30 de janeiro de 2013

Plínio Marcos e Os Pagodeiros da Pauliceia

Hoje, na coluna "Batucando", do site Nota de Rodapé, uma homenagem a Plínio Marcos, sambista da pesada da Pauliceia. Confira!

Ilustração de Kelvin Koubik.

29 de janeiro de 2013

Um artigo de Mano Décio da Viola

Dados dos carnavais antigos na "Praça Onze de Junho", por Mano Décio da Viola (publicado no encarte do disco "História das Escolas de Samba, volume 8", em 1976)


24 de janeiro de 2013

Tristeza (A tristeza me persegue) (Heitor dos Prazeres - João da Gente)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA

"A tristeza me persegue
Ora, vejam que martírios meus 
Muito embora na orgia 
Eu não tenho alegria"

Os versos de Heitor dos Prazeres contagiavam os sambistas de Oswaldo Cruz. Era um legítimo samba de terreiro, curto, contagiante, feito de apenas uma parte. A segunda, os versadores, hábeis na arte da improvisação, e dotados de voz possante, é que davam o recado. Havia um que era especialmente bom: João da Gente. 

Heitor dos Prazeres era sambista que tinha trânsito no asfalto e no morro - no caso da Portela, roça, mesmo, já que na primeira metade do século passado, a urbanização ainda não havia chegado às regiões afastadas de Oswaldo Cruz. Foi levado para a agremiação azul e branca pelas mãos de Paulo da Portela e, bamba que era, emplacou grandes sambas naquele terreiro. Como também era personagem de destaque do cenário do samba "da cidade", gravava muito, levando, eventualmente, alguns sucessos de sua Escola para a cera dos 78 rotações por minuto. 

O samba "Tristeza (A tristeza me persegue)" foi gravado em 1930, por Januário de Oliveira, em uma época em que os registros ainda tinham grande influência do maxixe - logo suplantado pelo ritmo desenvolvido no Estácio de Sá, que persiste até os dias de hoje. 

Este ritmo quente já se faz presente, com tamborins afiados, na gravação de Roberto Paiva, de 1944. Esta versão, no entanto, traz como parceiro de Heitor dos Prazeres, ao invés de João da Gente - que criou os versos registrados na gravação original -, o compositor Herivelto Martins. 

Heitor modificou a primeira parte e Herivelto criou uma nova segunda. O samba ficou assim:

A tristeza me persegue
Aumentando os sofrimentos meus
Vai-se a noite e vem o dia
E eu não tenho alegria (eu, não)

Deve haver um responsável
Pela minha solidão
Sempre existe algum culpado
E a tristeza é de um coração

Quando Paulinho da Viola reuniu a Velha Guarda da Portela e concebeu o disco "Portela Passado de Glória", João da Gente regravou o samba, com a primeira parte original e outros versos de improviso. Depois a música seria gravada, ainda, duas vezes: por Zeca Pagodinho, em 1998, e por Nilton Paes, em 2003.

Escute, abaixo, as três primeiras gravações da música.

Tristeza (A tristeza me persegue) (Heitor dos Prazeres - João da Gente) canta Januário de Oliveira - 1930
A tristeza (Heitor dos Prazeres - Herivelto Martins) canta Roberto Paiva - 1944
Tristeza (A tristeza me persegue) (Heitor dos Prazeres - João da Gente) canta João da Gente - 1970

 

10 de janeiro de 2013

Os sons dos negros no Brasil (José Ramos Tinhorão)


Quando Joaquim Callado compôs “Flor Amorosa”, por volta de 1870, e o classificou como choro, nasceu a música popular brasileira. Muito se estudou sobre os anos que se seguiram, muito se escreveu sobre os gêneros populares que surgiram a partir daí, mas pouco se pesquisou sobre o que antecedeu o nascimento da nossa música popular. Os documentos e estudos anteriores a esta data são escassos e a raiz negra da música brasileira era vista com extremo preconceito por parte da elite branca “civilizada” – cabe destacar que, quando Joaquim Callado criou a melodia brejeira do seminal choro, vivíamos, ainda, sob a égide da escravidão.

Disposto a destrinchar as raízes negras de nossa música, no entanto, o pesquisador e musicólogo José Ramos Tinhorão foi atrás da parca documentação existente entre os séculos XVI e XIX sobre as influências africanas na gênese de nossos ritmos populares e analisou o surgimento e desenvolvimento dos autos, folguedos e cantos de trabalho dos negros no Brasil.

