19 de julho de 2013

Centenário de Wilson Baptista, por Brasil 41

Nos idos de 1952, quando Jorge Goulart gravou o clássico samba Mundo de Zinco, parceria com Nássara, Wilson Baptista legou a todos seu anseio. O desejo era que, tal qual aconteceu com Noel Rosa, ilustre companheiro de polêmica, seu nome entrasse para o livro de ouro do samba. "Mas deixo o nome na história, o samba foi minha glória / E sei que muita cabrocha vai chorar por mim".

Dezesseis anos depois, de fato, muita cabrocha chorou por ele. Mas o seu nome, naquele momento, não entraria de imediato para história. Corria o ano de 1968, época de revoltas, de manifestações populares, de mudanças sociais profundas e - triste lembrança -  do famigerado Ato Institucional nº 5, que reduziu ainda mais as liberdades civis da população brasileira naqueles tempos sombrios de ditadura militar. Tamanha convulsão fez com que a morte de Wilson Baptista passasse batida. Morreu pobre e esquecido.

Mais de quatro décadas após seu desaparecimento, inúmeros clássicos de sua autoria seguem celebrados, como Emília (com Haroldo Lobo), Bonde de São Januário, Oh Seu Oscar (ambos com Ataulfo Alves) e Meu mundo é hoje (com José Batista), ainda que muitos ignorem que Wilson seja o autor de tais pérolas. Fato é que a genialidade do compositor é inversamente proporcional a seu reconhecimento para com as gerações que se sucederam após sua morte.

Poucos se dedicaram a estudar a vida e a obra de Wilson Baptista. Em 1985, a Funarte lançou um disco (com Joyce e Roberto Silva) e um livro (Wilson Batista e sua época, escrito por Breno Ferreira Gomes) em sua memória. Em 1996, Luís Fernando Vieira e Luís Pimentel publicaram Wilson Batista na corda bamba do samba, pela editora Relume Dumará. Quatro anos depois, Cristina Buarque gravou um Cd todo dedicado ao bamba, Ganha-se pouco, mas é divertido. Finalmente, nos últimos anos, o pesquisador Rodrigo Alzuguir dedicou ao mestre um espetáculo musical, um CD duplo (ambos batizados de O samba carioca de Wilson Baptista), um livro de partituras (Wilson Baptista - Cancioneiro Comentado, recém-lançado), além de se preparar para lançar, nos próximos meses, a mais completa biografia já realizada sobre o sambista, Wilson Baptista - O samba foi sua glória.

Com a exceção dos trabalhos desenvolvidos por Alzuguir, no entanto, o centenário de Wilson Baptista teve pouco destaque na mídia e quase nenhuma homenagem foi feita em seu nome - diferentemente do que ocorreu com Noel Rosa, Cartola, Adoniran Barbosa, Nelson Cavaquinho, Herivelto Martins e Assis Valente, nos últimos anos. Mas uma grandiosa celebração haveria de ser feita.

De Herivelto Martins a Wilson Baptista

Ano passado, sambistas de Belo Horizonte, da Roda de Samba Brasil 41, protagonizaram um dos espetáculos mais belos dedicados a um compositor brasileiro. Era o ano do centenário de Herivelto Martins e uma grande roda de samba foi formada, no acanhado bar situado na Avenida Brasil, nº 41 (daí o nome da "agremiação"). Dezenas de sambas de Herivelto, dos mais clássicos aos mais desconhecidos, foram cantados com fervor pelos jovens sambistas, tão dispostos a valorizar a cultura popular brasileira. Findada a homenagem, ficou no ar uma vontade de seguir exaltando estes nomes tão distintos de nossa música. Ali, no calor da emoção, decidiu-se: 2013 é ano de celebrar o centenário de Wilson Baptista.

A data escolhida para a celebração foi 13 de julho, um sábado. Neste dia, a capital do samba foi Belo Horizonte. Eu digo e não tenho medo de errar.

Belo Horizonte recebeu, nesta ocasião, sambistas de Uberlândia, Rio de Janeiro e São Paulo. O time estava entrosado, o Brasil 41 ensaiou o ano inteiro. Receber ritmistas, violonistas e cavaquinistas de outras paragens para sentar à roda naquele dia, sem ensaios prévios... Haveria de dar algo errado? Não, pois todos ali falavam a mesma língua. Se fosse um time, todos jogariam por música, praticando o mais legítimo futebol-arte. Bastaria o samba começar para todos saberem o que fazer. E foi assim que aconteceu.

