pode entoar
Vou lhe render homenagens, vou lhe aclamar
Pra Rafael, Luizinho e Dino gostar

Remador de todas as marés Maurinho de Jesus / Edu Batata)

Meu samba é remador de todas as marés
Ao ver o amor que desaguou num imenso mar
Se agitou feito as ondas que a tempestade provocou
Me dá inspiração que transformo em papéis
Pois é remador de todas as marés

Meu samba não tem fronteiras
Supera barreiras, cruza continentes
Não teme as cordilheiras
Os pólos gelados, desertos mais quentes
Meu samba não se entrega
Ele forte, navega
Não vai naufragar
Num mar de tranqüilidade, espiritualidade
Ele vai ancorar

Meu samba tem seus critérios
Possui seus mistérios
Pois é divinal
Vem com as gotas de orvalho
Os pingos da chuva
Com o temporal
Vai mergulhar no oceano
Diluindo assim minha desilusão
E emergir apaixonado
Assumindo o leme dessa embarcação

Semente de Donga (Edu Batata)

Sou o brilho forte que clareia
E une um amor ao ideal
Só quem é do samba o traz na veia
Luta para o bem vencer o mal
Sou o filho dos morros e favelas
Do jongo e dos bambas imortais

Sou, sou samba raro, sim senhor
Semente que Donga plantou
Raiz que envelhece, mas não morrerá jamais
Sou o tronco que frutificou
Sou vaso ruim de se quebrar
Deixa essa cadência te levar

Senhora da Doçura (Edu Batata)

Comprei flores e rosas para lhe ofertar
E bate cabeça no congá
Com ervas me banhei, na gira não girei
mas missangas comprei pra te adorar

Velas brancas e rosas pra glorificar
vou pedir maleme a Oxalá
Nas matas me embrenhei
Mas Oxossi escutei
Salve a Mãe da Doçura e do Amor

Mãe dos Amores, ouro de lá, de além mar
Vaidosa nas cores, belo orixá (2x)

E a canção que fiz foi pra Oxum
Salve Nossa Senhora Conceição
Que nunca faltem flores para Oxum
Para não faltar amor no coração

Vou me procurar (Edu Batata)

Vou me procurar entre velhas cinzas do passado
Quem sabe, nelas remoendo, me encontre de novo
Estou perdido na poeira, desorientado
Pisando descalço em pregos, espinhos, estorvos
Tingido os olhos de vermelho, um dia eu vi
Meu rosto refletindo no espelho da dor
No peito cheio de remorso
Entre mil destroços, quase sucumbi
Sem rumo, sem riso, sem chão, sem amor

Sentindo um vento gelado batendo em meu rosto
Cortando minha face, uma lágrima cai
Tristes lembranças aumentam ainda mais meu desgosto
Rancores, tantos dissabores, amarguras não saem

Eu vivo perdido no tempo sentindo uma dor atroz
Carrego só ressentimentos
No silêncio da noite, meu grito é feroz
Minha alma reclama cansada
Meu corpo agoniza em dor
Eu sou a lâmpada apagada, pintura que perdeu a cor

Preciso me achar, vou me procurar, eu vou (2x)
Entre velhas cinzas do passado

Ficha técnica dos sambas do Edu Batata:

Voz: Edu Batata
Violão: Wesley Ferreira
Violão de 7 cordas: Wesley Ferreira
Bandolim: Getúlio Ribeiro
Percussão: Hildo Rodrigues
Participações: Samba Rahro, Rodrigo Pirituba, Kiko Dinucci, Paulinha Sanches, Paula Klein, Railídia Carvalho, Dulce Monteiro e Mara

Não bula na cumbuca (Paulinho Timor)

Toca marimba, não bula na cumbuca
Segura a moringa, não deixa cair
Se o meu bolso pegou fogo
Se eu não dei sorte no jogo
Se o canário tava rouco
O que é que eu vou fazer?
Vou ficar no meu canto
Sem nenhum espanto
Na bola de meia pra não me atrasar
Se a coisa tiver feia eu vou pra casa
Eu não sou brasa para me esquentar

E o axé vem
Vem lá da Bahia
Vem trazendo muita alegria
Nessa pegada, viro duas madrugadas
Na levada da viola que meu samba tem

Voz: Paulinha Sanches
Caixa de fósforo: Paulinho Timor
Rebolo: Marcelo Homero
Pandeiro: Kaká Sorriso
Cavaco: Edu Batata
Violão de 7 cordas: Luiz Tchubi
Clarinete: Alexandre Ribeiro

Aquela Maria (Paulinho Timor)

Vocês conhecem aquela Maria
Ai se um dia ela me quisesse bem
Faria tudo o que ela pedisse
Mesmo achando tolice
Mesmo que não me convém
Pois quando ela passa eu acho graça
Ai se ela achasse graça em mim também
Maria dos meus sonhos encantados
Fique ao meu lado que viverás muito bem

Iríamos para França, para Itália e Portugal
Para Cancún, Noronha, todo nosso litoral
Camarão, lagosta, eu mesmo cozinhava
A sobremesa ela escolhia, eu mesmo que preparava
E se ela gostasse de um belo souvenir
Eu daria mesmo tudo
Eu daria mesmo sem ela pedir
E se ela gostasse de um belo souvenir
Eu daria mesmo sem ela pedir

Voz: Marcelo Homero
Rebolo: Paulinho Timor
Pandeiro: Kaká Sorriso
Cavaco: Edu Batata
Violão de 7 cordas: Luiz Tchubi
Clarinete: Alexandre Ribeiro

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