Quando os sambas desfilados pelas Escolas de Samba no Carnaval deixaram de ser livres e espontâneos, ou seja, desvinculados de um enredo - de terreiro mesmo, e passaram a obedecer um formato que obedecesse uma temática histórica e nacionalista (era época do Estado Novo de Getúlio Vargas), os sambistas passaram a se valer de um novo elemento no momento das composições das músicas que iriam ocupar o imaginário coletivo durante o Reinado Momesco: os livros de história.
Saía de cena o formato de desfile em que eram cantados três sambas de terreiro com apenas a primeira parte, com temáticas diversas e desvinculadas do enredo do ano (que apenas servia para estabelecer uma unidade visual nas fantasias e alegorias), com os versadores improvisando nas segundas partes, e entrava o modelo que segue até hoje (embora totalmente descaracterizado) que obriga o samba a estar vinculado com o enredo da escola.
Os primeiros sambas enredos possuíam grande riqueza melódica e poética, herança dos sambas de terreiro que eram o que aqueles compositores sabiam fazer de melhor. Aos poucos, estes sambas enredos foram perdendo sua similaridade com os sambas de terreiro, que viraram quadra, e se transformaram em "marcha enredo". O que se vê hoje na Sapucaí não é mais samba, e isso é fato.
Mas mesmo quando os primeiros sambas enredos foram criados, com aquelas lindas melodias, a temática era sempre sobre a história oficial do Brasil, aquela dos livros de História da época, aquela história que era vista pela ótica dos vencedores. Sendo assim, muitas vezes se saudavam ditadores, coronéis e oficiais militares. O negro... O negro era quem desfilava e só. Jamais louvado, jamais festejado nos enredos.
Até que o Salgueiro começou a falar da Chica da Silva, do Chico Rei, do Navio Negreiro, de Palmares. A Unidos da Tijuca, também. E assim outras Escolas foram por este caminho.
Mas foi apenas um sopro. Hoje, nem a História do Brasil é mais contada pelas Escolas de Samba no Carnaval. Os enredos são comprados por empresas. E os compositores muitas vezes nem fazem mais samba de terreiro (ou quadra, nos dias de hoje).
Diante deste cenário surge um novo elemento. A Lei 10.639-03, que obriga o ensino da História e da Cultura Afrobrasileira. E como seriam os enredos do passado se esta lei já existisse àquela época?
Pois neste cenário que une o carnaval descaracterizado - sem samba enredo e sem samba de terreiro nos desfiles - a uma estrutura educacional brasileira falha, que pena para por em vigor uma lei que já deveria ter criada junto com a Lei Áurea, temos um sopro de esperança.
É chegada a hora de anunciar a volta às origens, a busca pela tradição, o ideal de fazer com que o samba seja agente transformador: o Bloco de Samba Pega o Lenço e Vai.
Um pouco de sua história e contexto geral. A Grande São Paulo abriga hoje diversos coletivos de sambistas que atuam na preservação de uma memória coletiva. Pessoas que estudam, pesquisam e resgatam muitos sambas antigos, de grandes compositores. Envolvidos na criação deste importante Bloco de Samba estão o Samba de Terreiro de Mauá, o Terra Brasileira, o Glória ao Samba, o G.R.E.S. Imperatriz Mauaense e mais alguns sambistas. Fundamental também para a criação deste Bloco é a atuação do Coletivo Usina Preta, que faz importante atuação no movimento negro.
Um pouco de sua história e contexto geral. A Grande São Paulo abriga hoje diversos coletivos de sambistas que atuam na preservação de uma memória coletiva. Pessoas que estudam, pesquisam e resgatam muitos sambas antigos, de grandes compositores. Envolvidos na criação deste importante Bloco de Samba estão o Samba de Terreiro de Mauá, o Terra Brasileira, o Glória ao Samba, o G.R.E.S. Imperatriz Mauaense e mais alguns sambistas. Fundamental também para a criação deste Bloco é a atuação do Coletivo Usina Preta, que faz importante atuação no movimento negro.
