29 de julho de 2010

A interrupção de uma grande história

Considero uma expressão baixa e um tanto pequena aquele ditado que diz "tudo o que é bom dura pouco". Não deveria ser o contrário? O que é bom não deveria ser algo duradouro? Por que será que as boas coisas da vida - aquelas que alegram e emocionam - têm data para acabar?

Escrevo estas linhas com grande pesar. Mais uma vez, algo bom é interrompido bruscamente. Por mais de três anos, escrevi neste espaço do Couro do Cabrito sobre o valoroso Projeto Anhangüera dá Samba! Hoje, com o coração apertado, escrevo sobre sua lamentável interrupção.

Nesta semana conversei com Arthur Tirone, o popular Favela, idealizador do projeto e um dos grandes defensores da cultura popular brasileira de São Paulo. A frieza que as conversas pela internet proporcionam me impediu de ver sua emoção, sua revolta e sua tristeza ao falar sobre a interrupção do projeto.

Favela, nestes mais de três anos de projeto, deu o sangue para ver o Clube Anhangüera ser um grande terreiro de samba. Sua força de vontade, sua luta fez com que os paulistanos pudessem ter a oportunidade de presenciar grandes nomes do samba sendo acompanhados pelos bons sambistas dos Inimigos do Batente.

Wilson Moreira, Monarco, Germano Mathias, Délcio Carvalho, Noca da Portela... Edu Batata, Chico Médico, Douglas Germano... Quem é sambista e viveu, ou mesmo passou por São Paulo nestes últimos três anos, provavelmente foi ao Clube Anhangüera para ver monumentais nomes do samba se apresentando no chão, ao lado de um campo de várzea, na roda de samba.

Guerrilheiro, defensor, batalhador do samba, Favela está triste, ferido, mas não vencido. Sabe que a cultura do samba está aí, pronta para ser valorizada. Para ele, o Projeto Anhangüera dá Samba "significa muito mais que o evento em si, é a realização de um sonho".

Isso porque o Clube Anhangüera sempre foi conhecido por fazer grandes bailes e congregar gente de diferentes rincões da cidade. "Trazer isso novamente para clube, após tantos anos, é gratificante", afirma.

"É possível promover a cultura onde quer que seja. No princípio muita gente apostava que não daria certo por "ser longe", ou porque o espaço não é um bar, nem uma casa de shows. Nós apostamos num espaço novo. Talvez o maior legado do Anhangüera dá Samba! seja essa retomada de se fazer samba à beira de um campo de futebol varzeano e aglutinar sambistas de toda a cidade", desabafa o militante da cultura popular.

Mas atenção! O projeto não acabou! Quem garante é o próprio Favela: "Há questões políticas dentro do clube que acabaram afetando o projeto, que não tinha nada a ver com isso... Mas nós voltaremos, disso não tenho dúvida".
Por enquanto, as últimas sextas do mês serão mais vazias sem o samba no Anhangüera. Até quando?

"Com tranquilidade as coisas se ajeitam. E [precisamos] pensar em outras coisas, inventar outros projetos em outras paragens. Como dizia o finado Zulu, 'vida que segue'", desabafa.

Oxalá, Favela! Oxalá!

3 comentários:

87 disse...

Salve o Anhangüera dá Samba!
Forza Favela!
Alô Domorro!

Fel Mendes disse...

Os sambistas agonizam, mas não morrem. Vai ser difícil calar nossa batucada.

Força, Favela!

Parabéns, Peruca!

Gilsão disse...

Fala André,
Encontrei com você na última roda do Terreiro Grande e te confidenciei que tinha conhecido faz uns dois anos e meio o Anhanguera por intermedio de seu blog e desde então venho frequentando.
Hoje vim aqui para saber qual bamba iria se juntar aos Inimigos do Batente e me surpreendo com esta péssima notícia.
Espero que a interrupção seja breve e nossas últimas sextas feiras do mês voltem a ser regadas aos grandes sambas cantados no Anhanguera.
Abraço,
Gilson.

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