3 de fevereiro de 2010

Comunas do samba - algumas reflexões

Findou neste último fim de semana que passou a série de shows “Comunas do Samba”, onde diversas rodas de samba de São Paulo e região se apresentaram, sempre com um convidado especial, no palco da Choperia do Sesc Pompéia. Por conta de algumas impossibilidades, não pude acompanhar os oito espetáculos e por isso, vou me ater apenas a duas apresentações que julguei espetaculares: a da Roda de Samba Ouro Verde e Nelson Sargento e do Núcleo de Samba Cupinzeiro e Amélia Rabello.

Ouro Verde e Nelson Sargento

Conheci os sambistas da Ouro Verde lá em Santos, reduto deles. O clube Ouro Verde é um espaço mágico, situado no bairro do Marapé, onde podemos encontrar crianças, jovens e senhores. Pretos, mestiços e brancos. Ricos e pobres. Sambistas, sambeiros, pagodeiros e simples admiradores... É, enfim, um espaço de grande socialização e cultura. Quando soube que estes senhores sambistas viriam se apresentar em São Paulo, ao lado do grande Nelson Sargento, logo me empolguei.

A empolgação que me envolveu aumentou quando eles subiram ao palco, sempre comandados pelo divinal trombone do Marião e pelos acordes (desta vez, empunhando um violão ao invés de um cavaco) do ótimo sambista Zinho. O repertório variado foi muito bom (Paulinho, Nelson Cavaquinho, Zé Keti e outros bambas) e seguiu a linha do que vi e ouvi em Santos. A expectativa pela entrada de Nelson Sargento era grande.

Quando este subiu ao palco, emocionou e surpreendeu a todos. Emocionou porque ele é um sambista consagrado e o simples fato de poder ouvir sua voz já é motivo de grande satisfação. E surpreendeu porque cantou sambas que gostava de cantar, sem se prender apenas às suas composições. O entrosamento foi perfeito. A apresentação foi ótima. Naquele dia, Nelson Sargento foi apenas mais um velhinho do Ouro Verde que canta o que quer, sem se prender absolutamente nada. Naquele dia, Nelson Sargento deixou de ser, por algumas horas, Nelson Sargento da Mangueira para ser Nelson Sargento do Ouro Verde.

Avaliação: **** (ótimo)

Núcleo de Samba Cupinzeiro e Amélia Rabello

Conheci há algum tempo o trabalho desse pessoal de Campinas. No entanto, ainda não tinha visto uma apresentação deles. Já escrevi neste blog sobre a bela voz de Anabela, e pude confirmar neste show minhas impressões: ela não simplesmente canta, ela encanta. Ouvi-la cantar é um deleite, um prazer inenarrável. Com certeza, e sem nenhuma margem de dúvida, trata-se de uma das maiores cantoras da atualidade. Convém registrar que ela é a surdista da roda.

Junto a ela, o Núcleo de Samba Cupinzeiro é formado por grandes músicos, que tratam o samba com o devido respeito que ele merece. É difícil encontrar um conjunto tão bem entrosado sobre o palco. Ainda mais quando podemos ter a oportunidade de ouvi-los cantar músicas de gente boa e nova como é o caso da dupla Renato Martins e Roberto Didio (homenageados com várias músicas próprias na apresentação).

Após algum tempo de show, Amélia Rabello subiu ao palco para cantar algumas músicas gravadas por ela. Apesar de ela ter se apresentado impecavelmente, foi ofuscada por Anabela, cantora que, repito, vai marcar época. Para mim, já marcou. Salve o Cupinzeiro!!!

Avaliação: **** (ótimo)

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