30 de janeiro de 2008

Matéria sobre o Mestre Candeia no RJTV

É raro, mas de vez em quando fala-se sobre os grandes sambistas brasileiros que são desconhecidos do grande público na grande mídia. Recentemente, o repórter Tino Marcos fez uma matéria sobre o Candeia, gênio e um dos principais defensores da arte negra e do samba como expressão cultural legítima e autêntica do povo brasileiro.

Segue a matéria do RJTV.


19 de janeiro de 2008

Caxiné

Eden Silva, o Caxiné, foi um dos maiores compositores dos Academicos do Salgueiro de todos os tempos. Um gênio do samba. Também fez muita coisa boa para blocos carnavalescos.

Seus sambas mais conhecidos são Rosa Maria (muito tocado nas rodas de samba dos dias atuaias), parceria com o inseparável Aníbal Silva e interpretado por Gilberto Alves e Tudo é ilusão, também parceria com e Anibal Silva e Tuffi Lauar. Este último samba fez muito sucesso com a Clara Nunes mas foi originalmente gravado por Odete Amaral em 1944.

Rosa Maria (Eden Silva e Anibal Silva)

Um dia encontrei Rosa Maria
Na beira da praia, a soluçar
Eu perguntei o que aconteceu
Rosa Maria me respondeu
O nosso amor morreu

Não sei ainda encontrar qual a razão
De Rosa Maria desprezar meu coração
Eu fazia-lhe todas as vontades
Será que ela tem outra amizade?

Tudo é ilusão (Éden Silva - Anibal Silva - Tuffi Lauar)

Não, não foi surpresa para mim
Porque tudo na vida tem fim
Eu esperei com resignação
O triste dia da separação
Vai meu amor siga o seu destino
Que eu seguirei o meu
Seja feliz, adeus

Nada vive eternamente
Tudo na vida é ilusão
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde
Chegaria o dia da separação

Segue também um samba-enredo da década de 50 gravado pela sua escola de samba. Trata-se de Brasil, Fonte das Musas.

15 de janeiro de 2008

Os "comprositores"

Antigamente, era muito comum o comércio de sambas. Compositores talentosos, mas muito pobres, vendiam suas inspirações, suas ricas melodias, suas belas poesias para poderem terem o que comer. Às vezes (muitas vezes) vendiam para terem o que beber. Muitos sambistas não sabiam que poderiam ganhar dinheiro com direitos autorais. Preferiam ver o dinheiro vivo na hora. O fato é que alguns compositores eram tão talentosos que podiam fazer um novo (e bom) samba a cada dia. Nelson Cavaquinho pagou muitos porres vendendo sambas que acabara de compor.

E se para os compositores do asfalto este comércio era normal, para alguns personagens do morro isto beirava o absurdo. Cartola que ficou espantado quando Mario Reis subiu o Morro da Mangueira para comprar um samba seu. Como poderia vender um samba? Era como vender o canto dos pássaros, a brisa do mar ou o pôr-do-sol... Achou estranho, mas vendeu (não era todo dia que as verdinhas vinham bater na porta de casa).

Os compradores de samba, também chamados de “comprositores”, ora assinavam sozinhos a autoria do samba, ora apenas acrescentavam seus nomes na parceria. Ismael Silva e Nilton Bastos sempre colocavam o nome de Francisco Alves nas parcerias, apesar de o “Rei da Voz” jamais ter composto algo.

Raul Marques, Buci Moreira e Wilson Batista eram os maiores vendedores de samba da época (anos 30). O ponto de encontro era o Café Nice, no centro do Rio, então Distrito Federal. E quem era o maior comprador, o mais tarimbado “comprositor”? Segundo Raul Marques, era um sujeito de nome Miguel Baúza. Ele era seu maior freguês. Baúza comprava muitos, mas muitos sambas da dupla Raul Marques e Buci Moreira, dois dos maiores ritmistas do passado. Mesmo quando ele comprava sambas de outros compositores, sempre pedia o aval para os malandros.

Quem também sonhava ser compositor, mas só tinha talento (leia-se dinheiro) para ser “comprositor” era um indivíduo chamado César Brasil. Raul Marques conta (em entrevista para Sérgio Cabral) que ele tinha tantas letras de samba amontoadas num baú, que sempre precisava comprar queijo para os ratos, pretendendo assim, preservar os velhos escritos, já amarelados, rabiscados pela maladragem em botequins, batucadas afora.