Valendo-se de relatos de viajantes, cartas de missionários, manuscritos, poemas satíricos e até mesmo refazendo traduções mal-feitas e descobrindo novos significados em documentos que passaram batidos pela historiografia tradicional, o autor cumpriu, com louvor, tal propósito. Fruto desse minucioso trabalho de pesquisa, o livro “Os sons dos negros no Brasil – Cantos, danças, folguedos e origens” é obra indispensável para quem deseja conhecer melhor as origens de nossa cultura popular.

O livro é divido em quatro partes. Na primeira delas, o autor traça, com detalhada riqueza de informações, fruto de pesquisas em documentos do século XVI, o início da presença negra no Brasil – antes mesmo da determinação, por parte da Coroa Portuguesa, do uso ostensivo de escravos africanos em nossa terra, os fidalgos que por aqui desembarcavam já se valiam do uso de negros para trabalhos domésticos.

À época da conquista portuguesa das terras brasileiras, já era numeroso o contingente de cativos a serem explorados no país europeu, pioneiros na triste prática da escravidão, em larga escala, de habitantes do continente negro. As cartas destes lusitanos que por aqui chegavam, relatos da incipiente dominação promovida no Brasil, são as principais fontes de pesquisa do atento pesquisador.

A segunda parte, “Músicas,danças e cantos de negros”, trata do surgimento da música negra profana, dessacralizada, surgida daquilo que se chamava, genericamente, de batuques. As músicas religiosas trazidas pelos negros da Mãe África, aos poucos vão perdendo o caráter sagrado e, do caos sonoro que se caracterizava em sua origem, vão ganhando canto e dança, gerando novas estruturas rítmicas e melódicas, que logo caem no gosto das classes populares – às vezes, alcançando, até, os salões.

É interessante notar que o fado e a fofa, música e dança nacionais portuguesas, respectivamente, tiveram origem no Brasil, mas se estabeleceram e se desenvolveram no país europeu, desaparecendo por completo por aqui. O fado é brasileiro. Por aqui, no entanto, foi concebido como dança, e, ao ganhar canto e estruturas melódicas e rítmicas na Metrópole, tornou-se música popular. Já o lundu também atravessou o continente, mas não chegou a cativar os lusos como cativou os brasileiros – por aqui, também se transformou de dança para música, o lundu-canção.

O samba primitivo, assim como outros cantos e danças originadas do batuque africano, tinha como peculiaridade o uso da umbigada (semba, em quimbundo). Cultivado em áreas rurais, deu origem ao partido alto e à batucada, no Rio de Janeiro. Cultivado paralelamente ao tango brasileiro - o tanguinho - e ao maxixe, na então Capital Federal, ganhou sua roupagem definitiva com os negros do Estácio de Sá bem depois, já na década de 1930.

Cabe ressaltar que diversos ritmos e festejos espalhados pelo Brasil eram chamados de samba, já que o uso da umbigada era comum a estas manifestações culturais. Explica Tinhorão: “A paganização definitiva dos antigos batuques africanos, afinal transformados desde fins do século XVIII em simples diversão de escravos, crioulos, mulatos e gente das baixas camadas, não apenas permitiu o aproveitamento de um de seus momentos coreográficos, sob o nome de lundu, mas acabou conferindo ao próprio batuque o nome de samba, quando o elemento angolano da umbigada veio neles prevalecer”.

Segundo o autor, ao detalhar o legado da musicalidade negra à música popular brasileira do século XX, “os negros, mestiços e brancos das classes mais baixas continuaram herdeiros do batuque, cultivando até hoje a batucada, o bate-baú, o lundu, o coco, o caxambu, o jongo, o tambor de crioula, e todas as modalidades surgida no calor dos sambas. Inclusive o próprio samba e o velho partido alto, ainda tão populares e tão cheios de sabor que a própria indústria de massa não hesitaria em revivê-los comercialmente na década de 1980 sob o nome de pagode.” Cabe destacar que o livro foi publicado em 1988, época em que o chamado "samba de raiz" agonizava nos meios radiofônicos e fonográficos.

“Autos e folguedos negros” e “Os cantos de trabalho dos negros da cidade e dos campos” completam a análise sobre as origens da musicalidade negra em nosso país pelo musicólogo marxista. Ao analisar as congadas, José Ramos Tinhorão volta à África e analisa como o Reino do Congo legou um folguedo a Portugal e, depois, ao Brasil. De acordo com o musicólogo, do primitivo auto de coroação dos reis de Congo surgiram vários outros folguedos, como os maracatus do Recife, os afoxés da Bahia, as taieiras de Sergipe, os cambindas da Paraíba e os moçambiques do Centro-Sul.

