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4 de janeiro de 2013

O samba carioca de Wilson Baptista

Dando início às homenagens ao centenário de Wilson Batista, celebrado neste ano de 2013, reproduzo aqui uma resenha sobre o disco "O Samba Carioca de Wilson Baptista", publicada em julho de 2011 na revista Carta Capital. Segue o texto na íntegra, sem cortes.

Garimpo, em tempo

Wilson Batista, autor de clássicos do carnaval (do samba e da MPB) como “Emília”, “Bonde São Januário” e “Oh, Seu Oscar”, teve o primeiro samba gravado, “Por favor vai embora”, há 79 anos. Desde então, dezenas de intérpretes de várias gerações registraram suas canções. Mas faltava um trabalho de “garimpo” em sua obra à altura de sua importância para a música brasileira.

O Samba Carioca de Wilson Baptista, esmerado projeto de pesquisa de Rodrigo Alzaguir, homenageia o sambista com um álbum-tributo (duplo), trazendo composições inéditas (nove), registros caseiros raros (dois) e um musical (na íntegra). São crônicas, que retratam o Rio Antigo, o samba, a malandragem, o trabalho e as mulheres. Um resumo da biografia do artista.

O álbum é dividido em duas partes. O Disco Um é a “Reserva Especial”, que traz uma seleção de músicas raras, inéditas ou jamais regravadas. Participam das gravações: Cristina Buarque, Elza Soares, Wilson das Neves, Samba de Fato, Nina Becker, Rosa Passos, Marcos Sacramento, Tantinho da Mangueira, Teresa Cristina, Céu, Mart'nália, Zélia Duncan, Cláudia Ventura, Rodrigo Alzuguir e Roberto Silva (que conviveu com Wilson Batista e agora, nonagenário, regrava alguns sambas). Destaques para “Não sei dar adeus” (gravada em 1939), parceria com Ataulfo Alves, interpretada por Marcos Sacramento e a marcha-rancho inédita “Nelson Cavaquinho”, por Teresa Cristina.

O segundo disco é o “Espetáculo”. Trata-se da trilha sonora do espetáculo “O samba carioca de Wilson Baptista”, encenado e cantado por Rodrigo Alzuguir e Cláudia Ventura em uma aplaudida temporada nos teatros do Rio. O musical traz passagens da vida de Wilson Batista, seus principais personagens (como Etelvina, Emília, Seu Oscar e Chico Brito), a famosa polêmica com Noel e vários sucessos. 

O Samba Carioca de Wilson Baptista é um disco que foge do óbvio. Ao resgatar a obra, ilumina a biografia do sambista. Resgatando o passado, ilumina o presente, preparando terreno para as futuras gerações de sambistas.


3 de dezembro de 2010

Tuco & Batalhão de Sambistas - Peso é Peso (2010)


"Samba pesado" é como é chamado, carinhosamente, o samba de terreiro tocado à maneira antiga - com surdo, pandeiros de couro, tamborins, reco-reco, cuíca, agogô, violões, cavaquinhos e um "lençol de vozes", costurando tudo com muita harmonia no coro - pelos sambistas que gostam de praticar esta (belíssima) modalidade deste ritmo quente. "Vamos armar um pesado?", "Estava pesado o samba", "Aquela roda de samba é pesada" são expressões usuais no meio do samba.

Sendo assim, "Peso é Peso", de Tuco & Batalhão de Sambistas faz jus ao nome. 

O disco foi gravado ao vivo, na Sala Adoniran Barbosa, no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista, nos dias 26 e  27 de fevereiro. Na ocasião escrevi um artigo aqui no Couro.

Pouco depois escrevi outro texto, ainda não publicado neste blog  que transcrevo agora:    

Respeito, admiração, louvor e gratidão. É assim que o samba é tratado por Tuco e o Batalhão de Sambistas, expoentes da atual cena do samba da Paulicéia. Formado por sambistas que cultuam a tradição do samba de terreiro, mas que bebem na escola do choro e amam e valorizam os grandes sambas da Era de Ouro da nossa música popular, o Batalhão, capitaneado pelo excelente “crooner” Tuco, se prepara para lançar seu primeiro CD, “Peso é Peso”, gravado ao vivo nos dias 27 e 28 de fevereiro e que contou com as luxuosas participações de Monarco, Nelson Sargento e Cristina Buarque.

