3 de agosto de 2012

Todo amor (Carlos Cachaça - Cartola)

GRANDES BRASAS DA HISTÓRIA

Há 110 anos, nascia um dos maiores gênios da música popular brasileira, um ás dos versos e das melodias, Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça.

Parceiro de Cartola em clássicos como Tempos Idos, Quem me vê sorrindo e Alvorada, o poeta de Mangueira legou para a cultura brasileiras pérolas de inestimável valor. Todo amor foi registrado no único álbum do sambista, lançado em 1976, quando o compositor tinha 74 anos de idade. A parceria, também, é com o Divino.

Todo amor (Carlos Cachaça - Cartola)

Todo amor, no princípio tem sabor
Tem perfume, tem odor
Que embriaga o coração 
Mas depois é uma taça incolor
Que só contem amargor,
Dissabor e maldição 

Todo amor principia com beijos e risos
E no princípio forma um paraíso
E depois com o tempo um dos dois vem a se arrepender
Um amor para gozar e outro para sofrer

26 de julho de 2012

"O Berro do Cabrito" está de volta

O Berro do Cabrito volta a ecoar por aqui. Com roteiro e produção de Fabrício Alves, conhecido nas rodas de samba como "Fabrício Geraes", o programa traz muitas brasas e uma boa dose de humor. Confira!

19 de julho de 2012

Homenagem a Clementina de Jesus

Vinte e cinco anos sem a Rainha Quelé, hoje.



Sei lá, Mangueira (Paulinho da Viola - Hermínio Bello de Carvalho)

21 de março de 2012

O samba paulista, por seus personagens

Texto publicado originalmente no Catraca Livre em 17 de fevereiro deste ano.

O samba paulista tem valor, sim senhor. Se ao longo das últimas décadas, foi obscurecido pelo irmão carioca, fazendo de Adoniran Barbosa um representante isolado a ser lembrado pela massa brasileira, isto muito se deveu pela falta de memória e reconhecimento por parte dos próprios paulistas, que deixaram de lado sua riqueza e tradição musical para cultuar a produção de seus vizinhos.

Mas o fato é que o samba paulista, que apresenta um caráter mais rural, é rico em compositores e intérpretes. Onde estãos estes sambistas? Foi esta pergunta que instigou o pesquisador Carlos Antonio Gomes a sair a campo e descobrir estes talentos ocultos, verdadeiras pérolas de nossa cultura popular.

Ao se deparar com um edital para pesquisadores, disponibilizado pelo Centro Cultural São Paulo, investiu suas forças neste estudo. “À princípio, fiz uma pesquisa de campo sobre São Paulo antiga, os escravos, o fim da escravidão na cidade, para depois preparar terreno para falar sobre o movimento do samba”, afirma Gomes. Nascia o livro – com um DVD anexado – “Um Batuque Memorável no Samba Paulista”.

A serviço da história

“Nós não conseguimos olhar o passado com o devido carinho, estamos sempre olhando para o futuro e esquecemos de valorizar nossa memória”, desabafa Gomes, completando que seu papel nesta pesquisa histórica sobre o samba de São Paulo era estar “a serviço da história”.

As vivências de sambistas como Toniquinho Batuqueiro, Mestre Divino, e de bambas da Velha Guarda Camisa Verde, da Nenê da Vila Matilde e Vai-Vai fizeram com que a história fosse escrita para além do campo dos tamborins e pandeiros: era a história da própria Pauliceia que se escrevia.

E foi justamente por este motivo, a ânsia de registrar estas importantes personalidades de São Paulo, verdadeiros heróis de nosso povo, que Gomes disponibilizou os vídeos na Internet.

Com a chegada do Carnaval, o momento não poderia ser mais propício para conhecer a verdade por trás da festa grandiosa visual e francamente comercial que se tornou os desfiles de Escolas de Samba de São Paulo.










26 de janeiro de 2012

Prêmio Paulo da Portela 2011

Paulo da Portela foi uma figura humana de inestimável valor para a cultura popular brasileira. Ao lutar pelo reconhecimento do samba como manifestação cultural autêntica, pacífica, educativa e sociabilizadora, bateu de frente com autoridades racistas, higienistas e eugenistas. O samba, suburbano, mestiço, brasileiro exemplificava a cultura das três raças fundidas, bem como a sociedade brasileira: o ganzá é indígena, o pandeiro é árabe, as cordas são ibéricas e o couro é africano.