E se houvesse quem vendesse e comprasse, era óbvio que haveria quem roubasse composições. E na maior cara de pau. Sinhô, o rei do maxixe, dizia que “samba é igual passarinho, é de quem pegar primeiro”. Kid Pepe e Benedito Lacerda também pensavam assim. E tinham uma boa estratégia para “assaltarem” os sambistas: ficava o Kid Pepe, valente e boxeador, sentado numa mesa de um boteco e o Benedito Lacerda atrás, com um caderno de partituras e um lápis na mão. Quando alguém cantava um samba para o Kid Pepe, o Benedito anotava as melodias e a letra num papel. Pronto, estava furtado o samba. Se o sambista lesado reclamasse... A navalha de Kid Pepe era sacada de seu bolso. Era o suficiente para que o pobre sambista roubado saísse de fininho.

Com o tempo, os compositores do samba passaram a dar mais valor aos direitos autorais. Mas o folclore da compra e venda (e roubo) de sambas ficou pra sempre (se bobear, deve existir até hoje).

Este video eu achei lá no Balaio do Carl Ole (obrigado). É uma reportagem do Fantástico que trata do assunto já mostrando uma outra época (anos 70)

11 de janeiro de 2008

Djalma Mafra

Djalma Mafra nasceu por volta de 1900 e viveu a vida toda no bairro carioca do Irajá até morrer em 1974. Foi parceiro de ótimos compositores como Ataulfo Alves, Alvaiade, Alcides Rosa, Joel de Almeida entre outros.

Teve seus sambas gravados por grandes nomes como Odete Amaral, Ciro Monteiro, Jorge Veiga e Ataulfo Alves. Há quem diga que ele era do time dos “comprositores”. É possível. Outros bons compositores como Bucy Moreira, Raul Marques e Benedito Lacerda também gostavam de comprar sambas e/ou entrar de gaiato em parcerias. Coisas da época.

Segue o áudio do lindo samba Dentro da Capela, parceria com Alcides Rosa e interpretado lindamente por Ciro Monteiro, o Formigão

8 de janeiro de 2008

Wilson Moreira - Entidades I (2002)

NA VITROLA

O Mestre Wilson Moreira é daqueles compositores que emocionam. Suas palavras sábias sempre me fazem refletir. Suas melodias tocantes me cativam. Sempre.

O álbum Entidades I é fino. Arranjos muito bem feitos pelo grande Paulão 7 Cordas. Músicos de primeira categoria. E por trás de tudo isso, a genialidade do velho Alicate.

Wilson Moreira Serra não é um sambista qualquer. É um dos maiores. Tem tanta facilidade para fazer melodias que, certa vez, seu parceiro Nei Lopes disse que ele é capaz até de musicar bula de remédio.

E ele não faz apenas samba. Seu leque de composições inclui jongos, congadas, calangos e outros ritmos rurais. Heranças familiares.

Neste disco, ele nos oferece belíssimas composições. Em Oloan ele abre o disco pedindo licença às entidades. Belíssima canção:

Oloan (Wilson Moreira)

Ossan, Ossan
Oguirê, oguirê
Toda a iluminação de Orun
Oloan, Odú

Eu vou pedir licença
E vou ao mar
A claridade do dia
Vai me iluminar, ô ô
Me banhar
Vou mergulhar nas águas
E me purificar
No fundo do oceano

Os caprichos de Janaína
A pureza do mar
Oh! Mãe Rainha Iemanjá

Wilson sempre faz sambas que lembram suas origens, seus antepassados. Noites de Luanda cumpre esse papel.

Noites de Luanda (Wilson Moreira)

Taí, senhores
Tudo que eu trouxe de lá
Alegria e muitas flores
De onde vi meus amcestrais
Noites lindas de Luanda
Minha terra, meus amores
Cantada em forma de canto
Meus encantos

Toque os tambores
Congas, atabaques
Afoxés

Taí, senhores
Tudo que eu trouxe de lá
Objetos de valores
Pra quem tem amor pra dar
Muitas prendas verdadeiras
Para mulher companheira
São verdadeiros amores
Meus valores



Ele é um sujeito muito sábio. Algumas de suas letras vêm carregadas de ensinamentos para a vida. Confesso que me emocionei quando escutei pela primeira vez Procure ser gente.

Procure ser gente (Wilson Moreira)

Espere um dia
Ver você vencer
Mas você não tem jeito
Não procura crescer
Tudo na vida só depende da gente
Na hora da partida é bom sair na frente

Ta caindo chuva
Vem, recolhe a roupa
Pega na canoa
Que hoje vai ter enchente
Olha aí a poça, arregaça a calça
Pega a mão da moça
Pra ela não se molhar

Olha a lama, gente!
Cuidado com a poça
Pega na canoa, que já vem enchente
Olha esse nego malandro
Ta de corpo mole
Não segura o tombo
Vem trabalhar no quilombo
Mostra a sua fibra
De bom competente

Nêgo, vê se me dá alegria
Procure ser gente, acabou a orgia
Nego, desperta pra vida
Sai dessa moleza, mostre esperteza
Um disco excelente. Para se ouvir e desfrutrar.

