publicado originalmente em 25/08/11 no site Catraca Livre
"Lavapés, a pioneira, na Praça do Samba neste domingo"
por André Carvalho
Foi no carnaval carioca de 1936 que Deolinda Madre e Francisco Papa se encantaram com o desfile das Escolas de Samba na lendária Praça Onze. Em São Paulo, nas rodas de samba da baixada do Glicério, na Liberdade, Madrinha Eunice e Chico Pinga – como ficaram conhecidos na historiografia do samba paulista -, juntamente com Zé da Caixa (José Madre, irmão de Deolinda), amadureceram a ideia de levar a novidade da Guanabara para o Carnaval das ruas do Brás.
As tradicionais Vai-Vai e Camisa Verde e Branco eram, à época, cordões e desfilavam ao som da “marcha sambada”. E, a despeito do pioneirismo da efêmera Escola de Samba Primeira de São Paulo (surgida pouco antes, mas de vida curta), a Sociedade Recreativa Beneficente Escola de Samba Lavapés, fundada em 9 de fevereiro de 1937, é a mais antiga escola de samba paulistana em atividade. Cabe ressaltar que a Lavapés, ao contrário dos rivais, tocava samba no chamado “tríduo momesco”.
Se o carnaval dos dias atuais valorizasse tradição e história, a Lavapés teria posição de destaque no grande espetáculo de fevereiro, no Sambódromo do Anhembi. Afinal, possui 19 títulos e contou, ao longo de sua história, com nomes como Doca, Popó, Jangada, Xangô, Geraldo Filme, Inocêncio Mulata e Carlão do Peruche. Mas o fato é que hoje a Escola de Samba se encontra no Grupo 4, última divisão, e não conta mais com subvenção da Prefeitura de São Paulo.
Ações para o resgate, no entanto, já estão sendo realizadas. O Kolombolo Diá Piratininga, agremiação que batalha pela afirmação do samba paulista, prepara, atualmente, um disco em homenagem à Escola e fomenta a realização de atividades que possam gerar receita e maior visibilidade para a Lavapés, que precisa, afinal, desfilar em fevereiro de 2012.
Neste domingo, 28, a partir das 14h, a roda de samba mensal promovido pelo Kolombolo na Praça do Samba, recebe integrantes da Lavapés, incluindo a presidente Rosemeire Marcondes (neta da fundadora, Madrinha Eunice). A entrada é Catraca Livre.
“Lavapés é a minha casa, minha vida, minha família”
Presidente da Lavapés desde 1996, quando herdou o bastião de sua avó, Madrinha Eunice, que falecera, Rosimeire batalhou para levar a Escola a uma posição de destaque no Carnaval. Há sete anos, porém, a agremiação sofreu um duro golpe, quando perdeu sua quadra. “Minha casa virou a sede da Lavapés”, afirma a sambista.
Perspectivas otimistas, todavia, têm surgido. Há a possibilidade da Escola receber a doação de uma nova sede e voltar a desenvolver ações sociais como oficinas de percussão e dança, bem como a instalação de um telecentro para a comunidade no local. Tudo gratuito. “Precisamos unir a cultura popular ao social. Unindo forças, podemos nos levantar novamemente”, diz a presidente da Lavapés.
Para o desfile de 2012, o enredo e os figurinos já estão prontos. E Rosemeire clama a participação de foliões, para conseguir tirar a Lavapés do Grupo 4: “A fantasia é de graça, só precisa pagar a sapatilha”.
Lembranças de carnavais passados
Rosemeire traz na memória histórias de um tempo em que o samba e o carnaval eram impregnados de romantismo. “Minha avó nos levava para Pirapora, víamos toda aquelas celebrações, era uma infância muito boa”, garante.
Nos carnavais, a menina Rose saía de baiana, outro pioneirismo que a Lavapés levou para os desfiles paulistanos. “Era desconfortável”, atesta, relembrando os tempos idos.
O Dia Nacional do Samba, celebrado no dia 2 de dezembro, também traz boas recordações. “Às seis da manhã, com a alvorada, a batucada saía às ruas”.
Hoje, os tempos são outros, o carnaval é outro. Mas domingo, diferentemente do que acontecerá no Sambódromo em fevereiro do ano que vem, a história e a tradição virão em primeiro lugar. “Domingo, queremos resgatar a história do samba paulista e trazer o público para conhecer a Escola”, afirma, otimista, Rosemeire, já vislumbrando dias melhores para a Lavapés.
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