9 de agosto de 2011

Guerreiras do samba

As mulheres, historicamente, atuaram dentro do mundo do samba como pastoras, ou seja, eram elas as responsáveis para fazer o samba "pegar", ou não, dentro do terreiro (posteriormente quadra). Avaliando-as como quituteiras de mão cheia, que cozinhavam para que a "tropa toda pudesse brincar direitinho", temos uma visão simplista da história, já que foram elas, as "tias baianas" do Rio de Janeiro quem abrigaram as primeiras rodas de samba, os primeiros encontros de sambistas. Foi graças à hospitalidade e organzição destas mulheres como Tia Ciata, Dona Esther e Tia Fé, que o samba nasceu.

Mesmo assim, o samba e os sambistas, ao longo dos tempos, foram tachados de machistas, um reflexo da sociedade, pois. Cantavam, mas não compunham. Ou compunham, mas não alcançavam espaço. "Catituar" sambas, ou seja, arranjar espaço para gravação não era algo fácil para quem era vista como o "sexo frágil". E o que falar de mulheres instrumentistas? Poucas se arriscaram, poucas apareceram. Talvez o choro ainda abrigasse mais delas, mas o samba não.

No entanto, neste ano de 2011, no dia 5 de agosto, um importante acontecimento se deu em São Paulo. Desmistificador, rompeu tabus e quebrou paradigmas. Uma imensa roda de samba composta por mulheres que pertencem ao Movimento Cultural @migosdosamba.com abalou as estruturas da Ação Educativa e mostrou que as mulheres podem, sim!

Se elas ainda não assumiram a direção musical (os instrumentistas da roda eram todos homens), por outro lado, mostraram que são extremamente competentes em montar um repertório à altura da importância histórica que representam em nossa sociedade. Trocando em miúdos, as mulheres, razão plena de nosso viver, deram as caras e disseram: "somos sambistas organizadas, podemos cantar nossos anseios, nossas angústias, nosso viver e vamos varrer o machismo que impera no samba desde o dia em que os bambas do Estácio de Sá disseram que amor é o de malandro".

Há tempos não me emocionava como me emocionei nesta sexta-feira. As @migas, lindas, altivas, altaneiras, soltaram a voz e mostraram para que vieram. Um dia glorioso para o samba, sem sombra de dúvidas.


Momento sublime aquele em que ecoou os versos "Um dia, um ser de luz nasceu, numa cidade do interior...". Era a Clara Guerreira, abençoando a todas. Ela estava ali, sem sombra de dúvidas.

Vi todo o anseio destas mulheres realizarem este sonho, desde o início. Como me surpreendi, como vibrei, como me emocionei!

Gostaria de, através deste modesto espaço, parabenizar todas as mulheres. Não só as "amigas do samba", não só as mulheres do samba, mas sim, todas elas.

Continuem a luta, o samba e a sociedade precisam de vocês.

2 comentários:

Virginia disse...

Ahhhhh Piruca.....que coisa mais linda! Me emocionei novamente, vc é D+.
Olha, me emocionei muito com todas as músicas, mas na hora que cantamos "Um Ser De Luz" foi D+, não aguentei e deixei as lágrimas rolarem.Com certeza a nossa Amada Clara Nunes nos abençoou o tempo todo. Muito obrigada meu queridoooo.
Beijos

Jéssica Machado disse...

Belíssimo texto! Apesar de estar bem longe de onde ocorreu o evento, posso imaginar a grande emoção de todos os presentes!

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O Couro do Cabrito by André Carvalho is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 Brasil License.
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