Danilo Ramos Silva, o Danilão de Mauá, é peça chave na gênese deste projeto. Fundador e articulador político do Samba de Terreiro de Mauá, também é criador do Usina Preta. Pensando no centenário da Revolta da Chibata, completada em novembro do ano passado, começou a imaginar a criação de um Bloco que pudesse sair no Carnaval exaltando os heróis negros, esquecidos pela História, e com isso valorizar a Lei 10.639-03, ao mesmo tempo que pudessem novamente emplacar o samba na avenida, como nos bons tempos. A ideia de também se cantar sambas de terreiro, sem enredo, como na época carnavalesca pré-Estado Novo, também entrou em pauta.
"O Bloco surgiu com a ideia de resgatar os antigos carnavais e trazer uma discussão política dentro disso, com um tema chave, e abrindo espaço para composições desta linhagem de samba de terreiro de vários parceiros", explica o militante.
O samba enredo de 2011 é o João Cândido, herói brasileiro, de Danilão e Leo. Também serão cantados no desfile: Pobre bem-te-vi (Lo Ré e Tuco), Esquenta os tamborins (Robson do Terra Brasileira e Bola), Vertendo lágrimas (Edinho e Marcelo Baseado) e Ingrata mulher (Careca do Violão).
Na pesquisa para o enredo, foi fundamental o apoio do Ceap (Rio) e do Instituto do Negro Padre Batista.
A ideia era fazer algo novo, que pudesse reviver os carnavais de outrora, mas sem deixar de ter uma ligação com as atividades que os coletivos desenvolvem durante todo o ano.
E se durante estas atividades o grande foco era a preservação dos sambas antigos, o desfile não seria a hora ideal para se cantar as novas composições que vêm surgindo por aí?
"Sempre tivemos em Mauá esse compromisso com o resgate de sambas antigos. Mas é importante abrir espaço para o novo. Senão fica contraditório. Qual é a renovação, que olhar novo?", analisa Danilão. "Dentro desse olhar, aproveitamos o bloco para explorar isso. Então anualmente teremos uma renovação", complementa.
Leonardo Dias, o Leo, outro grande articulador do Samba de Mauá analisa esta opção. "À princípio, pensamos em cantar alguns sambas de terreiro antigo, mas vimos que seria uma ótima oportunidade de cantar os sambas novos da rapaziada. O Marcelo Baseado, daqui de Mauá, foi um grande idealista disso aí."
O nome do bloco, Pega o Lenço e Vai, tem explicação. Os marinheiros usavam um lenço amarrado na testa (para proteger do suor, limpar a pólvora, etc) durante as guerras e confrontos. Em tempos de paz, o lenço ia pescoço. Hoje é símbolo da Marinha. Neste bloco que nasce homenageando um marinheiro negro, herói brasileiro, nada mais justo que o nome seja este. A ideia do nome partiu de outro sambista de Mauá, o Ocimar, também um grande batalhador pelo samba.
"No bloco, não vai ter fantasia, uniforme... Só um lenço no pescoço. Você pega o lenço e vai", afirma Léo.
O samba enredo de 2011 é o João Cândido, herói brasileiro, de Danilão e Leo. Também serão cantados no desfile: Pobre bem-te-vi (Lo Ré e Tuco), Esquenta os tamborins (Robson do Terra Brasileira e Bola), Vertendo lágrimas (Edinho e Marcelo Baseado) e Ingrata mulher (Careca do Violão).
Na pesquisa para o enredo, foi fundamental o apoio do Ceap (Rio) e do Instituto do Negro Padre Batista.
A ideia era fazer algo novo, que pudesse reviver os carnavais de outrora, mas sem deixar de ter uma ligação com as atividades que os coletivos desenvolvem durante todo o ano.
E se durante estas atividades o grande foco era a preservação dos sambas antigos, o desfile não seria a hora ideal para se cantar as novas composições que vêm surgindo por aí?
"Sempre tivemos em Mauá esse compromisso com o resgate de sambas antigos. Mas é importante abrir espaço para o novo. Senão fica contraditório. Qual é a renovação, que olhar novo?", analisa Danilão. "Dentro desse olhar, aproveitamos o bloco para explorar isso. Então anualmente teremos uma renovação", complementa.
Leonardo Dias, o Leo, outro grande articulador do Samba de Mauá analisa esta opção. "À princípio, pensamos em cantar alguns sambas de terreiro antigo, mas vimos que seria uma ótima oportunidade de cantar os sambas novos da rapaziada. O Marcelo Baseado, daqui de Mauá, foi um grande idealista disso aí."
