13 de abril de 2010

O Morro e o asfalto no Rio de Noel Rosa (João Máximo)


No tempo de Noel Rosa, o Rio era um outro Rio. Tanto no asfalto como no morro, o ritmo e as condições de vida eram diferentes. Noel, nos seus curtos 26 anos de vida, esteve intensamente presente nestes dois ambientes. Nascido, criado e tendo falecido na mesma casa em Vila Isabel, ele frequentava os cafés e a Lapa boemia, mas não hesitava em subir o morro para fazer samba com seus amigos (Cartola era um dos mais próximos). Em uma edição luxuosa da Editora Aprazível, com texto do biógrafo de Noel, João Máximo, e repleto de fotos do Rio antigo, o livro “O Morro e o Asfalto no Rio de Noel Rosa”, nos remete a uma cidade, então Capital Federal, que era o lar de Noel. Sim, porque sua vida se dava fora de sua casa em Vila Isabel, nas ruas, nos botequins e nos morros.

Mesclando curiosidades históricas de sambas e vivências do poeta da Vila, com fotografias temáticas à esses assuntos específicos, temos neste livro um grande documento histórico do Rio. A Lapa com seus cabarés, o carnaval, os morros, os cafés, a Vila Isabel, os teatros de revista, as rádios, as grandes orquestras, tudo isso fez parte da vida de Noel. E João Máximo escreve sobre isso com tanta propriedade sobre isso que podemos reviver esta época mesmo sem ter vivido. Dá até saudade de um tempo que não vivi.

No trecho onde explica a origem do samba, o autor é extremamente feliz. Ele relata que o samba antigo, amaxixado, proveniente da Cidade Nova (ou “Pequena África”) era fruto de uma criação coletiva e histórica dos negros iorubás, que vieram para o Rio provenientes da Bahia, em meados do século XIX, antes da abolição. Já os negros do Estácio de Sá e de outras elevações como o Morro do Pinto, do Castelo, dos Macacos e da Favela, eram bantos e vieram do Vale do Paraíba, após o fim da escravidão. Pobres, praticamente miseráveis, desenvolveram um “samba duro”, sem cordas, que acabou resultando no formato mais difundido e tocado até hoje, um samba para desfilar no carnaval, e não bailar.

Quando relata a Lapa boemia, dos cabarés, novamente João Máximo vai muito bem (e as fotos das meretrizes da época são interessantíssimas), assim como quando fala dos cafés - nomes pomposos para os verdadeiros botequins.

O carnaval da época com os seguidos sucessos de Noel nas disputas de sambas carnavalescos, as parcerias do compositor com os sambistas do morro, a sua investida no teatro de revista, tudo isso vem fartamente detalhado e ricamente ilustrado. Para completar, a excelente publicação traz um cd com alguns sambas do Mestre Noel. Uma verdadeira jóia.

Em seu centenário, Noel Rosa, que já foi tão estudado e biografado, ganha um excelente tributo. As músicas, as histórias e as fotos nos remetem à Vila Isabel, à Lapa e aos morros. Era o “rolê” do jovem compositor, que a tuberculose levou, mas que o tempo e o samba consagraram nos anais da História do Brasil.

Avaliação: ***** (excelente)

O Morro e o asfalto no Rio de Noel Rosa
Autor: João Máximo
Editora: Aprazível
Ano: 2010
Preço sugerido: R$ 140,00

3 comentários:

Don Oleari disse...

Bom dia:

Dei uma pesquisada rápida e na Livraria da Travessa tá ofertado por 117 reais, o livro aí.

Excelente indicação.
O samba do Candeia também é uma ótima.
Vou me permitir mostrá-lo no nosso semanal "Clube da Boa Música" - e boa prosa - na próxima segunda de 8 às 10 da noite na www.universitariafm.com.br - 104.7

naturalmente dando os créditos para O Couro do Cabrito e seu editor.

Abração do Oleari

Fel Mendes disse...

Pô, bixo, comprei essa joia!

Altamente recomendável!

Anônimo disse...

Concordo com tudo que você disse, esse livro é genial, como o Noel, aliás.

Abraços
Iara Teixeira

Creative Commons License
O Couro do Cabrito by André Carvalho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.
Permissions beyond the scope of this license may be available at www.creativecommons.org.br.