Fernando Pellegrino, o Tuco, foi fundador do extinto Morro das Pedras e também do Terreiro Grande, onde atua como cavaquinista. Foi nas rodas de samba que aprendeu a cantar em alto e bom som, no gogó, como se fazia no passado com nomes como Ventura, Noel Rosa de Oliveira e Jamelão. Suas interpretações também nos remetem a grandes nomes das rádios dos anos 30 e 40 como Francisco Alves e Ciro Monteiro.

Criado neste ambiente informal, foi pelas rodas de samba da vida que conheceu os outros integrantes do Batalhão, todos sambistas estudiosos que aprendem com carinho o que os mestres do samba tanto tem a os ensinar.

“Peso é Peso”, o primeiro disco de Tuco, é fruto de anos de muita pesquisa e dedicação. Foram anos passados em sebos, rodas de samba, convivendo com alguns dos maiores nomes do ritmo mais tradicional do Brasil: Monarco e Cristina Buarque foram importantes fontes para o repertório do disco. Assim como do acervo de José Ramos Tinhorão, disponível para consulta no Instituto Moreira Salles, vieram outras “brasas” pouco conhecidas.

Um disco com tantos sambas inéditos de nomes como dos portelenses Paulo da Portela, Manacéa, Aniceto da Portela, Mijinha, Antônio Caetano, Picolino, Monarco, Chatim, Lincoln e Alberto Lonato; de sambistas da turma de Mangueira de estirpe de Zé Ramos, Nelson Sargento e Marreta, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito; e de imperianos do quilate de Antenor do Império e Silas de Oliveira, é mais do que um simples registro fonográfico, é um documento histórico. E se a história se faz pelos fatos de um passado que já foi presente e que é justamente o que estamos vivendo agora, este documento musical não poderia ter músicos tão bem escolhidos.

Alfredo Castro e Jorge Garcia são também batuqueiros do Terreiro Grande e formam uma dupla de tamborins como há muito não se via. Alfredo também toca cuíca e agogô e Jorge, agogô. Rafael Toledo toca agogô, tamborim, reco-reco, caixa e quando toca pandeiro faz uma excelente dupla com Roberto Amaral, que também executa o instrumento no Núcleo de Samba Cupinzeiro. Donga faz a marcação com muita malandragem. Ele que foi um bamba do Morro das Pedras.

Junior Pita é o violonista de 6. Exibe muita tranqüilidade e esmero em suas interpretações. Lucas Arantes, cavaquinista de samba e de choro, faz um centro perfeito, além de solar carinhosamente bem na faixa ‘Ironia”, de Ismael Silva e Nilton Bastos. João Camarero, violão de 7 cordas, é o maestro do Batalhão. Formam um entrosado regional.

O coro é um caso a parte, pela excelência alcançada por seus componentes. De um lado, Keila Santos, com sua bela voz, Francineth, ex-integrante do lendário conjunto vocal “As Gatas” e Cristina Buarque, que dispensa apresentações. Do outro, Rafael Loré, potente voz do “Glória ao Samba”, Janderson Buiú, companheiro de samba de Tuco na Baixada Santista e Fernanda Paiva, mineiro bom que também ajudou a montar o repertório.

O respeito aos antigos compositores, intérpretes, instrumentistas e arranjadores do passado faz com que arranjos das músicas, feitas por Tuco e João Camarero, sempre privilegiem sua roupagem original, sem limitar a criatividade e improviso dos músicos envolvidos nesta obra.

O tempo foi passando e a expectativa aumentava pela chegada do disco. Até que, no início de novembro, finalmente foi lançado esta joia. O lançamento, histórico, eu imortalizei em algumas linhas.