1 – Oloan (Wilson Moreira)
2- Noites de Luanda (Wilson Moreira)
3 - Tem validade (Wilson Moreira)
4 - Meu poema de você (Wilson Moreira)
5 - Forró no cafundó (Wilson Moreira)
6 - Jongueiro cumba (Wilson Moreira – Nei Lopes)
7 - Além do centenário (Wilson Moreira)
8 - Põe dendê e tempero (Wilson Moreira)
9 - Ao jeito da roça (Wilson Moreira)
10 - Congada pra Sinhô Rei (Grande Otelo - Wilson Moreira)
11- Negro doce amor (Wilson Moreira)
12- Pregoeiro do amor (Wilson Moreira)
13- Procure ser gente (Wilson Moreira)
14 - A brilhante Velha Guarda (Wilson Moreira)

Samba, jongo, congada, partido alto, calango ao jeito da roça, canção, enfim, todos os cantares do poeta músico, que passou a abençoada infância em realengo, estão aqui neste CD, provando mais uma vez que Wilson Moreira é um dois nossos melhores compositores.

O batuque interessante liderado pelo atabaque inicia o trabalho com muita magia. Num tema dolente, o artista pede luz e licença para ir ao mar. Acredita que os ventos mensageiros vindos de Luanda trazem canções lúdicas que as forças da natureza oferecem àqueles que tem o dom de ouvir os pensamentos dos deuses. Deve ser assim mesmo. A música que Wilson faz é iluminada, afobrasileiras de melodia rica e surpreendente, elogiada por mestre Guerra-Peixe durante um curso para compositores de escolas de samba no MIS em 1968.

Na passagem sonora tem calango pra dançar, jongueiro que não esquece do 1 de maio (com Nei Lopes, parceiro de fé), vida roceira (em 3/4), receitas, congada (parceria com Grande Othelo), uma beleza! Canto de preto velho lembrando a escravatura, "o amor do negro é bonito e transparente..." (em 6/8), "coisas que vieram do tempo da coroa...". Lições de vida, elegância, postura - "tudo na vida só depende da gente...", velha guarda, tradição. Parece que o tempo da beleza voltou conduzido por mestre Wilson Moreira e suas músicas.

Mano Paulão fez um excelente trabalho nos arranjos e na produção. O tratamento sonoro que foi dado ao disco é de primeira. Eco natural do estúdio evidenciou o trabalho dos músicos que tocaram com vibração. A colocação da voz está perfeita, demosntra que houve muito empenho. tudo ficou espontâneo e criativo. "No caminho certo para se ouvir um bom samba..."

ENTIDADES I é um disco lindo! Viva Wilson Moreira!
Rildo Hora

Agradecimentos especiais ao grande diretor musical e arranjador Paulão 7 Cordas. À Bertha Nutels, Edson Santos, Eliomar Coelho, Chico Alencar, Leonardo Brandão, Luiz Carlos Magalhães, Jaluza Barcellos, e ao apoio incondicional da FUNARJ - Fundação de Arte do Rio de Janeiro.

À todos os músicos maravilhosos que fizeram parte fundamental desta equipe. Ao côro refinadíssimo, à toda Equipe da Rádio MEC, ao Anderson do Stúdio Copacabana e ao Jadir, técnico de som.

Principalmente à todas as entidades que nos rodeiam, nos ajudem a construir com estas canções maravilhosas. Pela paz mundial, por onde elas passarem, espalhem muita Paz e Harmonia.
Angela Nenzy

Meus agradecimento a todos aquele que me deram força num momento crítico da minha existência.
Beijo a todos...
Enalteço aqui neste disco todas as entidades, e estou aí com toda força do Onipotente.
Wilson Moreira
Produção e arranjos: Paulão 7 Cordas
Produção executiva: Angela Nenzy
Projeto gráfico: Egeu Laus
Mixagem e remasterização: Anderson Rocha e Jadir (Studio Copacabana)

Selo Rádio MEC
Direção geral:
Maristela Rangel Pinto
Produção executiva: Sonia Pinto e Soraya Nunes
Fotos: Willian Nery
Técnico de gravação: Betinho

Músicos participantes:

Paulão - arranjos e violão
Ilton Candongueiro - percussão
Mauro Diniz - cavaquinho
Carlinhos 7 Cordas - violão de 7 cordas
Maurício Horta - acordeon
Pedro Miranda - percussão e coro
Paulinho Soares - cavaquinho
Henrique Cazes - cavaquinho e viola de 10
Ivan Milanez - percussão
Trambique - percussão
Marcos Esguleba - percussão
Felipe D’Angola - percussão
Eduardo Neves - flauta
Ivan Mendes - clarinete
Luciane Menezes - cavaquinho
Roberto Marques - trombone
Ari Bispo, Rixa, Jurema e Teresa Cristina: coro


Avaliação: **** (ótimo)
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