8 de janeiro de 2010

Comunas do samba

São Paulo vê, já há alguns anos, surgir em seus bairros, subúrbios e cidades-satélites diversas agremiações de sambistas, ora chamadas de “comunidades”, ora chamadas de “projetos”, ora sem denominações formais, que têm como alicerces o profundo respeito e compromisso com o samba e a questão social, que o samba - da mesma maneira do que ocorria décadas atrás nas escolas de samba - pode proporcionar, servindo de instrumento de lazer e comunhão às comunidades locais, muitas vezes desprovida dos mais básicos recursos.

Atento a este movimento e mantendo a tradição de sempre valorizar o samba, o SESC Pompéia apresenta, a partir de hoje o “Comunas do Samba”, uma série de oito shows de diferentes “comunidades”, que se apresentarão com seus respectivos “padrinhos”. É uma vitória para os sambistas que desenvolvem, com louvor, atividades que honram e dignificam nosso samba.

Conversei com Marcos Villas Boas, do núcleo de música do SESC Pompéia, para saber mais sobre esta iniciativa:

De onde surgiu a ideia de realizar esta série de shows, reunindo os sambistas dessas diferentes comunidades com outros artistas mais consagrados do grande público?

Não foi uma criação e sim uma constatação de um movimento que está acontecendo aqui em São Paulo. Percebemos que existem trabalhos de grupos de alguns bairros que começam a promover rodas de samba e a comunidade acaba participando e se apropriando disso, transformando num evento social. É um movimento que estamos vivendo e a finalidade foi captar isso e transformar num evento.

Como foi o critério de seleção das comunidades?

Fizemos uma assessoria, falamos com a Jussara Sales, que está por dentro das comunidades e a chamamos para ajudar a compor isso. Ela pesquisou e fizemos um levantamento das comunidades. Das várias selecionadas, escutamos áudios, assistimos vídeos no youtube e também fomos lá conhecer. Por fim, selecionamos o que achamos mais representativo, de varias linhas e de vários cantos de São Paulo e até expandimos um pouco, passando por Campinas e Santos.

E como se deu a escolha dos artistas convidados a se apresentar junto a estes sambistas?
Cada comunidade convidou um “padrinho”, alguém que dê um aval de qualidade, importância, ao grupo.

Como espera a repercussão do evento?
A choperia do SESC Pompéia é um espaço diferenciado para assistir um show, dá pra dançar, é diferente do teatro. E já tem uma tradição, temos um público que sempre acompanha os shows. Então queremos apresentar a esse público o que está acontecendo, às vezes do lado da casa dele, e que muitas vezes a gente desconhece.

Esta iniciativa serve para dar um espaço cada vez maior para estes sambistas anônimos dos vários cantos de São Paulo?

O SESC tem uma tradição nisso... Por exemplo, vamos apresentar alguns shows de artistas gravados pela aquela série Memória do Samba Paulista (série de discos de samba paulista produzidos por T. Kaçula e Renato Dias). Então é uma forma de incentivar. Acho que é importante ressaltar que o SESC vai sempre além da questão puramente estética e musical, ele tem a ver com a questão da comunidade, da comunhão. Temos um trabalho de base, de ensino, de educação musical, de resgate do samba de raiz, trabalhos de alfabetização de adultos, etc. E é o trabalho social que sustenta estas comunidades. Não é só ir lá, tomar cerveja e sambar. Tem a festa, a celebração, que eu acho fundamental, mas tem uma coisa do dia-dia, do cotidiano da comunidade. Como a comunidade trabalha a questão da cidadania, a questão da saúde, da educação... Então muitos desses projetos têm um vínculo forte com essa questão social. Para o SESC é importante apoiar essas comunidades em função desses trabalhos de base que eles desenvolvem

SERVIÇO:
08/01 - Projeto Samba Autêntico e Virgínia Rosa
09/01 - Tias Baianas Paulistas e Dona Inah
15/01 - Samba da Laje e Serginho Meriti
16/01 - Pagode do Cafofo e Maurílio de Oliveira
22/01 - Roda de Samba Ouro Verde e Nelson Sargento
23/01 - Núcleo de Samba Cupinzeiro e Amélia Rabelo
29/01 - Kolombolo Diá Piratininga e Thobias da Vai-Vai
30/01 - Passado de Glória e Wilson Moreira

Os ingressos variam de 4 a 16 reais e as apresentações tem início às 21 horas. Mais informações no site do SESC SP.

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