Pouco depois, a oportunidade de escrever um artigo sobre este grandioso trabalho na revista Carta Capital. Novamente, transcrevo aqui o artigo, na íntegra:

Uma voz forte e marcante do solista. Jovens músicos de alta patente com anos de estrada nas rodas de samba e de choro. Arranjos no formato e na cadência do samba antigo e uma profusão de sambas inéditos e desconhecidos de uma constelação de bambas do passado. Isto é Peso é Peso, álbum de estreia de Tuco & Batalhão de Sambistas, gravado ao vivo, em fevereiro deste ano, no Centro Cultural São Paulo.

Fernando Pellegrino, o Tuco, fez escola em importantes agremiações paulistanas de preservação do samba como o Morro das Pedras e o Terreiro Grande, e tem em seu canto o timbre de “gogós” do passado como o portelense Ventura e o mangueirense Jamelão. Pesquisador, fez do disco um documento da cultura popular brasileira com músicas inéditas de nomes como Paulo da Portela, Silas de Oliveira, Nelson Cavaquinho e Manacéa, além de Monarco e Nelson Sargento, que interpretam seus sambas no disco.

Também participa do álbum, na pesquisa, no coro e solando em duas faixas, Cristina Buarque. Ao lado dela, está o Batalhão de Sambistas, músicos que, com capricho, fazem do andamento do samba aquele que se fazia na Portela antiga, cada vez mais deixada de lado pelos defensores da “modernidade”. Estes fiéis arranjos à musicalidade do passado foram desenhados em conjunto por Tuco e pelo violonista João Camarero.

Um disco com tantos sambas inéditos de grandes compositores da Portela, Mangueira, Salgueiro, Império Serrano e Estácio de Sá, executados com respeito e admiração pelo conjunto, já nasce histórico.

E agora que já falei tanta coisa sobre o disco, cabe algumas considerações finais:

- O trabalho gráfico, realizado por Daniel Capu, é fino.
- A mixagem, feita por Pedro Romão - que tem um grande ouvido, uma fina percepção musical (e isto faz toda a diferença) - é de tirar o chapéu.
- Os arranjos originais das músicas que já haviam sido anteriormente gravadas ficaram absolutamente fiéis.
- Surge um notável cantor. Para entrar na história do samba.

Algumas faixas do disco para deleite:

Amor a Deus (Nelson Cavaquinho - Guilherme de Brito) - inédita

Luz da minha vida (Silas de Oliveira) - inédita

Para finalizar segue o belíssimo texto do encarte, escrito por Marília Trindade Barbosa, craque da canete, biógrafa de Cartola, Paulo da Portela e Silas de Oliveira, entre outros.

PESO É PESO
Tuco e Batalhão de Sambistas

Nascido e criado no Centro do Rio de Janeiro, em 1901, Paulo da Portela, antes dos 20 anos já chegou ao subúrbio como líder: "Chama o 'seu' Paulo que ele resolve!". Mulato alto, bem falante, sem grandes estudos mas com o dom da palavra, muito elegante - só andava de terno, gravata de laço e sapato engraxado - lustrador por profissão, compositor por talento, Paulo Benjamim de Oliveira resolveu fazer de Oswaldo Cruz e adjacências o bairro do coração, um bom lugar de se viver, como era a velha Praça Onze.

Compositor respeitado, mestre de harmonia, dançarino de primeira linha, era um verdadeiro lorde. Com Rufino e Caetano, em 1926, fundou a Portela e fez do bairro a capital do samba nos subúrbios. Paulo da Portela atuou na política, tornou-se amigo de prefeito, escritores, intelectuais, virou membro da diretoria de diversas agremiações. Mas morreu cedo, em 1949.

Seus companheiros, entretanto, continuaram a cultuar o som que nasceu, se espalhou nos morros da cidade e de cristalizou com ele: o som da Velha Guarda da Portela. Armando Santos, Alvaiade, Manacéa, Chico Santana, Casquinha, Alberto Lonato, Argemiro, Monarco, as pastoras Doca e Eunice e os músicos Osmar do Cavaco, Olímpio da Cuíca, Jorge do Violão. Cabelinho no Surdo e o muito jovem Mauro Diniz, formaram, sob a direção do primeiro, a Velha Guarda Show.