Antes de tentar exprimir em palavras uma das rodas de samba mais emocionantes que já presenciei, cabe ressaltar a extrema dedicação destes mineiros que tomaram frente ao maravilhoso projeto de homenagear Wilson Baptista, os sambistas do Brasil 41: Daniel Capu, Vinícius Terror, Mateusão, Bernard, Arthurzinho, Ciro, Adriano, as pastoras e todos os outros integrantes desta agremiação, que tanto faz pelo samba. Aos que vieram de fora, Tuco, Alfredão, Julião Pinheiro, João Camarero, Léo Careca, Fábio Lomba, Thiago Belisário, Fernando Paiva, Galego, Carica, Fabrício, e tantos outros mais, também, um salve! Aos que não citei, mas que estiveram presentes (e ao Artur de Bem, que ajudou na pesquisa de repertório, mas não foi a BH), obrigado! E vamos ao que interessa, a inesquecível homenagem.

Pode perguntar se era assim

A harmonia dos violões e cavaquinhos falava alto. Então, entoaram-se os versos do samba Não era assim, parceria de Wilson com Haroldo Lobo, gravado inicialmente por Déo, em 1945, e regravado por Cristina Buarque, em 2000.

Não era assim que a bateria falava, não era assim
As cabrochas não sambavam assim
Você vai lá em São Carlos, Mangueira, Salgueiro, Matriz, todo morro, enfim
Pode perguntar se era assim

Não havia bateria, era tudo diferente 
As cabrochas não sambavam esse ritmo tão quente 
Pergunte ao João da Baiana, que vai responder por mim
Se era, se o samba era assim...

Quando o samba voltou para a "cabeça", entrou a bateria. Falando alto, mostrando que era assim que ela falava, nos bons tempos de João da Baiana. Pode perguntar se era assim. A emoção do momento fez com que lágrimas brotassem, discretas, dos meus olhos. Há tempos não sentia tal sensação em uma roda de samba. Um momento sublime. E era apenas o início de uma tarde magistral.

Se o samba que abriu a homenagem foi regravado por Cristina Buarque, muitos outros que se sucederam no repertório não tiveram o mesmo destino, permanecendo escondidos em velhos acetatos e em acervos particulares, sobrevivendo a traças e gerações alienadas da obra do genial sambista. E a bateria avançava - fogo! -, celebrando a Miss de Mangueira, o botequim, o carnaval. As cabrochas sambavam até a sandália furar e toda a plateia ficou maluca depois de ouvir o samba do Brasil 41.

Wilson Baptista, que se preocupou tanto em deixar um legado e partiu sem ter seu nome devidamente exaltado, certamente estaria feliz em ver tamanha celebração. Heróis são aqueles que cantaram, que sambaram por nós. E que herói foi este grande bamba!

E o Brasil inteiro vai cantar depois o samba de Wilson Baptista

O repertório era repleto de sambas "lado B", mas para aqueles sambistas que entoavam, com louvor, melodias e versos de Wilson, estava tudo na ponta da língua. Aos que não conheciam as composições garimpadas, tal qual pepitas de ouro, pelos esmerados pesquisadores, um caderninho - com todas as letras, a ordem de apresentação dos sambas e um precioso texto, escrito por Sérgio Moraleida - servia de apoio.

Ao ouvir a roda de samba cantando com gosto os sambas desconhecidos de Wilson, a impressão era que tais composições eram clássicos absolutos da música popular brasileira, já que todos cantavam em alto e bom som, em um coro afinado. Foi assim que o povo cantou os contagiantes Quando dei adeus (com Ataulfo Alves), Sempre Mangueira (com Nássara e Jorge de Castro), A voz do sangue (com Valfrido Silva), entre tantos outros.

Outras composições, resgatadas por Cristina Buarque em Ganha-se pouco, mas é divertido, também tiveram espaço: Sambei 24 horas, Cabo Laurindo, Rosalina (todas com Haroldo Lobo), Comício em Mangueira (com Germano Augusto) e Lá vem o Ipanema (com Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior) foram cantadas pelos presentes. Da pesquisa feita por Rodrigo Alzuguir para o disco O samba carioca de Wilson Baptista, lançado em 2011, entraram Louca alegria e Transplante de coração (último samba composto pelo mestre).

