23 de outubro de 2007

Inimigos do Batente e Chico Médico no Anhanguera dá Samba

O Projeto Anhanguera dá Samba segue firme e forte. Desta vez, o convidado é o Chico Médico, grande figura do samba paulistano. Quem fala um pouco mais sobre ele é o Inimigo do Batente Fernando Szegeri:

Chico Aguiar, Chico Médico, Doutor Chico, são diversas as formas de se referir a essa grande figura do samba em São Paulo, que por mais de dez anos esteve à frente de uma das mais importantes rodas de samba da cidade, referência absoluta nas tardes de sábado, ponto de encontro obrigatório de sambistas dos quatro cantos de São Paulo e além; seja no Butantã, no saudoso bar Canto Brasileiro, seja mais recentemente na Praça Roosevelt, era fácil topar com figuras como Beth Carvalho, Luiz Carlos da Vila, Sílvio Modesto, Murilão, Mário Luiz e outros baluartes da Velha Guarda do Camisa, Tia Surica, Dorina etc.

Chico Médico aprofundou seu contato com o samba no início dos anos 80, a partir das antológicas rodas de samba do Butecão, na Consolação. Dali pra cá, acumulou uma grande coleção de gravações e um fantástico repertório que já lhe valeu o apelido de "Enciclopéda do Samba". Conta a lenda que o grande compositor e também médico Paulo Vanzolini o teria visto cantar informalmente um dia na faculdade de medicina e dito que gostaria de ver um samba seu gravado por ele. E como na canção, "o que há de verdade é que depois, muito depois", isso se tornaria realidade na caixa "Acerto de Contas" (2003), reunindo em 4 cd's a obra do compositor, em que Chico comparece interpretando dois belos sambas: "Mulher, toma juízo" e "Mulher que não dá samba".

Inimigos do Batente convidam Chico Médico

Local: Clube Anhangüera

Endereço: Rua dos Italianos nº1261 – Bom Retiro – São Paulo - SP

Data: 26/10

Horário: a partir de 22h

Ingressos: R$ 10,00 + um agasalho ou alimento não-perecível para doação a entidades assistenciais do bairro

Como chegar: Marginal Tietê (sentido Penha), passando a Ponte da Casa Verde, terceira rua à direita, primeira à esquerda e novamente primeira à esquerda.

21 de outubro de 2007

Mais um mestre do violão que parte...

Um dos maiores violonistas da história da música brasileira faleceu ontem (20/10/07), aos 88 anos, no Rio de Janeiro. César Faria, pai de Paulinho da Viola, foi fundador e integrante do Cojunto Época de Ouro e acompanhou seu filho desde o início de sua carreira até o ano passado, quando se afastou por problemas de saúde. Seu parceiro de violão, o genial Dino 7 Cordas também faleceu recentemente.

Seu corpo será enterrado hoje (21) às 17:00 na Capela 9 do Cemitério São João Batista.

17 de outubro de 2007

Um ano de vida

O Couro faz aniversário... Um ano prestando serviços ao samba (servimos bem para servimos sempre).

Obrigado a todos os leitores do Couro do Cabrito que, neste 1 ano de vida, nunca deixaram de visitar este blog que mantenho com tanta paixão.

Obrigado samba, sem você eu não seria tão feliz.

Valeu!!!

16 de outubro de 2007

Samba, produto brasileiro (e carioca)

Há algum tempo atrás, escrevi um artigo sobre a origem do samba para o site Culturando. Ele é carioca, do bairro do Estácio de Sá. Pouco tempo depois de publicado este artigo, o samba (carioca, é claro) foi proclamado patrimônio cultural brasileiro. Segue, então, na íntegra, o artigo.

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Vinícius de Moraes foi um grande poeta. Mas, em vida, falou duas asneiras que, de tanto serem repetidas, ficaram gravadas no inconsciente coletivo dos brasileiros. “São Paulo é o túmulo do samba” é uma afirmação que nem deve ser levada a sério, já que se trata de uma afirmação bairrista e preconceituosa. A outra inverdade que Vinícius propagou é que o samba é baiano. Mentira.

