23 de novembro de 2010

Salve Martinho da Vila

No último dia 21 de novembro, domingo, foi realizada em São Paulo uma grande homenagem ao Martinho da Vila, com organização dos @migos do samba.com e realização do Samba do Olaria. Para a ocasião, preparei um texto que reproduzo abaixo:

@migos do Samba.com apresentam:
HOMENAGEM A MARTINHO DA VILA

Martinho José Ferreira. Sargento Martinho. Martinho da Boca do Mato. Martinho da Vila. Martinho das causas negras. Martinho da lusofonia. Martinho escritor. Martinho do SAMBA.

Existem vários Martinhos. Um batalhador de nossa cultura popular. Sua trajetória dentro da história do samba é carregada de glória. Não uma glória pueril, alcançada facilmente, e sim a verdadeira glória de ter contribuído de maneira significativa para que o samba voltasse a se estabelecer como um ritmo popular e se fixasse definitivamente como a expressão mais autêntica da cultura popular brasileira.

Martinho da Vila nasceu em Duas Barras, interior do estado do Rio de Janeiro, no dia 12 de fevereiro de 1938, um sábado de carnaval. Ainda criança se mudou para a Serra dos Pretos Forros, na Boca do Mato, próximo à Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato, onde logo fez sua segunda casa. Adorava também jogar bola e começou a compor fazendo cantos de incentivo de torcida. Logo começaria a fazer seus sambas.

Nascia aí o jovem compositor Martinho da Boca do Mato. Quem o levou para a Escola de Samba foi Tolito da Mangueira, que foi uma grande referência para o então jovem sambista, bem como Silas de Oliveira, Walter Rosa e Zinco, compositor da Escola de Samba Filhos do Deserto.

Bom de pernada, de samba enredo - que logo começou a emplacar na avenida com sua Escola -, de samba e de partido alto, Martinho era o principal nome da Aprendizes da Boca do Mato. Mas em meados dos anos 60, ele mudou de ares. Foi para a Escola que lhe deu o nome: Unidos de Vila Isabel. Chegou lá para ser secretário da escola e, para ser aceito na ala de compositores, teve que apresentar um samba. Assim nasceu o clássico “Boa noite”.

É preciso ressaltar a qualidade de vida de Martinho José Ferreira na Boca do Mato estava bem longe de ser a ideal. Antes de entrar para o Exército - onde fez carreira e só abandonou por conta do início da vida artística - ele deu duro no batente.

Na adolescência, ao mesmo tempo em que se iniciava no samba (sua primeira composição, “Piquenique”, foi feita aos 15 anos), Martinho carregou lenha, limpou caixa de gordura, fez frete em feiras com seu carrinho de rolimã e vendeu muita bosta de boi como adubo pra grã fino. Ainda foi Auxiliar de Químico Industrial (preparador de óleos e graxas), com curso pelo SENAI, antes de virar militar.

Em 1967, ano que emplacou seu primeiro samba-enredo na Vila Isabel, “Carnaval das ilusões” (parceria com Gemeu), apresentou o partido alto “Menina Moça” no 3º Festival de Música da TV Record e causou grande repercussão. O partido alto e o samba, a partir daí, voltariam à MPB, voltariam a vender discos e a fazer a cabeça dos brasileiros.

Martinho da Vila sempre foi um revolucionário. Colocou o andamento do partido alto no samba enredo, reinventando-o. Recolocou o samba nas paradas de sucesso. Atuou ativamente em militâncias em causas negras. Foi pioneiro na promoção de intercâmbios culturais entre o Brasil e a Angola. Foi e é um símbolo de resistência na arte popular brasileira.

Desde que se lançou à vida artística, Martinho lançou 39 discos de carreira, 10 livros, além de ter promovido diversas ações culturais, seja em defesa do negro, do samba ou de sua Escola do coração.

Martinho da Vila é um dos maiores sambistas de todos os tempos. E como as flores em vida são mais belas, louvemos esta figura humana!