Em 1970, Paulinho da Viola produziu o emblemático LP "Portela Passado de Glória" que mostrou  com música a verdade musical daquela gente. Para entender, basta ouvi-los: pura poesia nas letras simples, reveladoras do cotidiano daquelas talentosas criaturas suburbanas, o amor proibido, a mulher leviana, o malandro traído. E, sobretudo, o amor ensandecido pela Portela.

À exceção de Paulo, por volta de 1977 conheci praticamente todos, e sempre que um ia embora, nosso universo ficava mais pobre. Por isso, com o passar dos anos, cada vez ficava mais difícil ouvir o som da Velha Guarda da Portela, apesar do talento e dos esforços do incansável Monarco.

Até que o povo lá de cima resolveu, pelas mãos de Cristina Buarque (benza Deus, guerreira!) mandar o Tuco (nome "de guerra" de Fernando Pellegrino Rodrigues Luzirão), para que o som puro, límpido e verdadeiro das velhas guardas do samba permancesse na terra, perto de nós. Os mestres se foram, mas Tuco preserva, com luxos de ourivesaria a obra deles e das velhas guardas. Porque o samba de terreiro, de ritmo cadenciado, praticamente foi-se perdendo no tempo, desde o instante em que virou samba de quadra e, depois, MPB.

A pureza das letras, reveladoras do cotidiano dos "bambas" e suas "criaturas", do machismo daqueles para quem sempre a mulher é "leviana", a "perdida", que lhes manchava o nome... Eles, não! Desde que dessem casa e comida à companheira, achavam lícito cortejar todas as outras mulheres da comunidade. E as patroas que ficassem de bico calado! Era o famoso "samba de falar mal de mulher".

As melodias, sempre cheias de volteios e tons bem altos, eram compostas para fazerem bonito quando entoadas pelo coro de pastoras.

O minucioso e sério trabalho de Tuco é garimpo, é "pura arqueologia", já que as músicas apresentadas são quase todas inéditas. E como é que esse jovem de São Paulo foi mergulhar, de lupa em punho, no repertório daqueles antigos senhores dos subúrbios do Rio de Janeiro e de lá retirar maravilhas que parecem ilustrar verso de Cartola: "misturada entre as pedras preciosas do mundo, com um simples olhar a você não confundo"? Tuco vai fundo, há 15 anos é um "rato" dos arquivos das rádios, de José Ramos Tinhorão, do IMS, buscando audios raros de 78 Rotações em sebos, da memória dos senhores da Velha Guarda da Portela e de outros como eu e Cristina, não tão velhas, mas perdidamente apaixonadas pelo assunto. Fala, Tuco:

"A maioria dos sambas é inédita e já é um trabalho que faço há muito tempo... Quando conheci a Cristina ganhei muitas coisas que ela me passou e, a partir daí, fui ouvindo e aprendendo para então colocá-las nas rodas de samba que eu fazia com meu antigo pessoal do Morro das Pedras - um projeto onde homenageamos muitos desses autores desconhecidos."

Ouvindo os sambas com atenção, reconhecemos o som da Portela, bem diferente doda Mangueira, do Salgueiro, do Império e do Estácio. Cada um com sua sonoridade, mesmo quando o formato escolhido é o mesmo, um solista, coro de pastores(as) e acompanhamento de cavaco, violão e percussão. Coisa de DNA.

Destacam-se do grupo dos sambas (inéditos ou pouco conhecidos, na maioria), a marcha do mestre Paulo ("Aí vem a primavera" - uma beleza! - enriquecida com uma citação de uma das primeiras marchas da "Vai como pode") e o maxixe "Quem eu deixar não quero mais", de Mano Edgar do Estácio, Tuco, ao gravar pela primeira vez, neste CD, o nome de Edgar, deve tê-lo feito sorrir lá do céu.

