1 de maio de 2010

Versátil, sim!

COLUNA DO BIGODE

Há muito tempo que eu queria dedicar um espaço do Couro do Cabrito para um grande talento chamado Iuri Ribeiro, mais conhecido nas rodas de malandragem como Bigode. Mais do que amigo, parceiro e compadre, Iuri é um dos grandes compositores da nova geração e um exímio escritor. A partir de hoje, todo mês, poderemos nos deleitar com seus ótimos textos. Hoje, no dia do trabalho, em sua coluna de estréia, rende um tributo aos vagabundos.

Na sequencia do texto, uma compilação de sambas relacionados ao trabalho, escolhidos pelo próprio Bigode.

Versátil, sim!

Que festa é o primeiro de maio para o vagabundo! Celebrando o que não faz, tem, enfim, a companhia dos amigos que optaram por carreiras menos realizadoras. E chega à conclusão de que todos invejam tão nobre ofício. Lógico, pois no dia do ano que faz homenagem ao trabalho, profissionais das mais variadas áreas, dos mais importantes cargos, de todos os setores da sociedade, deixam seus afazeres diários para (tentar) exercer esta intrigante profissão.

Primeiro de Maio é o dia nacional do estágio de vagal. O dia que consagra a vadiagem como o grande sonho brasileiro. Quem nunca se imaginou no auge desta carreira? Quem, numa segunda-feira de verão, não admirou o cotidiano e as artimanhas dos grandes vadios de sua região.

E não tô falando de ladrão, não. A bandidagem – menos enaltecida pelo povo tupiniquim, mais popular entre nóias e estadistas – é um meio de vida que envolve muito suor e risco, fatores repudiados pelo vagabundo profissional. Aliás, o grande sonho do ladrão é ser vagabundo. Se existiram bandidos bem sucedidos, se tornaram grandes vagais – lógico que não tão autênticos como os que o são de berço.

Fui dar uma olhadinha no pai dos burros, e descobri a definição ideal para o vagabundo: versátil. Excelente! Isso eu sou. Aliás, já tentei ir para outras áreas de atuação, não obtendo tanto sucesso. Nos últimos meses, atuando na área que hoje venho homenagear, venho crescendo pessoal e profissionalmente.

Como errante inveterado, que sente no fundo de suas vísceras que nasceu para o que faz, tenho a oportunidade de descrever, nas vésperas do grande dia, toda a admiração e realização que encontro neste meio de vida incompreendido, porém almejado pela sociedade.

Não pretendo, aqui, revelar quaisquer segredos do ramo. Poderia desequilibrar tão sensível mercado. A quem quiser aprender mais, inúmeros cursos profissionalizantes e de especialização estão disponíveis em cada rincão do país. Mas aviso logo: a relação candidato/vaga deste disputadíssimo vestibular logo desfaz as fantasias dos aspirantes menos qualificados.

Enfim, para não espantar meu público, finalizo esta homenagem aos nômades levianos de todo o Brasil: salve a versatilidade!

Iuri Ribeiro, o Bigode

1 - Filosofia (Noel Rosa) - canta Noel Rosa (1932)
2 - Deus me ajude (Alvaiade - Humberto de Carvalho - Estanislau Silva) - canta Ataulfo Alves (1942)
3 - O que se leva dessa vida (Pedro Caetano) 0canta Ciro Monteiro (1946)
4 - Meu trabalho (Alvaiade - Alberto Maia) - canta Ciro Monteiro (1947)
5 - Falta um zero no meu ordenado (Ary Barroso - Benedito Lacerda) - canta Francisco Alves (1948)
6 - Bebida, mulher e orgia (Luis Pimentel - Anis Murad - Manoel Rabaça) - canta Roberto Silva (1958)
7 - Conversa de malandro (Paulinho da Viola) - canta Zé da Cruz (1965)
8 - Samba do trabalhador (Darcy da Mangueira) - canta Conjunto Nosso Samba (1969)
9 - Inventor do trabalho (Batatinha) - canta Batatinha (1973)
10 - O que será de mim? (Ismael Silva - Nilton Bastos - Francisco Alves) - canta Trama (1974)
11 - Salário mínimo (Alvarenga) - canta Alvarenga (1976)
12 - O invocado / Beberrão (Candeia) - canta Candeia (1978)
13 - Zé Cansado (Padeirinho) - canta Xangô (1978)
14 - Pode guardar as panelas (Paulinho da Viola) - canta Paulinho da Viola (1979)
15 - Tamborim (Zé Keti - Mourão Filho) - canta Zé Keti (1979)
16 - Abrigo de vagabundos (Adoniran Barbosa) - canta Clara Nunes (1979)
17 - Cocorocó (Paulo da Portela) - cantam Clementina de Jesus e Roberto Ribeiro (1979)
18 - Trabalhadores do Brasil (João Nogueira - Paulo César Pinheiro) - canta João Nogueira (1980)
19 - Que trabalho é esse? (Zorba Devagar - Mical) - canta Paulinho da Viola (1982)
20 - Tô caído (Luiz Grande) - canta Luiz Grande (1985)
21 - A vida do trabalhador (Zagaia) - canta Velha Guarda da Mangueira (1989)
22 - Não tenho lar (Regina do Bezerra) - canta Bezerra da Silva (1999)
23 - Ganha-se pouco mas é divertido (Wilson Batista - Cyro de Souza) - canta Cristina Buarque (2000)
24 - Nascer e florescer (Manacéa) - canta Monarco (2000)

5 comentários:

Bloco Paletó Vermeio disse...

E porque não ser versátil?

Trabalhar é Besteira!!!!

Parabéns pelo blog, é bem educativo continue sempre assim!
Saudações vermelhianas de um povo que vive de samba!!!
Visite nosso blog.

Abraços

Anônimo disse...

-Seu Mané Luiz!!! Vai cuidá da vida!
-Já vô minha nega!

Vamo vadiá?

alfredao

Terreiro de Mauá disse...

Salve Bigode!!

Grande parceiro.
Belo texto!!!!

Um grande abraço!!

Edinho

Bigode disse...

Valeu rapaziada!

87 disse...

Que Beleza!!
Aí sim Bigodão!!
É hoje!!

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