O samba (este que nós escutamos hoje, mais sincopado) não é baiano. Ele é carioca da gema. Como o Corcovado, o Pão de Açúcar e o Flamengo. Surgiu no bairro do Estácio de Sá e não tem nada a ver com os “sambas” amaxixados do começo do século. Aquele tipo de samba, consagrado por Sinhô, então “rei do samba”, era um tipo de música para ser bailado, tocado com orquestras e com o predomínio da melodia.

Já o samba estaciano era um samba para se desfilar (foi o pessoal do Estácio que fundou a primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1929), com o ritmo quente da batucada predominando. Rubem Barcelos, Bide, Marçal, Ismael Silva, Brancura, Baiaco e Nilton Bastos eram os principais compositores do Estácio. Uma peculiaridade deste formato de samba é que não existiam as introduções melódicas e tampouco haviam as segundas partes. Cantava-se apenas a primeira parte e depois se improvisava. Nos desfiles das escolas de samba, eram estes sambas de terreiro (como eram chamados estes sambas de uma parte feitos nos terreiros das escolas de samba) que se cantavam.

Logo este samba ganhou o morro e o asfalto. Aos poucos, os blocos carnavalescos passaram a adotar este novo ritmo. Os cantores do rádio também perceberam que algo havia mudado e passaram a procurar esta nova geração de compositores para gravar. Entretanto, como os sambas com apenas a primeira parte eram muito curtos para serem gravados, eles pediram para os compositores adicionarem as “segundas” (segundas partes). Noel Rosa foi mestre nisso.

Francisco Alves e Mario Reis, os maiores cartazes da época deixaram de lado o maxixe para se dedicarem ao samba, já em seu novo formato. Sinhô, maior representante da antiga geração do samba, caiu no ostracismo e nunca mais fez o mesmo sucesso.
Este novo samba se consolidou e até os anos 50, foi uma febre nacional. Os compositores do Estácio ganharam a companhia de geniais compositores “do asfalto”. Wilson Batista, Haroldo Lobo, Assis Valente, Sinval Silva, e, claro, Noel Rosa eram presença constante nas radiolas brasileiras.

Paralelamente, no morro, o novo ritmo também se firmou. Era o mesmo samba sincopado, mas, afastado das influências das gravadoras e das rádios, era muito mais puro. Ainda permaneciam apenas com a primeira parte e eram de uma dolência que hoje quase não se vê mais (o conjunto Terreiro Grande, de São Paulo, é uma das raras exceções). Os grandes nomes das escolas de samba eram Carlos Cachaça (Mangueira), Paulo da Portela (Portela), Antenor Gargalhada (Salgueiro), entre outras cobras criadas.

O tempo passou, o samba-enredo se modificou até chegar ao lixo que conhecemos hoje. O samba de terreiro, aquele feito sem compromisso, na manha, sem compromisso, também mudou: ganhando uma segunda parte. Durante os anos 50 e começo dos 60, foi abafado pela Bossa Nova e pelo rock and roll que veio de fora. Era a primeira vez, desde que o samba se consolidou, que ele deixava de ser o número um nas rádios e nas gravadoras. Foi uma época difícil para os sambistas, tanto os do asfalto quanto os do morro.

Nos anos 60, os compositores das Escolas de Samba se mobilizaram e começaram a formar diversos conjuntos. O Zicartola, restaurante-casa de show de Dona Zica e Cartola era o ponto de encontro dos sambistas. O Conjunto Voz do Morro, os Cinco Crioulos, os Cinco Só, os Partideiros, os Mensageiros do Samba… Todos esses conjuntos eram formados exclusivamente por compositores de escolas de samba.