A Portela deita e rola no repertório escolhido, com mestre Paulo, na marcha já citada e no samba "Não se deve contar glórias", Mestre Monarco, com uma belíssima participação ao vivo, Antonio Caetano, também fundador da Portela, Picolino, Chico Santana, Alberto Lonato, Lincoln, os irmãos Andrade - Manacéa, Mijinha e Aniceto da Portela, além de Chatim e Ernani Alvarenga.

A turma da Mangueira também está muito bem representada, por Cartola, Nelson Sargento, Marreta, Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito e o grande injustiçado Zé Ramos.

O Estácio comparece com os pioneiros Bide, Edgar, Licurgo, Batista, Ismael Silva, Nilton Bastos e o polêmico "compositor" Chico Alves.

Noel Rosa de Oliveira representa com dignidade o Salgueiro, o mesmo acontecendo com Silas de Oliveira e Antenor Bexiga, que mostra o saudoso primeiro samba de terreiro do Império Serrano "O branco é paz".

Sinceramente, o que o meu querido Tuco está fazendo é reeditar, 40 anos depois, um CD tão importante como o já citado "Portela Passado de Glória". Com um repertório muito mais parecido ao que Paulo da Portela escolheria, acho eu. Explico: o nosso mestre Tinhorão sempre comparou assim Cartola e Paulo:

"Cartola é o Cartola DA MANGUEIRA."
"Paulo da Portela é o Paulo "DE TODAS AS ESCOLAS". A diferença está na diversidade!

Para terminar, não posso deixar de falar na voz do Tuco. A gente ouve e leva um susto. Parece a voz dos velhos puxadores/versadores, do tempo em que os desfiles não possuíam aparelhos para amplificar o som. Gente como Ventura, Alcides, João da Gente, Jamelão. Um misto de amor, beleza e um travo de angústia, até na hora da dança e do som carnavalesco, na linha do inesquecível Aniceto do Império Serrano.

A garra do Batalhão de Sambistas (enriquecida pela participação de Rafael, Fernando e Janderson), faz lembrar um batalhão mesmo, pronto para a guerra. Mas uma guerra em que o som não assusta, o som seduz. Além do auxílio luxuoso das coristas, Francineth, Keila Santos - e "Dona" Cristina!

Obrigado Tuco e Batalhão de Sambistas.

Obrigado Monarco, Nelson Sargento e Cristina Buarque de Holanda, por suas participações ao vivo. Vocês, entidades da música de raiz, permitem que se diga que esse é um CD para se ouvir ajoelhado.

E tenho dito!

Marília Trindade Barboza


Ficha Técnica:

Direção Musical: Tuco e João Camarero
Produtor Fonográfico: Tuco
Produtora Executiva: Noeli Pellegrino
Mixagem: Pedro Romão
Masterização: Classic Master
Projeto gráfico: Daniel Capu
Ilustração da capa: Amadeu Carlo Penzin
Fotógrafo: Agnaldo Rocha

Voz: Tuco
Violão 7 cordas: João Camarero
Violão 6 cordas: Junior Pita
Cavaco: Lucas Arantes
Surdo: Donga
Pandeiro: Beto Amaral
Pandeiro, caixa , agogô, tamborim e reco-reco: Rafael Toledo
Tamborim e agogô: Jorge Garcia
Cuíca, tamborim, agogô: Alfredo Castro
Coro masculino: Rafael Loré, Fernando Paiva e Janderson Buiú
Coro feminino: Cristina Buarque, Francineth, Keila Santos
Participações especiais: Monarco, Nelson Sargento e Cristina Buarque

O disco pode ser encontrado aqui.

1 de dezembro de 2010

Marquinhos Jaca - Número Um do Brasil (2010)


O primeiro disco de Marquinhos Jaca é um disco de partido alto. Da primeira à última faixa, o que predomina é a modalidade do samba que exige maior grau de improvisação, criatividade, malandragem, astúcia e sagacidade dos sambistas.

