29 de abril de 2013

Morte é paz

"Quando eu for, eu vou sem pena. Pena vai ter quem ficar", já cantava o poeta paulistano. E foi assim. Ficamos, nós, com pena, pesar, lamentação em sua despedida. Choramos a partida daquele que cantou, em muitos sambas, uma toada e uma capoeira, crônicas da vida, da sociedade e dos amores. Crônicas de uma cidade de São Paulo, com suas rondas, praças e voltas por cima.

Paulo Vanzolini - sambista de primeira grandeza, nome icônico da música popular brasileira, autor de clássicos imortais de nosso cancioneiro - foi sem pena, aos 89 anos, às 23h35 deste domingo, 28 de abril, vitimado por uma pneumonia, que o levou à internação na UTI do Hospital Israelita Albert Einstein, no dia 25.

Depois de ter escrito o nome em letras douradas, garrafais, na história do samba e da zoologia (era considerado um dos maiores especialistas em répteis do mundo, tendo sido diretor do Museu de Zoologia da USP, por mais de 30 anos), o mestre se foi. "Sem saber o que o dia de amanhã nos traz, sem querer relembrar o que ficou pra trás". Foi tranquilo.  "Morte é paz".

É tempo de relembrar suas canções, admirar suas melodias e versos e de aprender mais sobre o Brasil, ouvindo suas crônicas sociais emolduradas por acordes que brotaram de sua mente fértil. Composições imortais, como será a presença deste gênio no imaginário coletivo de tantos brasileiros. 

Quando eu for, eu vou sem pena (Paulo Vanzolini) - Chico Buarque (2002)
Morte é paz (Paulo Vanzolini) - Cristina Buarque (2002)

25 de abril de 2013

Um ser de luz (João Nogueira - Paulo César Pinheiro - Mauro Duarte)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA

Há 30 anos, no dia 2 de abril de 1983, uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos morria tragicamente. Clara Nunes, em plena forma, no auge do sucesso, nos deixava de forma dolorosa: um choque anafilático sofrido na mesa de cirurgia, quando retirava varizes das pernas, interrompeu sua trajetória iluminada. Não mais ouviríamos o canto do Sabiá, não mais sentiríamos a energia e a força da Mineira Guerreira. Uma perda irreparável.

Seu falecimento causou transtorno em todos os brasileiros. Pouco tempo depois, uma belíssima homenagem foi composta para ela. Os autores: Paulo César Pinheiro, João Nogueira e Mauro Duarte.

No livro "João Nogueira - Discobiografia", de Luiz Fernando Vianna, o autor conta como se deu a criação deste belo samba, "Um ser de luz":

"A homenagem foi no calor da hora, pouco depois da morte. Alcione leu em O Globo a expressão 'um ser de luz', cunhada pelo colunista Artut da Távola para se referir a Clara, e comentou com João. Após a missa ecumênica realizada na Portela, várias pessoas foram comer em Jacarepaguá, e Mauro Duarte mostrou um início de samba dedicado à cantora. Faltava o letrista preferido dos dois para concluir o trabalho. Mas que condições Paulo César Pinheiro, marido de Clara, teria para escrever? Ele até ficou ofendido com a sugestão. Sucumbiu, porém, diante de um argumento de João:

'Se não fizer, vão fazer uma cambada de samba ruim e você vai ter que aturar. Ninguém vai se atrever a arriscar um samba depois do teu.'

Convencido, Paulinho escreveu a letra, e a canção foi batizada de 'Um ser de luz. João ligou para Alcione:

'Faz um macarrão pra mim que eu vou te mostrar um samba.

Comeram cantando e chorando. Alcione gravou, e a música fez um enorme sucesso. João só daria a sua versão 11 anos depois."

Um ser de luz (João Nogueira - Mauro Duarte - Paulo César Pinheiro)

Um dia
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar

Sua voz então a se espalhar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava espantava a dor
Com a força do seu cantar

Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela se foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
E a gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de vê-la, sabiá

Sabiá
Que falta faz sua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melancolia


Um ser de luz (João Nogueira - Mauro Duarte - Paulo César Pinheiro) - Alcione (1983) Um ser de luz (João Nogueira - Mauro Duarte - Paulo César Pinheiro) - João Nogueira (1994)

17 de abril de 2013

Homenagem a Clara Nunes, no Nota de Rodapé

Hoje, no Nota de Rodapé, um texto meu - com uma belíssima ilustração do artista visual gaúcho Kelvin Koubik - sobre os 30 anos da morte de Clara Nunes. Confira!



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