Foi um alento. Mas o samba só voltaria a encontrar sucesso, de fato, com o Paulinho da Viola e o Martinho da Vila (e depois, Clara Nunes, Beth Carvalho etc.). Isso até aparecer a turma do Cacique de Ramos com sua nova roupagem (mais acelerada).
Quem descobriu este novo filão foi Beth Carvalho. E durante toda a década de 80, o “pagode” (termo cunhado para definir este novo tipo de samba) dominou. O samba, pobre samba, ficou relegado a segundo plano. Ninguém queria produzir discos do Wilson Moreira, da Velha Guarda da Portela, do Guilherme de Brito (o japonês Katsunori Tanaka foi uma grata exceção)… Preferiam Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, etc…

Vieram os anos 90 e um “pagode” ainda mais xumbrega apareceu. Eram conjuntos inspirados nas boy bands americanas. Horrível. Foi mais uma década em que o samba autêntico (aquele que seguia a linha do Estácio de Sá) ficou escondido.
Hoje, no raiar do novo milênio, o samba, que durante todo este tempo de “reinado do pagode” ficou restrito às rodas de samba das esquinas, dos botequins e dos terreiros, finalmente voltou às gravadoras (ainda que de forma singela).

Na realidade, o samba sempre esteve vivo e forte. Suas raízes são fortes e estão fincadas na cultura brasileira. Passam os ritmos da moda e o samba permanece. Por isso que é errado pensar que esta revalorização do samba é apenas mais uma “modinha”, como a lambada e o forró universitário. O samba é maior do que tudo isso. Ele agoniza, mas não morre. Nunca.

8 de outubro de 2007

Eu gosto de samba cadenciado! parte IV

Purista, conservador, retrógrado, tradicionalista, xiita, talebamba, guerrilheiro do samba... É assim que o pessoal do pagode me chama nas discussões da Tribuna Samba-Choro. Isso porque eu sou um defensor ferrenho do samba (não gosto da denominação “de raiz”).

Minha luta pela valorização do samba tradicional se dá porque eu acho necessário abrir os olhos dos sambistas para a sua história. O samba é muito antigo e tem um monte de sambista bom que caiu (ou está em vias de cair) no esquecimento. Paulo da Portela cantou “O meu nome já caiu no esquecimento/ o meu nome não interessa mais a ninguém”. Seu nome ainda está presente, mas o mesmo não acontece com Brancura, Djalma Mafra, Baiaco, Zé Cachacinha e outros bambas.

Por que eu não falo da turma do Cacique? A mídia já os colocou em evidência, a massa já os abraçou e canta seus sambas (ou pagodes). Eles não precisam de mim.

Meu purismo, de fato, existe. Gosto de sambas que me emocionam, que me tocam. E não tenho culpa alguma se o formato e a estrutura rítmica dos sambas “caciqueanos” não me agradam. Já falei e vou repetir: isso não impede de eu gostar de alguns sambas desta turma tocados sem este “apavoro”, sem a “quebradeira rítmica”, que tanto os caracteriza. Tem samba deste pessoal que é bom, isto é inegável. Minha implicância com eles é que estes bons sambas se transformam numa barulheira com tantos pandeiros de nylon, tantans, banjos e repiques de mão.

O samba é democrático e existem muitas pessoas que não compartilham a mesma opinião que eu. Ainda bem. Só quero deixar claro que minha luta é para evitar que tantos talentos caiam no ostracismo. Ultimamente, eu e o meu parceiro de samba Iuri Bigode temos descoberto lindos sambas da antiga através do Instituto Moreira Salles (do qual falarei com mais calma num futuro próximo). Nessa busca, descobrimos nomes como Djalma Mafra, Paulo Soledade, Príncipe Pretinho, Milton de Oliveira, entre muitos outros. Sambistas de mão cheia!!

Como é bom cantar “Chorou Madureira, chorou Irajá, Salgueiro, Mangueira, Favela, Portela, Estácio de Sá....” na roda de samba. Um samba dos anos 40 de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira consagrado na voz de Aracy de Almeida, que faz a poeira levantar. Saudosismo? Sim. Purismo? Sim.

Não me abalo com as críticas e vou continuar nesta minha missão. Estou entrincheirado nesta batalha e sei que vou levar muito chumbo. Mas não desistirei nunca desta luta. O samba faz muito por mim eu preciso fazer um pouco por ele.


Ilustração: "Roda de samba" - Di Cavalcanti
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