Independente (Marquinhos Jaca me confessou que vendeu o carro para conseguir finalizar o disco), é um disco "sincero", como diria um dos batuqueiros que participaram da gravação, Alfredo Castro. Sincero na roupagem, nos arranjos e nas letras, que refletem vários aspectos da realidade dos sambistas. A refeição com apenas uma "mistura" (para evitar desperdício), a mulher que não deixa o sambista cair na madrugada, a "dupla personalidade" de um malandro que quando bebe se transforma, o cara que atravessa na roda de samba e não se toca, tudo isto é cantado em versos neste álbum.

No disco temos composições de Deny Alves, Wagner Almeida, Reinaldinho, Deley Antonelli, Maurinho de Jesus, André Saracura, Wagner Almeida, Silvião, Dudu Santana, Hevelson, Xande, Juninho da Vila e Mumu. 

As participações especiais ficam por conta de Reinaldinho, Julia Saragoça, Maurinho de Jesus, André Saracura, Silvião, Dudu Santana, Hevelson, Juninho da Vila e Daniela da Laje.

Jaca é um sambista de São Paulo que transita pelas rodas de samba de São Paulo desde o dia em que foi levado, ainda molecote, à Vai-Vai - escola do coração que passou a fazer parte da Ala dos Compositores em 1998 - com seus pais. Exímio versador, é daqueles que tem uma grande presença na roda. E tal malícia está presente, de maneira enfática, neste disco.

E para ilustrar com samba este papo, duas músicas do disco. Primeiro, Generosa, parceria com Juninho da Vila e Mumu e participação de Daniela da Laje no papel da nega.


E também Zé Careta e Calibra Bastante, grande crônica social do sambista que bebe e se transforma. Parceira com Xande e mais uma participação especial feminina interpretando a nega. Desta vez, Julia Saragoça.




Abaixo, segue um texto do Marquinhos Jaca presente no encarte do disco em que ele brinca com os nomes das músicas gravadas no álbum:

Nascido no terreiro da “VOVÓ MARIA”, o “NÚMERO 1 DO BRASIL”, nem sempre teve “DUAS MISTURAS”, ou mais, seu “PIOR PESADELO” era se extinguir... mas de tanto rezarmos para “NOSSA SENHORA DO PARTIDO ALTO”, ele sobreviveu... e nós aprendemos que não podemos “VIVER SEM VOCÊ”, e que de fato você é “VASO RUIM” de quebrar... eles pensam que “NINGUÉM SE TOCA”, mas a “GENTE PRETA”, continua cultuando e cultivando você, bem como o “ZÉ CARETA E CALIBRA BASTANTE”. E “ASSIM É MEU POVO”, que mesmo com “FUMAÇA NA TEIA”, vê que a vida é bela e “GENEROSA”, e “PEÇO A DEUS E A NOSSA SENHORA”, que você perdure por todo sempre.

Marquinhos Jaca

8 de setembro de 2010

Resenha do disco novo do Wilson das Neves na Carta Capital


Emplaquei uma nota sobre o novo disco do Wilson das Neves ("Pra gente fazer mais um samba") na edição desta semana da Carta Capital. Segue a reprodução abaixo:

Muitos sambas e um bordão

Compositor, cantor, baterista, percussionista, sambista e imperiano. Este é Wilson das Neves, nome da música popular brasileira que, aos 74 anos, lança o bem-arranjado “Pra gente fazer mais um samba” (Universal), seu oitavo disco de carreira e o primeiro desde o aclamado “Brasão de Orfeu” (2004).

Considerado um dos melhores bateristas do samba, tendo criado uma batida única pra acompanhar grandes nomes do ritmo como Cartola, Nelson Cavaquinho, Clara Nunes entre outros, Wilson das Neves escolheu a dedo os compositores, músicos e arranjadores neste recente lançamento.