André Carvalho
www.ocourodocabrito.blogspot.com

  
Discografia:

1969 - Martinho da Vila (RCA Victor)
1970 - Meu Laiá-raiá (RCA Victor)
1971 - Memórias de um Sargento de Milícias (RCA Victor)
1972 - Batuque na Cozinha (RCA Victor)
1973 - Origens (Pelo telefone) (RCA Victor)
1974 - Canta Canta, Minha Gente (RCA Victor)
1975 - Maravilha de Cenário (RCA Victor)
1976 - Rosa do Povo (RCA Victor)
1977 - Presente (RCA Victor)
1978 - Tendinha (RCA Victor)
1979 - Terreiro, Sala e Salão (RCA Victor)
1980 - Portuñol Latinoamericano (RCA Victor)
1980 - Samba Enredo (RCA Victor)
1981 - Sentimentos (RCA Victor)
1982 - Verso e Reverso (RCA Victor)
1983 - Novas Palavras (RCA Victor)
1984 - Martinho da Vila Isabel (RCA Victor)
1985 - Criações e Recriações  (RCA Victor)
1986 - Batuqueiro (RCA Victor)
1987 - Coração Malandro (RCA Victor/Ariola)
1988 - Festa da Raça (CBS)
1989 - O Canto das Lavadeiras (CBS)
1990 - Martinho da Vida (CBS)
1991 - Vai Meu Samba, Vai (Columbia/Sony Music)
1992 - No Templo da Criação (Columbia/Sony Music)
1994 - Ao Rio de Janeiro (Columbia/Sony Music)
1995 - Tá Delícia, tá Gostoso (Sony Music)
1997 - Coisas de Deus (Sony Music)
1998 - 3.0 Turbinado ao Vivo (Sony Music)
1999 - O Pai da Alegria (Sony Music)
2000 - Lusofonia (Sony Music)
2001 - Martinho da Vila, da Roça e da Cidade - (Sony Music)
2002 - Voz e Coração (Sony Music)
2003 - Conexões (MZA)
2004 - Conexões Ao Vivo (MZA/Universal Music Group)
2005 - Brasilatinidade (MZA/EMI)
2006 - Brasilatinidade Ao Vivo (MZA/EMI)
2007 - Martinho da Vila do Brasil e do Mundo (MZA / Universal Music)
2008 - O Pequeno Burguês (MZA Music)

Sambas enredos emplacados na avenida:

Aprendizes da Boca do Mato:

1957 - Carlos Gomes (Martinho da Vila) - 7º lugar do Grupo 2
1958 - Tamandaré (Martinho da Vila) - 17º lugar do Grupo 2
1959 - Machado de Assis (Martinho da Vila) - 2º lugar do Grupo 2 (acesso ao Grupo 1)
1960 - Rui Barbosa na Conferência de Haia (Martinho da Vila) - 7º lugar do Grupo 1 (queda ao grupo 2)
1961 - Três vultos da Independência (Martinho da Vila) - 13º lugar do Grupo 2 (queda ao grupo 3)
1962 - Café (Martinho da Vila - Renato) - 13º lugar do Grupo 3
1965 - Construtores da Cidade do Rio de Janeiro (Martinho da Vila) - 9º lugar do Grupo 3

Unidos de Vila Isabel:

1967 - Carnaval das ilusões (Martinho da Vila - Gemeu) - 4º lugar do Grupo 1
1968 - Quatro séculos de modas e costumes (Martinho da Vila) - 8º lugar do Grupo 1
1969 - Yayá do cais dourado (Martinho da Vila - Rodolpho) - 5º lugar do Grupo 1
1970 - Glórias Gaúchas (Martinho da Vila) - 5º lugar do Grupo 1
1972 - Onde o Brasil aprendeu a liberdade (Martinho da Vila) - 6º lugar do Grupo 1
1980 - Sonho de um sonho (Martinho da Vila, Rodolpho de Souza e Tião Grauna) - 2º lugar do Grupo 1
1984 - Pra tudo se acabar na quarta-feira (Martinho da Vila) - 5º lugar do Grupo 1
1987 - Raízes (Azo, Martinho da Vila e Ovídio Brito) - 5º lugar do Grupo 1
1993 - Gabala, viagem o templo da criação (Martinho da Vila) - 8º lugar do Grupo 1
2010 - Noel, a presença do Poeta da Vila (Martinho da Vila) - 4º lugar do Grupo 1

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