17 de março de 2010

Samba de Enredo - História e Arte (Luiz Antônio Simas e Alberto Mussa)

“Longe da pretensão de construir verdades definitivas e afirmá-las em documentos oficiais, formular um conhecimento provisório sobre o samba de enredo é menos a vontade de produzir um relato verdadeiro da história (de antemão impossível) que uma forma de render tributo aos nossos heróis- os compositores do samba”.

Estas linhas sintetizam tudo o que representa para Luiz Antonio Simas e Alberto Mussa o livro “Samba de enredo - História e Arte”. Escrito a quatro mãos pelos sambistas - o primeiro também historiador e o segundo, escritor e tradutor - a obra traz uma análise sobre a história do samba de enredo, com suas evoluções melódicas, rítmicas e sociais, além de trazer uma excelente e absolutamente oportuna contextualização histórica das Escolas de Samba, dos bairros onde estas agremiações surgiram e dos principais compositores deste estilo tão peculiar de samba.

É sensível que, quando lemos algo sobre samba escrito por quem é do metiê, o texto vem muito mais redondo, com os parênteses bem situados e uma estrutura literária que nos remete aos pagodes e, neste caso, aos desfiles carnavalescos das nossas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, símbolos maiores do Reinado Momesco. Sendo assim, os autores, sambistas pela própria natureza que Deus lhes deu e amantes deste gênero tão intrigante que é o samba de enredo pelos desígnios da vida, são mais do que gabaritados para escrever este livro.

Lendo a obra, passeamos pela história do Carnaval carioca, aprendemos um pouco da evolução do formato do samba de enredo, relembramos e somos apresentados a grandes nomes do samba, assim como a diversas agremiações não tão populares. É interessante notar, por exemplo, que os autores consideram “Seca do Nordeste”, composto pelos desconhecidos Gilberto de Andrade e Valdir de Oliveira e levado à avenida pela também modesta Tupi de Brás de Pina no ano de 1961, como o maior samba de enredo de todos os tempos. Como também é interessante notar que a Portela, apesar de ser provavelmente o maior celeiro de bambas do Rio, fica aquém de suas maiores rivais quando o assunto é número de clássicos do samba de enredo.

Para um amante do samba, um sambista, ler sobre a história de nossas tão estimadas Escolas de Samba é uma atividade que faz com que trabalhemos muito o saudosismo e a esperança. Saudosismo de um tempo em que muitos não vivemos, mas sabemos como era: um tempo onde o Carnaval era fantasia, e o sambista podia colocar toda a sua poesia em enredos sempre muito originais. E a esperança... Ah, a esperança é que um dia possamos novamente desfilar em uma avenida onde o samba não tenha a cadência de 150 batidas por minuto e as celebridades não ocupem o espaço dos verdadeiros sambistas.

Para isso, precisamos conhecer a história. E o excelente livro em questão vem justamente para preencher esta lacuna.

Avaliação: **** (ótimo)

Samba de Enredo - História e Arte
Autores: Luiz Antônio Simas e Alberto Mussa
Ano: 2010
Preço sugerido: R$ 34,90

Um comentário:

Anônimo disse...

150 bpm é ataque cardíaco, não é samba

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