Os arranjos, caprichosos e homogêneos, são assinados por João Carlos Rebouças (piano), Zé Luiz Maia (bateria) e Jorge Helder (violão), que também participam da gravação. O naipe de músicos ainda conta com o excelente violonista Cláudio Jorge, o ritmo de Zé Trambique, além de outras participações. Wilson das Neves toca tamborim em duas faixas. O coro feminino se faz presente nas vozes de Mariana Bernardes, Bia Paes Leme e Alice Passos. Mariana Bernardes ainda sola com o sambista em “Passarinho de Gaiola”.

Paulo César Pinheiro, Delcio Carvalho e Nei Lopes assinam as parcerias com o compositor no disco. Destaque para a faixa que dá título ao álbum (“Pra gente fazer mais um samba”), além das ótimas “Coquetel” e “Velha Guarda do Império”, onde ele encerra o disco com seu famoso bordão “Ô sorte!”.

12 de abril de 2010

Terreiro Grande e Cristina Buarque cantam Candeia (2010)


A espera foi longa, mas valeu a pena. Em fevereiro de 2009, Terreiro Grande e Cristina Buarque realizaram um grande espetáculo em homenagem a Candeia, no Teatro FECAP. Na ocasião, foi relançada a biografia do sambista, assinada por João Batista M. Vargens, que conviveu vários anos com o portelense e pôde escrever com propriedade sobre o assunto. O show apresentado na época, belíissimo, foi gravado para virar, posteriormente, um CD. E neste último fim de semana, finalmente o disco foi lançado, e no melhor espaço possível, a casa dos sambistas, o Bar do Alemão, local de encontro deles e quase uma “sede” do Terreiro Grande.

Grandes amantes do samba e alunos estudiosos que buscam aprender cada vez mais com os ensinamentos deixados pelos grandes mestres, os sambistas do Terreiro Grande mais uma vez fizeram história. Sempre contando com o luxuoso auxílio de Cristina Buarque, preparam um repertório irretocável, mesclando grandes clássicos da obra de Antônio Candeia Filho, com algumas inéditas que não poderiam ficar na obscuridade de maneira alguma. São sambas de terreiro, sambas enredo e partidos que demonstram bem o que foi o compositor portelense: um dos maiores compositores de toda a música popular brasileira e um grande defensor da arte negra e das manifestações culturais populares e espontâneas.

Neste sábado, 10 de abril de 2010, Candeia, onde quer que ele esteja, sorriu. Um trabalho tão caprichado, feito por pessoas que tanto valorizam e dignificam o samba, é algo a ser exaltado. Na fria tarde de outono, até o sol resolveu dar a sua graça e brindar os presentes com seu calor e fulgor. A roda estava completa e podemos todos festejar um momento tão especial para o samba.

O disco é mais do que um lançamento musical, é um documento histórico, um tributo mais do que merecido à aquele que tanto lutou pelo samba e deixou plantada a semente, que estes rapazes cultivaram e cultivam há tantos anos. Agora, já colhem frutos saborosos.

São dez faixas, cada uma contendo mais de um samba, naquele esquema de put-purri que tão bem demonstra o espírito de roda de samba que eles levam para a “cera”. Mais uma vez, o forte coro é o que dá a tônica dos arranjos, inspirados nos sambas de terreiro da antiga. Cristina Buarque, presença mais do que ilustra, gosta de samba assim e se sente bem cantando dessa maneira. Todos estão tocando e cantando muito bem no disco.

Na faixa 5, com uma arranjo de regional mais enxuto, podemos notar a maestria de Edinho, no cavaco e os maravilhosos bordões de Cardoso e Lelo. O pandeiro de Luizinho é algo único nos dias de hoje (e o que dizer de sua potente voz?).

Nas outras faixas, o “peso”, característica principal do samba do Terreiro Grande, é o que dá a tônica. E em todo o disco, podemos notar a excelência dos sambistas: Tuco canta cada vez melhor, assim como Alfredão, Renato, Marcelo Cabeça, Bocão, Jorge, Eri, Lelo, Cardoso e Miséria, que também atuam como solistas no primoroso álbum. Roberto Didio é quem faz a marcação, coração do samba. Neco, Pereira, Careca, Buião completam o escrete, tão entrosado que até lembra o Brasil da Copa de 70.

