8 de março de 2007

Sambas da Bahia - Riachão, Batatinha e Panela (1973)

NA VITROLA

Certa vez, meu amigo Paulinho Timor trouxe-me um disco do Ederaldo Gentil para eu ouvir. Samba da Bahia. “Samba de roda?” perguntei eu. “Não, samba mesmo” ele respondeu. Era samba mesmo. Lindos sambas da Bahia. O samba não nasceu lá, como disse Vinícius de Morais (que também foi infeliz em afirmar que São Paulo era o túmulo do samba). Mas tem muito baiano que faz samba bom. Fiquei muito bem impressionado com Ederaldo Gentil.

Aos poucos, fui travando conhecimento da obra de outro genial sambista baiano, o Batatinha. Nunca tinha sequer escutado uma gravação sua, mas conhecia algumas músicas da roda de samba (Direito de sambar, Toalha da saudade, Depois eu volto...) Do Riachão, eu conhecia alguns sambas (Cada macaco no seu galho, Até amanhã), mas nem sabia que eram dele. O Panela, eu não conhecia.

Batatinha, sambista da Bahia. Sempre ouvi falar muito bem dele. No CD do ENSAIO da TV Cultura, pude conhecer um pouco mais de sua obra. O programa ainda tinha o Riachão e o Ederaldo Gentil. Gostei muito da gravação, só com um violão, caixa de fósforo, pandeiro e outras percussões leves. O samba do Batatinha é muito intimista, com uma cadência lenta e letras, normalmente, sofridas.

Recentemente, eu baixei na Internet a obra completa do Batatinha. São três álbuns solos e este em conjunto com Riachão e Panela. Fiquei encantado com suas composições. Muito harmoniosas. Cadenciadas. Lindas.

O disco em conjunto com os outros sambistas baianos é o seu mais antigo (1973). E um dos mais bem arranjados. Umas das músicas mais belas (em sua melhor versão) é Direito de sambar, um clássico das rodas de samba.

Direito de sambar (Batatinha)
É proibido sonhar
Então me deixe o direito de sambar

O destino não quer mais nada comigo
É meu nobre inimigo
Me castiga de mansinho
Para ele não dou bola
Se não saio na escola
Sambo ao lado sozinho

É proibido sonhar
Então me deixe o direito de sambar

Já faz dois anos que eu não saio na escola
A saudade me devora quando eu vejo a turma passar
Eu mascarado, sambando na avenida
Imitando uma vida que só eu posso enfrentar

Tudo é carnaval
Pra quem vive bem
Pra quem vive mal









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Batatinha ainda tem mais três ótimos sambas no disco. O “samba de protesto” Inventor do trabalho (O tal que inventou o trabalho/ Só pode ter uma cabeça oca/ Pra conceber tal idéia/ Que coisa louca...), a homenagem a Paulinho da Viola, Ministro do samba (...o samba bem merecia/ ter ministério algum dia/ então seria ministro/ Paulo César Batista Faria) e o também clássico Diplomacia (Meu desespero ninguém vê/ sou diplomado em matéria de sofrer...). Lindos sambas.

Tão bom quanto o Batatinha é o Riachão. Um malandro de marca maior. Seus sambas são diferentes dos sambas de Batatinha, Ederaldo Gentil e Panela. Estes fazem um samba bem próximo do samba carioca. Aquele samba que nasceu no Estácio de Sá. Já Riachão flerta com o samba de roda, com a chula raiada, o partido alto... Basta ouvir, por exemplo, o samba Cada macaco no seu galho:

Cada macaco no seu galho (Riachão)
Chô, Chuá
Cada macaco no seu galho
Chô, Chuá
Eu não me canso de falar
Chô, Chuá
O meu galho é na Bahia
Chô, Chuá
O seu é em outro lugar

Não se aborreça moço da cabeça grande
Você vem não sei de onde
Fica aqui, não vai pra lá
Esse negócio da mãe preta ser leiteira
Já encheu sua mamadeira
Vai mamar em outro lugar










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Os outros sambas seus (têm outros seis no álbum) também são ótimos. Meu destaque pra Pitada de tabaco e Até amanhã. Esta última (Até amanhã/ Até amanhã se Deus quiser/ Eu vou me embora/ Vou rever minha mulher/ Até amanhã/ Até amanhã se Deus quiser/ só vejo homem/ Neste samba não dá pé) é sempre interpretada quando o samba está murchando. Naquela hora que não sobra nem uma cabrochinha para fazer o coro e para sambar... Esta é a hora de cantar o samba do Riachão e depois ir embora.

De Panela, não posso dizer muita coisa. Não o conhecia. E agora conheço só um pouco, afinal ele só canta duas músicas... O patrão é o meu pandeiro e Não suje meu caixão. Os títulos são sugestivos. São bons sambas. Gostei muito de Não suje meu caixão. Um samba de malandro:

Não suje meu caixão (Garrafão/ Panela)

Eu não quero você nem para pegar na alça do meu caixão
E hoje vive sofrendo, você foi a culpada da separação
Fiz tudo para ver você feliz
E você me traiu
E diz por aí que o destino não quis

Arrependida hoje pede pra voltar
Mas por favor, não venha me procurar
Chega de ingraditão
Mas eu não quero você nem para pegar na alça do meu caixão










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Um disco de três baianos sambistas. Dos bons.

Avaliação: **** (ótimo)

8 comentários:

Anônimo disse...

Olá André, fico contente de ver cada vez mais pessoas a divulgar a obra do genial Batatinha. Ele foi, sem dúvida, um dos maiores Sambistas Brasileiros (apesar de apenas ter lançado três discos a solo). Gostaria de fazer uma pequena correção na letra da música DIREITO DE SAMBAR, pois o primeiro verso (que se repete mais à frente) é É PROIBIDO SONHAR (e não SAMBAR). Um abraço de Portugal e parabéns pelo interessante blog.

Anônimo disse...

realmente, eu troquei a palavrasa SONHAR E SAMBAR na hora de digitar o texto. Já corrigi. Um abraço

Anônimo disse...

Brasa!

Anônimo disse...

ola andre,

estou buscando na internet algum lugar pra baixar a obra completa de Batatinha e de sambistas da sua epoca.
Caso voce possua alguma coisa e queria compartilhar, vamos conversar melhor
me mande um email em tiagol@gmail.com

forte abraço!

Anônimo disse...

OLÁ, MUITO PRAZER. ME CHAMO DIANA SOUZA, SOU NETA DE PANELA E AGRADEÇO A HOMENAGEM FEITA MEU AVÔ!GOSTARIA DE MANTER CONTATO COM VC, SE VC DESEJAR É CLARO. TE ENVIAREI UM E-MAIL. ARAÇOS!

alexcmb disse...

Outra correção: O samba NASCEU na Bahia. Precisamente no recôncavo. Se voce for lá e procurar direitinho encontra até a certidão de nascimento...

Emmanuelle disse...

Alex Carlyle estou fazendo um documentário sobre a história do samba na bahia e sobre os ícones do samba. Eu queria sabe aonde eu posso encontrar essa certidão de nascimento do samba no reconcavo?

contato: emmanuellerangel@hotmail.com

Emmanuelle Alderigi

Anônimo disse...

Sei que já faz muito tempo deste post...mas DIANA SOUZA gostaria de saber mais sobre a obra do seu AVÔ...você possui algum material?Posso te encontrar em alguma rede social? Ou ter seu e-mail para conversarmos melhor? Agradeço! Obrigada Carla Casarim
Qualquer coisa entre em contato tbm..
ca.casarim@gmail.com

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