O sincopado Mania da falecida (mais uma parceria com Ataulfo Alves) e sua primeira composição, Por favor vai embora (com Osvaldo Silva e Benedito Lacerda) - um samba híbrido, um tanto rural, um tanto urbano - também foram cantados, a despeito da diferença de andamento destas duas composições para as outras destacadas na homenagem.

Cronista musical que foi, Wilson Baptista explorou, como poucos, as diversas temáticas que compunham a vida social do Rio de Janeiro da primeira metade do século passado. E neste lindo tributo dedicado a ele, um variado leque de crônicas em forma de samba fez-se presente: a mulher que abandona o marido para cair no samba, os bairros e morros (Lapa, Salgueiro, Mangueira e Favela), os personagens emblemáticos (se faltou Emília e Seu Oscar, estiveram ali Guiomar, Elza, Rosalina e Etelvina), toda esta aquarela musical esteve presente no Galpão Cultural, no bairro belo-horizontino de São Gabriel.

A nossa homenagem é sincera...

Em 1945, Aracy de Almeida gravou o samba Parabéns para você, uma parceria de Wilson Baptista com o bamba Roberto Martins. A bela composição, por anos, foi cantada em aniversários de sambistas - até ser suplantada pela composição homônima, versão brasileira de uma canção estadunidense de letra e melodia um tanto aquém a rica tradição musical brasileira.

A cada primavera, os sambistas entoavam o belo samba:

Parabéns para você
Pelo seu aniversário
Que Deus o faça feliz
Bem feliz junto aos seus
São os meus ardentes voto
Com toda sinceridade
Parabéns para você
E muita felicidade

A minha homenagem é sincera
Pois hoje você passa mais uma primavera
Aceite um forte abraço
Deste alguém que tanto lhe ama
Parabéns para você
Segue nesse telegrama

No aniversário de 100 anos de Wilson Baptista, não haveria composição mais emblemática para homenageá-lo. E foi este o derradeiro samba da celebração. Parabéns, mestre! Os sambistas agradecem e exaltam, nesta data histórica, sua genial obra. 

Wilson Baptista segue vivo e grandioso. Afinal, como diz um trecho de seu último samba: "o sambista quando é grande demais, não deve desaparecer".

Avaliação: ***** (excelente)

11 de julho de 2013

Roda de Samba Brasil 41 homenageia Wilson Baptista




Homenagem a Wilson Baptista - 100 anos (com Brasil 41)
Local: Galpão Cultural
Endereço: Rua Coronel Eugênio Thibau, 252 - São Gabriel - Belo Horizonte/MG
Data: 13 de julho (sábado)
Horário: 14h
Valor: Gratuito

10 de julho de 2013

Flores em vida. Homenagem, em tempo. Estou falando de Elton Medeiros


Eduardo Gudin teve a sensibilidade de produzir um grandioso tributo a Elton Medeiros, apresentando valorosos intérpretes, escolhendo um repertório representativo de sua obra e, principalmente, contando com a presença do sambista no palco. As flores em vida, os louros, em tempo. 

O genial compositor já não carrega a enorme vitalidade que ostentou por oito décadas de vida. Um ano e meio atrás, na última vez que havia assistido a uma apresentação de Elton, ele estava bem vigoroso, forte, cantando com desenvoltura suas composições, repletas de melodias rebuscadas e com poesias de forte apelo lírico. Hoje, prestes a completar 83 anos de vida, o icônico sambista parece padecer das agruras que a idade implacavelmente acomete até mesmo aos mais fortes e saudáveis homens. 

Debilitado, fraco e com dificuldade para cantar. Infelizmente, este era o aspecto de Elton Medeiros ao pisar no palco do Teatro do Sesc Vila Mariana, nas quatro apresentações que realizou, entre os dias 4 e 7 de julho, em São Paulo. Felizmente, Gudin não esperou que o nome do sambista virasse verbete em páginas de cancioneiros, biografias e relatos históricos e se posicionou: o sambista merecia uma homenagem à sua altura, em vida. E assim se fez este belo tributo, que emocionou a todos.