Para matar a curiosidade dos leitores, segue a faixa 7:



Miragens do deserto (Candeia) - solista: Tuco
Ilusão perdida (Candeia e Casquinha) - solista: Luizinho
Já sou feliz (Candeia)
Não é bem assim (Candeia) - solista: Marcelo Cabeça

Marcelo Cabeça garrafa Renato Martins agogô Luizinho pandeiro Roberto Didio surdo Tuco cavaquinho Lelo violão 6 Edinho cavaquinho Cardoso violão 7 Neco reco-reco Miséria prato e faca Eri caixinha de fósforo Alfredo Castro tamborim e cuíca Pereira tamborim Jorge Luiz Garcia tamborim Careca tamborim
Todos + Cristina, Buião e Bocão coro


Também vale a pena descrever aqui o texto de João Batista M. Vargens, contido no encarte do disco:

Existem artistas cujos tentáculos de Chronos são incapazes de contê-los. Perpassam anos, décadas, séculos e suas obras continuam sensibilizando as novas gerações, desafiando o tempo. A cada releitura, descobre-se algo novo, em sintonia com o momento, e, desse modo, tem-se a certeza de que a perenidade, de fato, é a grande marca da modernidade.

Entre os seletos compositores da Música Popular Brasileira, está, sem dúvida, Antônio Candeia Filho. Versátil, Candeia explora, com maestria, as três grandes vertentes da música das escolas de samba do Rio de Janeiro: o partido-alto, o samba de terreiro e o samba-enredo, além de enveredar, com reconhecida competência, por outras searas de matizes afro-brasileiros, como o jongo, o caxambu, o maculelê, o afoxé, o samba-de-roda e por aí afora.

Em boa hora, a inesgotável Cristina Buarque e o Terreiro Grande subiram ao palco do FECAP, em São Paulo, e, por três noites de fevereiro de 2009, tranformaram a ribalta da Liberdade na varanda da rua Marependi, rua circular (como muitos rituais africanos) de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde residiu Candeia nos últimos anos de sua curta trajetória. Na ocasião, tive o prazer de lançar a 3ª edição de “Candeia, luz da inspiração” editora Almádena, aumentada e contendo um CD com mais de duas dezenas de músicas inéditas. Foram apresentações memoráveis! De tal forma que se percebiam resfôlegos de prazer em cada rosto, à saída do teatro. Para fixar aquele momento instante mágico, Zeca Ferreira, filho da cantora, brinda-nos com este CD, em que as músicas até então inéditas somam-se ao repertório gravado e nos apresentam, com fidelidade, com espontaneidade, um Candeia verdadeiro. Os atores (cantores e músicos) manejam rimas e ritmos com despojamento e alegria. Há de se ressaltar, também, a cadência, a “levada” dos sambas, bem ao gosto do homenageado.

Parabéns, Cristina! Parabéns, Terreiro Grande! De tão grandes, vocês embarcaram nas asas da Águia e transpuseram o subúrbio de Oswaldo Cruz, aconchegante ninho da Portela, para qualquer lugar do planeta.

João Batista M. Vargens

Ficha técnica show

Direção artística
Homero Ferreira
Direção de produção
Américo Marques da Costa
Produção executiva
Thyago Braulio
David Alexandre
Som
Alberti Ranelucci
Vanderley Quintino
Carlos Rocha
Rafael Valim
Luz
Silvestre Jr.
Carol Autran

Ficha técnica CD

Produção
Zeca Buarque Ferreira
Transcrição
Alberto Ranellucci
Mixagem e masterização
Mario Gil/ Home Studio
Projeto gráfico
Paulo Emílio
Fotos
Marina Fraga
Foto capa
Walter Firmo
Tratamento de imagem
Maya Zalt

Parabéns, Terreiro Grande e Cristina! Vocês são brasa!!!! A existência de você engrandece o samba.


Avaliação: ***** (espetacular)
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