Quem viveu o samba naquela época, quem conheceu Paulo da Portela, confirma esse afirmação. Waldir 59, atual número 1 da Portela, disse para mim há poucas semanas, que, de fato, tratava-se de um ser humano batalhador, um lutador, um guerreiro em prol da aceitação do samba pela sociedade. E realmente, naqueles idos da década de 30, este ritmo galgou crescente respeito com a classe artística. Aos poucos, os principais cartazes do rádio e dos discos de 78 rpm passaram a gravar este ritmo moldado pelos batuqueiros do bairro do Estácio de Sá, preterindo os sambas amaxixados que Sinhô consagrou.

O reconhecimento da luta de Paulo veio em 1937, quando foi eleito, mediante escolha popular, Cidadão Samba. Um sambista precisaria saber versar, cantar, tocar e dançar o samba. Além de fazer tudo isso com maestria, Paulo era, também, um grande articulador político que conseguiu fazer com que o samba viesse a ser o ritmo nacional, despido de todos os preconceitos sociais que o envolvia até então.

Tantas décadas se passaram e o papel social do sambista se enfraqueceu. Excluído do novo cotidiano das Escolas de Samba, organizações cada vez mais comerciais sem vínculos culturais e artísticos com as comunidades que o abrigaram, precisou buscar novos horizontes para empunhar a bandeira da resistência - sim, pois o samba de terreiro, depois quadra, já não é uma realidade dentro destes históricos berços de bambas.

Nas esquinas e botequins, nas salas e quintais, criaram se os "projetos de valorização e resgate de samba de terreiro", ou "comunidades" - já existe até o termo "samba de comunidade". Existem em vários bairros de São Paulo e em algumas cidades como Uberlândia, Santos, Campinas, Porto Alegre e Florianópolis. São estes sambistas que ainda lutam. São os novos "cidadãos samba".

Em 2011, uma ação realizada pelo Movimento Cultural @migos do samba.com voltou a homenagear estes batalhadores. A ideia partiu de Vicente Ferreira, o "Presidente": a cada ano, um sambista que desenvolvesse atividades relevantes em prol do samba durante a temporada, seria louvado.

Ainda em 2010, dois projetos importantes foram concebidos e, ao longo do ano passado, foram realizados: o "Programa É Batucada!", série de entrevistas audiovisuais com sambistas da nova e da velha geração, e a série de rodas de samba em homenagem ao centenário do portelense Chico Santana.

A primeira ação, idealizada pela sambista e produtora cultural Isaura Almondes, fez com que nomes como Waldir 59, Tia Cida, Barão do Pandeiro, Seu Paulão, Seu Germano, Seu Mangueira, Tuco, Loré e outros nomes pudessem contar e cantar suas vidas no samba. Já a série de rodas, contou com importante organização do sambista Fernando Paiva, de Uberlândia. Sendo assim, receberam, com louvor, o "1º Prêmio Paulo da Portela".

De fato, Fernando Paiva simboliza um lutador, um batalhador pelo samba. Não há dúvidas que os ideais de Paulo da Portela habitam sua alma. Gentil, educado, honesto e apaixonado pelo samba. Um pesquisador de grande valor, que foi muito bem escolhido nesta primeira edição da premiação.

Lembro-me do dia em que o conheci. No bar, em frente ao Centro Cultural São Paulo, após a apresentação do Tuco e o Batalhão de Sambistas que deu origem ao disco "Peso é Peso". Uma figura humana extremamente bondosa, sincera. Estudioso de samba antigo esmerado. Meu amigo desde esse dia.

O "Programa É Batucada!", representado por Isaura Almondes, Edinho Carvalho, Marcelo "Baseado" Lourenço e este sambista que vos fala, também cumpriu um importante papel com as entrevistas, levando ao público sambas inéditos e desconhecidos de sambistas novos e consagrados. Orgulho-me de participar deste projeto.

A cerimônia foi engalanada pela presença de José Ramos Tinhorão, notório pesquisador de música popular brasileira - sem dúvidas, o maior de todos vivo -, que proferiu uma pequena  palestra sobre a importância do legado de Paulo da Portela para a música popular brasileira.

Cabe destacar também, a importância do sambista - e defensor das tradições do futebol de várzea - Arthur Tirone, o Favela. Ele é a pessoa que fez com que o Clube Anhangüera fosse, hoje, um dos principais símbolos de resistência do samba como forma autêntica de manifestação cultural. Tal luta fez com que fosse contemplado com uma placa, que exalta seu clube de várzea de coração. 

A temporada 2012 já começou. Ações já estão sendo pensadas. Salve o samba.
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