Nos dois primeiros dias de espetáculo, nos dias 4 e 5 de julho, foram convidados pelos anfitriões Eduardo Gudin e Hermínio Bello de Carvalho, o conjunto Demônios da Garoa, Paulinho da Viola, Beatriz Faria e Fabiana Cozza. Já nos dias 6 e 7, subiram ao palco Ná Ozzetti, Adriana Moreira, Carlinhos Vergueiro e Carlos Lyra. Estive presente nas duas etapas desta homenagem e deixo aqui algumas linhas com minhas impressões.

Antes de avaliar as atuações dos convidados, cabe ressaltar que os instrumentistas atuaram muito bem na apresentação (apesar do autor destas linhas não ser um grande entusiasta da presença de bateria e contrabaixo em espetáculos de samba). Estiveram presentes os seguintes músicos: Alfredo Castro (percussão), André Gomes (trombone), Da Do (saxofones, flauta e clarinete), Edu Malta (contrabaixo), Eduardo Gudin (violão), Henrique Menezes (flauta), João Poleto (flauta e saxofones), Jorginho Saavedra (bateria), Karina Ninni (vocal), Maik Moura (cavaquinho e bandolim), Maurício Santana (vocal), Maycon Mesquita (trombone) e Raphael Moreira (percussão).
O primeiro ato

O espetáculo teve início, tanto no primeiro ato quanto no segundo, com a interpretação, por Karina Ninni e Maurício Santana (cantores que integram o conjunto de Gudin, Notícias Dum Brasil), de composições de Elton em parceria com o sambista paulista, idealizador do espetáculo. "Estrela" (também com Roberto Riberti), "Mundo", "Fica esse samba comigo" (com José C. Costa Netto) e "Melhor carinho" celebraram a produção conjunta destes dois sambistas.

Os Demônios da Garoa, tão ligados ao nome do paulista Adoniran Barbosa, executaram três sambas do mestre, "Rita Maloca", "Maioria sem nenhum" e "Meu sapato já furou" (as duas últimas, parcerias com Mauro Duarte). Brilhante.

O clássico absoluto de Elton com Zé Keti, "Mascarada", não poderia ficar de fora. Com Fabiana Cozza, exímia cantora, uma das mais destacadas intérpretes de samba da contemporaneidade, o samba ficou em boas mãos. Cênica, a cantora também interpretou o belo "Sorri", também parceria com José Flores de Jesus, o Zé "Quietinho" da Portela.

Outra cantora que pisou no palco nas duas primeiras noites de celebração, Beatriz Faria, filha de Paulinho da Viola, cantou algumas parcerias da dupla Paulinho/Elton, como "Recomeçar". Na sequência, ponto alto da noite, quem ganhou os holofotes - e os longos aplausos - foi seu pai, o genial Paulo César Batista de Faria. 

Um dos principais parceiros de Elton Medeiros, Paulinho é um sambista categórico. E isso foi provado mais uma vez. Além de cantar sucessos da dupla, como "Onde a dor não tem razão" e "Pra fugir da saudade", Paulinho rendeu seu próprio tributo, ao cantar "Um cara bacana", samba que compôs em homenagem a seu parceiro, na ocasião da comemoração dos 80 anos de Elton. Paulinho é um espetáculo à parte e sua presença no palco, tão somente, já seria o suficiente para garantir a grandiosidade do evento.

Eis que entra no palco, bengala à mão - a outra, conduzida pelo poeta Hermínio Bello de Carvalho - o homenageado, Elton Medeiros. Ovação. Um momento histórico se configura no Teatro do Sesc Vila Mariana, tomado por 640 pessoas, absolutamente extasiadas com o que acontecia naquele instante. Paulinho, Elton e Hermínio, então, relembram os bons tempos do Zicartola, restaurante e casa de samba de Cartola e Dona Zica, que marcou época nos anos 60.

Há 50 anos, estavam os três, jovens, com o samba correndo nas veias, vivendo tempos áureos da música brasileira. Naquele palco, tanto tempo depois, foi hora, momento mais do que oportuno, de relembrar tais momentos, celebrando a vida e a obra do grande baluarte. Entre as lembranças, o espetáculo "Rosa de Ouro", um dos musicais mais importantes da história do samba. A composição-tema, homônima, foi composta por esse distinto trio e todos conheciam e cantaram os versos que abrem a música: "Ela tem uma rosa de ouro nos cabelos, e outras mais, tão graciosas..."

