30 de dezembro de 2009

Ataulfo Alves - Vida e Obra (Sérgio Cabral)

RESENHAS

Ataulfo Alves é um nome que não poderia deixar de ser lembrado neste ano de 2009. No seu centenário, foi Sérgio Cabral quem colocou o nome do mineiro da pequena Miraí em pauta novamente: lançou uma bela biografia que, assim como outras editadas no passado, mistura grande apuração jornalística, abundância de documentos e informações e vivência no meio do samba - este seu maior trunfo.

Ataulfo Alves - Vida e Obra, lançado este ano pela Lazuli Editora, tem uma leitura empolgante. Permeando a história do grande compositor e cantor que se estabeleceu no Rio de Janeiro em 1927, com tenros 18 anos, a biografia é bastante esclarecedora no que tange a atuação dos chamados "comprositores", por exemplo. Também podemos entender melhor como se dava a questão dos direitos autorais (ele foi um dos fundadores da União Brasileira dos Compositores), como eram as disputas entre diferentes sociedades autorais e como se travou as constantes batalhas dos sambistas para que estas de fato representassem seus associados.

Numa época em que compositores e intérpretes não se misturavam nos estúdios de gravação, Ataulfo quebrou um paradigma: ele mesmo, mediante grande moral que já possuía no início dos anos 40, passou a gravar os seus sambas, com suas indefectíveis "pastoras". Seus sucessos se sucediam a cada ano e ainda hoje não há quem não se lembre dos clássicos Ai, que saudade de Amélia, Atire a primeira pedra, Leva meu samba e Sei que é covardia, só pra citar os mais populares.

Sérgio Cabral, este exímio jornalista e biógrafo de sambistas, abre o livro contando a história do "samba da Amélia", que Mario Lago, parceiro na composição, não gostou à primeira ouvida. Moreira da Silva, Cyro Monteiro, Carlos Galhardo e Orlando Silva também não se empolgaram. Coube a ele, então, gravar. O samba venceu o concurso de Carnaval de 1942 (empatada com a também lendária Praça Onze, de Herivelto Martins e Grande Otelo) é sucesso até hoje. Cabe registrar que a Amélia de fato existiu, e possuía todos os atributos citados na letra - era mesmo "uma mulher de verdade".

A partir do segundo capítulo, ele segue uma ordem cronológica que conta toda a história do sambista, desde sua infância até a morte, em decorrência de um grave problema de úlcera, em 1968. Sergio Cabral se valeu de documentos importantes para traçar o desenvolvimento profissional de Ataulfo. Por exemplo: sendo este sambista, por muitos anos, contratado da Rádio Nacional e estando em posse do biógrafo sua carteira de trabalho, esta biografia traz em seus capítulos toda a evolução de seus rendimentos. Diferentemente da maioria dos sambistas de sua época, Ataulfo teve uma vida relativamente estável.

Com uma discografia tão vasta, era necessário um grande trabalho de pesquisa para que tudo fosse documentado na biografia. Cabral teve ajuda, para isso, do pesquisador Jairo Severiano. Analisando estes dados podemos ver que, nos anos 30 - antes, portanto, de começar a gravar seus próprios sambas - Ataulfo teve como intérpretes nomes do naipe de Almirante, Carlos Galhardo, Orlando Silva, Carmen e Aurora Miranda, Francisco Alves, Déo, Silvio Caldas, Odete Amaral, Cyro Monteiro, etc. Sendo gravado por nomes de peso como esses, gabaritou-se para gravar seus próprios sambas (e também alguns de outros autores como Bide, Cartola, Lupicínio Rodrigues, e até o sambista portelense Alvaiade), também com grande êxito.

Também cabe destaque o acervo iconográfico do livro que traz fotos, correspondências, reproduções de capas de revistas da época e de documentos do sambista.

Relembrando os fatos marcantes da vida e obra deste grande nome da música popular, Sérgio Cabral pôde confirmar: morreu o homem e ficou a fama.

Avaliação: *** (bom)

Ataulfo Alves - Vida e Obra
Autor: Sérgio Cabral
Editora: Lazuli
Ano: 2009
Preço sugerido: R$ 30,00

5 comentários:

Don Oleari disse...

André,meu caro, se o feicibuqui não servisse pra mais nada, serviu me trazer até aqui.
Você acaba me convencendo a ler o Ataulfo do Sérgio Cabral.
Vou favoritar pra vir aqui veizincando aprender um tiquim com você.
Abração do Oleari.

Um feliz todo dia, todo dia, ano inteiro.

Oswaldo Oleari

Artur de Bem disse...

Meu papa é foda!
Salve Sérgio Cabral!

Thiago F. Franco disse...

André,

Como nem só de elogios são feitas coisas grandes - e o seu trabalho pela valorização do samba é MUITO grande - aproveito a deixa pra puxar sua orelha e pedir pra você disponibilizar no "Prato e Faca" uns discozinhos do Ataulfo (ou seria Ataulpho?).

Abraço,

Alvarenga disse...

Ae Thiago, já soltei umas brasas lá...

Don Oleari disse...

É uma ótima, Thiago.
Dou meu voto a favor.

Abração do Oleari.

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O Couro do Cabrito by André Carvalho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.
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