Antigamente, as escolas de samba eram um ambiente de respeito. As cabrochinhas tinham que ter autorização dos pais para desfilar e um clima familiar regia o mundo do samba. Em Mangueira não era diferente.
Certa vez, Quincas do Acordeon chegou com uma primeira parte de um samba cheio de gírias e pediu para Nelson Sargento fazer a segunda. Ele negou. Mangueira era um ambiente de respeito, como cantar um samba daqueles?
Ninguém queria fazer a segunda para o Quincas. O único que se interessou foi Padeirinho. Ele fez a segunda parte com um andamento mais sincopado (como era característico de suas composições) e rimou novas gírias. Afinal, samba bom para ele era samba cheio de rimas. O samba ficou assim:
Mora no assunto (Quincas do Cavaco - Padeirinho)
Mora no assunto e vê se te manca
Me admira muito você dando bronca
Ora deixe disso, que é fogo na roupa
Sabe lá o que é isso?
Então, mudou
Te dei o serviço e você não morou
Nessas alturas tenho que te esculachar
Pra seu governo, você deve se mancar
Como é que pode você dar tanta mancada?
Tenteia a Volga e deixa de chinfra, meu camarada
Como é que é? Vê se mora na jogada
Certa vez, Quincas do Acordeon chegou com uma primeira parte de um samba cheio de gírias e pediu para Nelson Sargento fazer a segunda. Ele negou. Mangueira era um ambiente de respeito, como cantar um samba daqueles?
Ninguém queria fazer a segunda para o Quincas. O único que se interessou foi Padeirinho. Ele fez a segunda parte com um andamento mais sincopado (como era característico de suas composições) e rimou novas gírias. Afinal, samba bom para ele era samba cheio de rimas. O samba ficou assim:
Mora no assunto (Quincas do Cavaco - Padeirinho)
Mora no assunto e vê se te manca
Me admira muito você dando bronca
Ora deixe disso, que é fogo na roupa
Sabe lá o que é isso?
Então, mudou
Te dei o serviço e você não morou
Nessas alturas tenho que te esculachar
Pra seu governo, você deve se mancar
Como é que pode você dar tanta mancada?
Tenteia a Volga e deixa de chinfra, meu camarada
Como é que é? Vê se mora na jogada
Quincas, o inventor da nova modalidade de samba não aproveitou este filão. Já Padeirinho passou a fazer vários sambas de gíria, muitos em parceria com o próprio Quincas. Os dois assinam juntos “Vida de operário”, “Fofoca no morro”, “Salve a Mangueira”, além do clássico “Linguagem do morro”. Jamelão se encantou com Padeirinho e o gravou muito. Depois de Lupicínio, foi o compositor mais gravado pela lenda da Mangueira.
Em “Deixa de moda”, Padeirinho conta com todas as gírias possíveis, que o caso dele com a mulher “mirinhou”, ou seja, acabou;
Deixa de moda (Padeirinho)
Ora deixa de moda, que eu não vejo roda na tua baiana
Tens idéia de atraso, mas é que teu caso é assunto de grana
Sabe lá o que é isso, eu lhe dando um serviço e você não morar
Nunca foste modista, teu golpe de vista só tem que falhar
Esse teu baratino não é englobado para me engrupir
Tem bastante conversa, mas eu não vou nessa, é melhor desistir
Deste muita mancada, eu morei na jogada, você bronqueou
Nunca foste de nada, teu assunto mirinhou
Os sambas de gírias eram muito bons. Mas era impossível para quem não fosse do morro entender o que dizia um samba como “Nota de duque”, um dos sambas mais cantados no morro na Mangueira no final dos anos 50:
Uns e outros entrou no estarro
E foi o esparro da situação
Por causa de uma ninharia
Entrou numa fria de bobeação
Ele se meteu no truque
Da nota de duque
Virar um girau
Sem estar por dentro de nada
Caiu na robada
Que nem um capiau...
Padeirinho viu, então, que precisava “traduzir” os seus sambas. Assim surgiu um dos seus maiores clássicos, que mereceu várias regravações, “Linguagem do morro”, parceria com Quincas.
Linguagem do Morro (Padeirinho - Quincas)
Tudo lá no morro é diferente
Daquela gente não se pode duvidar
Começando pelo samba quente
Que até um inocente sabe o que é sambar
Outro fato muito importante
E também interessante
É a linguagem de lá
Baile lá no morro é fandango
Nome de carro é carango
Discussão é bafafá
Briga de uns e outros dizem que é burburim
Velório no morro é gurufim
Erro lá no morro chamam de vacilação
Grupo do cachorro em dinheiro é um cão
Papagaio é rádio
Grinfa é mulher
Nome de otário é Zé Mané
Padeirinho, “o filólogo do morro”. Um dos grandes compositores da Manga.
Fonte: Padeirinho da Mangueira, retrato sincopado de um artista - Franco Paulino
4 comentários:
Piruca, belíssimo texto. Padeirinho foi um senhor sambista, com um estilo algumas vezes parecido ao do Wilson Batista, com letras "malandreadas" e melodias inspiradíssimas!
Abraço, mano!
olá!! descobri hoje seu blog e achei bastante interessante,parabéns!!
eu como "carioca"e morador da zona norte quase toda minha vida,tenho muito do samba em mim e me identifico muito.
cresci indo a festas ao som de agepê,fundo de quintal,marquinhos satã e outros bambas,mas hoje em dia meu contato depende muito da minha vontade de correr atras.
mas aui em casa não falta um bom paulinho da viola,umm reinaldo e acho que tenho 90% do que o bezerra gravou (pra mim um mestre,mas isso é outra história).
gostaria de saber como faço para baixar os sons que cá estão?
abraço e aguardo resposta!
meu e-mail: casezinho@gmail.com
Oh loko parceiro, tá dizendo que é do tempo da pichicata, do tempo que era romantico namorar uma mulher da zona e me compara paulinho com o tal do reinaldo..
Para tudo....
É! Mandou o recado alá Padeirinho!
Reinaldo tem que cantar muito ainda...e Paulinho é Paulinho e fim de papo.
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