Finalmente, o livro aborda os cantos de trabalho, praticados ainda no continente negro e trazidos para o Novo Mundo pelos negros escravizados. Alguns deles chegaram aos dias atuais graças ao brilhante disco “O Canto dos Escravos”, de Geraldo Filme, Clementina de Jesus e Tia Doca. O trabalho foi lançado no início dos anos 80, mas o autor não chega a citá-lo no livro - Tinhorão apresenta, no entanto, alguns cantos recolhidos por Aires da Mata em "O Negro e o garimpo em Minas Gerais", que foram registrados no disco lançado pela Eldorado em 1982. 

“Os sons dos negros no Brasil – Cantos, danças, folguedos e origens” é mais uma brilhante contribuição de José Ramos Tinhorão para a memória sociocultural do Brasil. Ao vasculhar documentos e destrinchar os caminhos sonoros percorridos pelos negros no Brasil Antigo, o autor dá subsídios para futuras pesquisas musicais, que, certamente, abarcarão, com mais riqueza, este período da “pré-história” da música popular brasileira.

Os sons dos negros no Brasil – Cantos, danças, folguedos e origens
José Ramos Tinhorão
Editora: 34
Ano: 2008 (1ª edição: 1988)
Preço: 39 reais

4 de janeiro de 2013

O samba carioca de Wilson Baptista

Dando início às homenagens ao centenário de Wilson Batista, celebrado neste ano de 2013, reproduzo aqui uma resenha sobre o disco "O Samba Carioca de Wilson Baptista", publicada em julho de 2011 na revista Carta Capital. Segue o texto na íntegra, sem cortes.

Garimpo, em tempo

Wilson Batista, autor de clássicos do carnaval (do samba e da MPB) como “Emília”, “Bonde São Januário” e “Oh, Seu Oscar”, teve o primeiro samba gravado, “Por favor vai embora”, há 79 anos. Desde então, dezenas de intérpretes de várias gerações registraram suas canções. Mas faltava um trabalho de “garimpo” em sua obra à altura de sua importância para a música brasileira.

O Samba Carioca de Wilson Baptista, esmerado projeto de pesquisa de Rodrigo Alzaguir, homenageia o sambista com um álbum-tributo (duplo), trazendo composições inéditas (nove), registros caseiros raros (dois) e um musical (na íntegra). São crônicas, que retratam o Rio Antigo, o samba, a malandragem, o trabalho e as mulheres. Um resumo da biografia do artista.

O álbum é dividido em duas partes. O Disco Um é a “Reserva Especial”, que traz uma seleção de músicas raras, inéditas ou jamais regravadas. Participam das gravações: Cristina Buarque, Elza Soares, Wilson das Neves, Samba de Fato, Nina Becker, Rosa Passos, Marcos Sacramento, Tantinho da Mangueira, Teresa Cristina, Céu, Mart'nália, Zélia Duncan, Cláudia Ventura, Rodrigo Alzuguir e Roberto Silva (que conviveu com Wilson Batista e agora, nonagenário, regrava alguns sambas). Destaques para “Não sei dar adeus” (gravada em 1939), parceria com Ataulfo Alves, interpretada por Marcos Sacramento e a marcha-rancho inédita “Nelson Cavaquinho”, por Teresa Cristina.

O segundo disco é o “Espetáculo”. Trata-se da trilha sonora do espetáculo “O samba carioca de Wilson Baptista”, encenado e cantado por Rodrigo Alzuguir e Cláudia Ventura em uma aplaudida temporada nos teatros do Rio. O musical traz passagens da vida de Wilson Batista, seus principais personagens (como Etelvina, Emília, Seu Oscar e Chico Brito), a famosa polêmica com Noel e vários sucessos. 

O Samba Carioca de Wilson Baptista é um disco que foge do óbvio. Ao resgatar a obra, ilumina a biografia do sambista. Resgatando o passado, ilumina o presente, preparando terreno para as futuras gerações de sambistas.


Ano Herivelto Martins

Em 2012, o genial compositor Herivelto Martins completaria 100 anos. Atentos a relevância do fato, sambistas de Belo Horizonte e Ouro Preto realizaram uma belíssima homenagem a este baluarte da música popular brasileira.

Em outubro, escrevi um texto para o site Nota de Rodapé sobre a celebração, que dignificou o nome deste sambista, colocando o nome Brasil 41, definitivamente e com destaque, no mapa do samba brasileiro.



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O Couro do Cabrito by André Carvalho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.
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