O nome do bloco, Pega o Lenço e Vai, tem explicação. Os marinheiros usavam um lenço amarrado na testa (para proteger do suor, limpar a pólvora, etc) durante as guerras e confrontos. Em tempos de paz, o lenço ia pescoço. Hoje é símbolo da Marinha. Neste bloco que nasce homenageando um marinheiro negro, herói brasileiro, nada mais justo que o nome seja este. A ideia do nome partiu de outro sambista de Mauá, o Ocimar, também um grande batalhador pelo samba.
"No bloco, não vai ter fantasia, uniforme... Só um lenço no pescoço. Você pega o lenço e vai", afirma Léo.
Mais que um simples desfile carnavalesco, mais que apenas brincar o carnaval, os sambistas envolvidos pretendem mostrar que o samba pode ser um agente social, político, de transformação e conscientização.
Ao buscar estabelecer uma relação entre o samba e "uma cultura de paz, nossa arte, nosso amor", o Bloco de Samba Pega o Lenço e Vai cumpre seu papel. No dia do desfile será o "dia de rei" para os foliões. Com civilidade, compromisso social e responsabilidade, conforme nos legou Paulo da Portela.
"Não podemos só ficar batendo pandeiro sábado e domingo sem compromisso, sem um propósito maior. Tem que haver uma ação social também", diz Léo. Ações que nos remetem a um tempo em que as Escolas de Samba cumpriam este propósito. "Estamos resgatando uma natureza que nos foi tirada", completa o sambista.
Neste sábado, às 15 horas, o bloco sai do Pólo Cultural Buiú's (Bar do Buiú), tradicional ponto de encontro do Samba de Terreiro de Mauá. O endereço é Rua San Juan, 121, Parque das Américas, em Mauá.
Hora de ver a história de ser escrita, participar dela. Vida longa ao Bloco de Samba Pega o Lenço e Vai.
Hora de ver a história de ser escrita, participar dela. Vida longa ao Bloco de Samba Pega o Lenço e Vai.
João Candido, o herói brasileiro (Danilão - Leonardo)
Salve o Almirante Negro
Que liderou a grande insurreição
Por anos foi tratado como desertor
Pela Marinha brasileira
Em 22 de novembro de 1910
Num jantar concedido
Para o alto escalão
Guanabara recebeu
O primeiro tiro de canhão
João Cândido herói
Cidadão negro brasileiro
Líder da revolta da chibata
Clamou justiça
Para o pobre trabalhador
Laiá laiá laiá
João Cândido é o nosso grande herói brasileiro
Laiá laiá laiá
Salve o Almirante Negro
8 comentários:
Samba magistral.
Digno dos antigos desfiles.
Parabéns aos compositores
Nem achei. Pra ser franco achei o samba bem esquisito. Parece que não tem liga. Não imagino um bloco desfilando ao som de um samba como esse que no meu ponto de vista em nada lembra os sambas de bloco do passado. Se é pra resgatar, então vamos começar com o resgate da qualidade das composições porque resgate por resgate é melhor ficar de boa.
Contudo, a iniciativa é válida.
Abç
Anônimo, recado dado. Se quiser imaginar como será este samba no desfile, é só chegar lá em Mauá sábado. Abraço!
Através desse video feeito em um ensaio, da pra imaginar o desfile...será muito mais que um resgate será reviver os carnavais de outrora
http://www.youtube.com/watch?v=HbioLhXeYrw
È interessante que hajam desavenças. Pois se todos tivessem a mesma opinião, nada teria graça. A diversidade é muito importante.
Cada um segue naquilo que acredita.
Eu gostei muito deste samba e da idéia do bloco. Dizer que o samba não tem liga? Não entendi. Mas é assim mesmo cada um tem uma emoção diferente. Prefiro acreditar na minha emoção que fizeram meus olhos razos d'água ao ouvir uma melodia tão sincera quanto a deste samba e melhor ainda é saber que é uma samba comtemporâneo, eu já não tinha mais esperanças de que surgissem coisas tão belas assim. Mas cada um é cada um.
Maurício
realmente esse samba ficou muito ruizinho pra um bloco. De fato é esquisito, pois parece que não tem strik!
Strik? Liga? o samba é bolo pra ter que dar liga? como é essa história?
Esse aí é da turma do pumbumpraticumbumpurugundum.
Seja feliz anônimo.
Felipe - SP
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