25 de julho de 2010

Adoniran - Uma biografia (Celso de Campos Jr.)


Quando falamos de Adoniran Barbosa, pensamos logo na maior referência que temos em samba paulista. Um samba que fala das malocas ao invés de falar dos morros. Que fala do Viaduto Santa Ifigênia, da Avenida São João e do Jaçanã ao invés de falar de Vila Isabel, da Lapa da Mangueira. Pensamos no samba feito com a realidade paulista de vida. Um samba com sotaque rural e italiano, como é o sotaque dos paulistas.


De fato, João Rubinato (seu nome de batismo) é o nome mais popular do samba da Paulicéia. O que poucos sabem, no entanto, é que Adoniran, antes de ser um conhecido sambista, foi um dos grandes humoristas da rádio. Humor que acabou levando para seus sambas, também.

Neste ano de 2010, centenário do sambista, a obra “Adoniran - Uma biografia”, de Celso Campos Jr. (Ed. Globo), foi novamente editada - revisada e ampliada. Nesta nova edição, o autor teve a brilhante ideia de acrescentar os esquetes dos programas de rádio “Histórias das Malocas”, em que Adoniran interpretava o hilário Charutinho. Além disso, o livro narra, com detalhes, as principais passagens da vida e da carreira artística do paulista de Vinhedo.

Adoniran desde jovem sonhava com a carreira artística. Quando passou morar na capital paulistas, na mocidade, tentou a sorte num concurso de calouros, mas não deu certo. O caminho foi mesmo seguir a carreira no rádio de uma outra maneira: o humor, que dominava como poucos.

O autor do livro, Celso de Campos Jr, realizou um excelente trabalho de campo para nos trazer as informações de como era São Paulo nas década de 30, quando tudo começou para Adoniran. A riqueza de detalhes das histórias vividas por ele são fruto das intermináveis horas de conversa de Campos Jr. com aqueles que viviam ao lado do sambista/humorista.

Numa leitura gostosa, que segue, de maneira linear, a cronologia da vida do biografado, podemos imaginar como era a cidade que inspirou o jovem sonhador a compor seus primeiros sambas (ainda num formato bem semelhante ao samba que se fazia no Rio), como era o ambiente das rádios e das quebradas do Centro de São Paulo, onde ele costumava tomar seus tragos com figuras que mais tarde serviriam de inspiração para personagens de suas histórias de humor no rádio e também para seus sambas.

Vivendo intensamente a carreira artística no rádio, Adoniran aos poucos foi compondo e emplacando seus primeiros sambas. Não fez sucesso e seu nome era mais conhecido mesmo pelo seu humor: além de atuar no meio radiofônico, também fez filmes e, mais tarde, novelas. Em alguns papéis, fez personagens sérios, despidos de qualquer humor, de maneira brilhante.

Na parte musical, começou a despontar no início dos anos 50, com a gravação de alguns sambas pelo conjunto Demônios da Garoa. É interessante ler sobre a gênese de alguns de seus maiores sucessos. Muitos, como por exemplo “Trem das Onze”, foram concebidos sem a menor pretensão de sucesso. Os louros vieram naturalmente na carreira de Adoniran.

À medida que vai envelhecendo, as portas da carreira de humorista vão se fechando à medida que vão se abrindo as portas do meio musical. E então podemos saber como se deu a gravação de seus primeiros discos (e toda a sua emoção por viver estes momentos).

Com grande detalhamento, o leitor desta obra também aprende que foi ele quem fez mais sucesso na I Bienal de Samba, em 1968, embora não tenha levado o prêmio. O leitor, em outra passagem, pode imaginar, também, como foi o carnaval na Vila Esperança quando ele compôs a marcha-rancho homônima.

Como sugestão para uma terceira edição ainda melhor, acredito que um trabalho discográfico cairia muito bem como anexo.

Mas é um excelente livro. Da viagem de seus antepassados da Itália para o Brasil até seus últimos dias no leito de um hospital, “Adoniran - uma biografia”, narra, com extremo esmero, a vida de um dos grandes heróis da música brasileira.

Uma história de um brasileiro que todos devemos conhecer, respeitar e valorizar. Pra quem não conhece, “chora na rampa, negão”.

Avaliação: **** (ótimo)

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