19 de fevereiro de 2010

Carnaval, doce ilusão...

Quando o Carnaval termina, sempre fica impregnada em nós - e por alguns dias - a lembrança do reinado de Momo. Mas, do jeito que as coisas hoje vão, do que nos lembraremos amanhã? Da decadência galopante das Escolas de Samba, cada vez mais subjugadas a interesses alheios, ou da farra que voltou a ocorrer nas ruas das cidades, graças aos blocos?

Há décadas, vemos a tradição das nossas Escolas de Samba ir para o bueiro. Se antes o folião participava ativamente do desfile de sua escola de coração, hoje ele tem de tentar a sorte de conseguir um lugar na arquibancada e acompanhar de longe a “maior festa do planeta”, repleta de celebridades e turistas. Para o bom sambista da comunidade, alijado de sua própria casa, resta a torcida, de longe.

Sambar no chão, cantando e brincando é o que gosta de fazer um bom folião. E antes, com as Escolas de Samba era assim. Hoje, com os blocos, pode ser assim. Por isso é importante manter longe destas agremiações, que dão um alento e esperança ao nosso carnaval, as cordas e os abadás que separam quem pode e quem não pode participar da diversão. Bloco bom é sem divisão. Todo mundo sambando e desfilando junto.

Neste carnaval, eu vi bloco que canta marchinha antiga e vi bloco que canta marcha nova, autoral, com enredo e tudo mais. Gosto mais deste ultimo modelo. É importante que novas marchas surjam a cada carnaval pois assim há uma renovação que por muitos anos foi interrompida. O que senti falta foi de escutar mais sambas carnavalescos nas ruas. Seria legal ver mais blocos cantando samba.

Outro ponto que gostaria de repercutir por aqui: acho que o carnaval de rua possibilita aos compositores de blocos uma liberdade que não há mais nas Escolas de Samba. Portanto acho louvável quando escuto sambas, marchas ou marchas-rancho com suas roupagens tão próprias ao carnaval de rua. E não consigo entender direito porque alguns blocos desfilam com sambas-enredo deste molde atual, que é um tanto acelerado e desvirtuado.

Penso que o Carnaval de São Paulo vai trilhando um caminho interessante com os blocos. Gostaria de ver nos próximos anos o surgimento de mais blocos ligados ao samba. Será que não é uma opção interessante para as diversas agremiações (ou "projetos", ou "comunidades", como queiram) de samba da capital e região? No Rio, a festa popular começa a chamar a atenção da mídia e das autoridades. É preciso cuidado para que não aconteça o que aconteceu com os blocos de rua de Salvador e com as Escolas de Samba, que perderam a sua função original e mais nobre: a de proporcionar, para quem quer que seja, alguns dias de reinado. Sambando no chão.

4 comentários:

disse...

Realmente André, aqui em SP os blocos foram um sucesso. Acompanhei o "Vai Quem Quer" que completou 30 anos em 2010. Vi também o Ilú Obá de Min, grupo formado por mulheres na percussão. Além do "Agora Vai", Kolombolo, "Unidos Venceremos", entre outros. Tudo isso em diferentes lugares da cidade. Acredito que no ano que vem os blocos virão com mais gente nas ruas e mais marchinas novas haja vista a alegria e grande participação das pessoas mesmo sem grande divulgação desses eventos.

Artur de Bem disse...

André, o Carnaval e seu irmão Pagode são dois filhos ingratos e, por mim, desertados, do Samba.

Eu já larguei de mão...

Abraço!

Jeferson Cardoso disse...

Olá! Não pretendo lhe tomar muito tempo. Estou divulgando meu primeiro microconto (O Aparelho Digestório). Caso você descida dar uma olhada comente. Terei prazer em retribuir sua visita. Abraço: Jefhcardoso, editor do http://jefhcardoso.blogspot.com

Fernando disse...

O Carnaval de rua, hoje, aquele feliz de antigamente, só pode ser feito assim mesmo, nos blocos... Como você bem disse aí: (...)Gostaria de ver nos próximos anos o surgimento de mais blocos ligados ao samba. Será que não é uma opção interessante para as diversas agremiações (ou "projetos", ou "comunidades", como queiram)(...); Acho que deveria, sim, ser este o objetivo principal de todos os "Projetos", pois é o único jeito de se cantar um Samba de Carnaval de melodia e Cadência, como eram gravados antigamente dos quais cito de exemplo:
Romaria à Bahia (BAHIA)(Abelardo Silva, Duduca e Ernesto José Aguiar)...
Novo dia (Djalma Costa - Eden Silva - O. Magalhães)...
Legados de João VI (Candeia - Picolino da Portela - Waldir)... ETC...

Imagina, isso? Todos cantando, felizes, descendo as ruas, sem nada ligado... Chega a arrepiar só de pensar...

E isso é o nosso plano futuro aqui... Com certeza!


Grande abraço!

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O Couro do Cabrito by André Carvalho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.
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