Paulo da Portela foi uma figura humana de inestimável valor para a cultura popular brasileira. Ao lutar pelo reconhecimento do samba como manifestação cultural autêntica, pacífica, educativa e sociabilizadora, bateu de frente com autoridades racistas, higienistas e eugenistas. O samba, suburbano, mestiço, brasileiro exemplificava a cultura das três raças fundidas, bem como a sociedade brasileira: o ganzá é indígena, o pandeiro é árabe, as cordas são ibéricas e o couro é africano.
Quem viveu o samba naquela época, quem conheceu Paulo da Portela, confirma esse afirmação. Waldir 59, atual número 1 da Portela, disse para mim há poucas semanas, que, de fato, tratava-se de um ser humano batalhador, um lutador, um guerreiro em prol da aceitação do samba pela sociedade. E realmente, naqueles idos da década de 30, este ritmo galgou crescente respeito com a classe artística. Aos poucos, os principais cartazes do rádio e dos discos de 78 rpm passaram a gravar este ritmo moldado pelos batuqueiros do bairro do Estácio de Sá, preterindo os sambas amaxixados que Sinhô consagrou.
O reconhecimento da luta de Paulo veio em 1937, quando foi eleito, mediante escolha popular, Cidadão Samba. Um sambista precisaria saber versar, cantar, tocar e dançar o samba. Além de fazer tudo isso com maestria, Paulo era, também, um grande articulador político que conseguiu fazer com que o samba viesse a ser o ritmo nacional, despido de todos os preconceitos sociais que o envolvia até então.
Tantas décadas se passaram e o papel social do sambista se enfraqueceu. Excluído do novo cotidiano das Escolas de Samba, organizações cada vez mais comerciais sem vínculos culturais e artísticos com as comunidades que o abrigaram, precisou buscar novos horizontes para empunhar a bandeira da resistência - sim, pois o samba de terreiro, depois quadra, já não é uma realidade dentro destes históricos berços de bambas.
Nas esquinas e botequins, nas salas e quintais, criaram se os "projetos de valorização e resgate de samba de terreiro", ou "comunidades" - já existe até o termo "samba de comunidade". Existem em vários bairros de São Paulo e em algumas cidades como Uberlândia, Santos, Campinas, Porto Alegre e Florianópolis. São estes sambistas que ainda lutam. São os novos "cidadãos samba".
Nas esquinas e botequins, nas salas e quintais, criaram se os "projetos de valorização e resgate de samba de terreiro", ou "comunidades" - já existe até o termo "samba de comunidade". Existem em vários bairros de São Paulo e em algumas cidades como Uberlândia, Santos, Campinas, Porto Alegre e Florianópolis. São estes sambistas que ainda lutam. São os novos "cidadãos samba".
Em 2011, uma ação realizada pelo Movimento Cultural @migos do samba.com voltou a homenagear estes batalhadores. A ideia partiu de Vicente Ferreira, o "Presidente": a cada ano, um sambista que desenvolvesse atividades relevantes em prol do samba durante a temporada, seria louvado.
Ainda em 2010, dois projetos importantes foram concebidos e, ao longo do ano passado, foram realizados: o "Programa É Batucada!", série de entrevistas audiovisuais com sambistas da nova e da velha geração, e a série de rodas de samba em homenagem ao centenário do portelense Chico Santana.
A primeira ação, idealizada pela sambista e produtora cultural Isaura Almondes, fez com que nomes como Waldir 59, Tia Cida, Barão do Pandeiro, Seu Paulão, Seu Germano, Seu Mangueira, Tuco, Loré e outros nomes pudessem contar e cantar suas vidas no samba. Já a série de rodas, contou com importante organização do sambista Fernando Paiva, de Uberlândia. Sendo assim, receberam, com louvor, o "1º Prêmio Paulo da Portela".
De fato, Fernando Paiva simboliza um lutador, um batalhador pelo samba. Não há dúvidas que os ideais de Paulo da Portela habitam sua alma. Gentil, educado, honesto e apaixonado pelo samba. Um pesquisador de grande valor, que foi muito bem escolhido nesta primeira edição da premiação.
Lembro-me do dia em que o conheci. No bar, em frente ao Centro Cultural São Paulo, após a apresentação do Tuco e o Batalhão de Sambistas que deu origem ao disco "Peso é Peso". Uma figura humana extremamente bondosa, sincera. Estudioso de samba antigo esmerado. Meu amigo desde esse dia.
O "Programa É Batucada!", representado por Isaura Almondes, Edinho Carvalho, Marcelo "Baseado" Lourenço e este sambista que vos fala, também cumpriu um importante papel com as entrevistas, levando ao público sambas inéditos e desconhecidos de sambistas novos e consagrados. Orgulho-me de participar deste projeto.
A cerimônia foi engalanada pela presença de José Ramos Tinhorão, notório pesquisador de música popular brasileira - sem dúvidas, o maior de todos vivo -, que proferiu uma pequena palestra sobre a importância do legado de Paulo da Portela para a música popular brasileira.
Cabe destacar também, a importância do sambista - e defensor das tradições do futebol de várzea - Arthur Tirone, o Favela. Ele é a pessoa que fez com que o Clube Anhangüera fosse, hoje, um dos principais símbolos de resistência do samba como forma autêntica de manifestação cultural. Tal luta fez com que fosse contemplado com uma placa, que exalta seu clube de várzea de coração.
A cerimônia foi engalanada pela presença de José Ramos Tinhorão, notório pesquisador de música popular brasileira - sem dúvidas, o maior de todos vivo -, que proferiu uma pequena palestra sobre a importância do legado de Paulo da Portela para a música popular brasileira.
Cabe destacar também, a importância do sambista - e defensor das tradições do futebol de várzea - Arthur Tirone, o Favela. Ele é a pessoa que fez com que o Clube Anhangüera fosse, hoje, um dos principais símbolos de resistência do samba como forma autêntica de manifestação cultural. Tal luta fez com que fosse contemplado com uma placa, que exalta seu clube de várzea de coração.
A temporada 2012 já começou. Ações já estão sendo pensadas. Salve o samba.
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