Há quem suponha que Nelson Cavaquinho nasceu no dia 29 de outubro. No entanto, a data correta é dia 28, mesmo dia de nascimento de outro gênio, Garrincha. Quem confirma é o próprio, no depoimento dado a Fernando Faro no programa MPB Especial, nos anos 70.
Neste dia de centenário, vou reproduzir aqui a resenha sobre o disco "Nelson Cavaquinho 100 - Degraus da Vida", publicada originalmente na revista Carta Capital.
Eternamente no coração da gente
Nelson Antonio da Silva foi um boêmio de voz rouca, compositor de primeiro nível e instrumentista cuja batida de violão jamais seria imitada. Cantou em suas músicas a trajetória da vida vadia, as angústias, amores e, principalmente, o medo da morte. Vendia sambas e dava parcerias em troca de um copo de bebida ou de uma noite em uma hospedaria. Mesmo assim, felizmente, grande parte de sua obra sobreviveu, cativando gerações de ouvintes. Foi como Nelson Cavaquinho que esta espetacular figura humana atingiu a fama, ainda que não ligasse para ela.
No próximo dia 28 de outubro, o sambista mangueirense completaria 100 anos. Ele que sempre desejou receber as “flores em vida”, recebe, 25 anos após a sua morte, um álbum-tributo. “Nelson Cavaquinho 100 anos– Degraus da Vida” reúne clássicos e raridades, apresentando um amplo panorama de sua obra.
O CD duplo foi idealizado e produzido por Rodrigo Faour, que garimpou o acervo da EMI (herdeira dos catálogos de antigos selos como Odeon, RCA Victor e Copacabana) e dividiu o disco em duas partes: “Sambas Consagrados” e “Sambas Guardados”.
O disco 1 destaca clássicos do compositor, alguns deles em sua versão original (e fora de cátalogo) como “Degraus da Vida”, lançado por Roberto Silva em 1950 e “Palhaço”, gravado por Dalva de Oliveira no ano seguinte. Outro samba consagrado apresentado em uma versão menos famosa é “Quando me chamar saudade”, com Nora Ney (1972). Há espaço, também, claro, para Clara Nunes, com “Juízo Final” e Beth Carvalho (“Folhas Secas”), artista que mais gravou Nelson Cavaquinho.
Para colecionadores, o disco 2 é o ouro: algumas das gravações ali contidas aparecem em formato digital pela primeira vez. É o caso de “Cigarro” (1953), com Risadinha, e “Se me der adeus” (1969), com Jorge Veiga. Márcia (“Mesa farta”), Jurema (“Sinal de paz”) e Blecaute (“Caridade”) também merecem destaque.
“Nelson Cavaquinho 100 anos – Degraus da Vida” leva a Nelson as flores, o choro de um pandeiro e um tamborim, fazendo de ouro seu violão.
Arte: Alexandre de Maio
Arte: Alexandre de Maio
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