Duas das parcerias de Elton com Hermínio mais belas não ficariam de fora: "Folhas no Ar" e "Pressentimento". Esta última, como não poderia deixar de ser, levantou a plateia. Finalmente, o clássico "O sol nascerá", parceria com Cartola, fechava o primeiro ato, primoroso.

O segundo ato

No segundo ato, após a introdução feita por Maurício Santana e Karina Ninni, Adriana Moreira subiu ao palco para mostrar porque ela é uma das melhores cantoras de samba de nosso tempo. Ao cantar a belíssima "Sofreguidão", o fez com o mesmo primor que Elton e Cartola tiveram para conceber tal preciosidade. Certamente, foi um dos pontos altos da homenagem.

Cabe ressaltar a observação que Gudin fez sobre esta música. O compositor paulista frisou que, ao ouvi-la pela primeira vez, em meados dos anos 60, mudou para sempre sua maneira de compor. Para ele, a audição de "Sofreguidão" foi um marco em sua trajetória de compositor de samba.

Adriana Moreira cantaria, ainda, "A canoa virou", partido alto gravado pelo Conjunto A Voz do Morro, do qual Elton participou nos anos 60, antes de abrir espaço para Carlinhos Vergueiro. Este foi muito bem, interpretando, com muita bossa e divisão, "Meu viver" (parceria de Elton com Jair do Cavaquinho e Kleber Santos), "Injúria" (com Cartola) e sua parceria com o veterano sambista, "Relaxa". Muito bom.

Depois, foi a vez de Ná Ozzetti. Esbanjando técnica, a cantora cantou um dos mais belos sambas de Elton Medeiros (mais uma parceria com o Divino Cartola), "Peito Vazio", em uma interpretação primorosa. Ná Ozzetti cantaria, ainda, com propriedade, o samba "Um cara bacana", homenagem que Paulinho dedicou ao compositor, cantada pelo próprio Paulinho nos dois dias anteriores.

O convidado seguinte foi Carlos Lyra, que subiu ao palco para cantar "Mascarada" (com Zé Keti) e "Coração de Ouro" (Elton e Joacyr Santana). O violonista fez questão de assinar o arranjo das duas composições que interpretou, fazendo com que os sambas ganhassem, então, uma ligeira aparência de bossa nova. 

Então, chegava a hora de, novamente, Elton e Hermínio subirem ao palco, interpretando, mais uma vez, os clássicos "Rosa de Ouro", "Folhas no ar" e "Pressentimento". Desta vez, no entanto, Hermínio também cantou "Vida Madrasta", outra parceira dos dois. 

Papo vai, papo vem, Zicartola, Rosa de Ouro, e outras passagens célebres de outrora ganhavam vida nas falas saudosas de Hermínio e Elton. Este, a estrela da celebração, costumava falar muito, contar causos e fazer piadas em suas apresentações. Desta vez, preferiu escutar Hermínio, lembrando daqueles dias que o tempo levou, tal folhas sopradas no ar.

Tudo isto não poderia deixar de acabar com uma enorme ovação, das mais sinceras e efusivas que uma plateia dedicou a um compositor. "Estou falando de Elton", um gênio do nosso tempo que, felizmente, colheu flores plantadas em seu jardim, em vida.

Avaliação: **** (ótimo)
 





4 de julho de 2013

Estou falando de Elton Medeiros

Ele recebe, em vida, as flores que lhe cabem por direito. Justo, natural e necessário. Afinal, o compositor carioca é um dos  maiores nomes da música popular brasileira. Um sambista maiúsculo, parceiro de Cartola e Zé Keti, entre outros nomes de valor. Na roda de samba da história, é bamba. Estou falando de Elton Medeiros, o Elton do Aprendizes de Lucas, Elton das melodias rebuscadas, que derruba muito músico com suas convenções harmônicas sinuosas. Elton Medeiros, um ícone do samba. Um mestre vivo, da estirpe de Pixinguinha, Candeia, Noel, Ismael e Sinhô.

De 3 a 6 de julho, o Teatro do Sesc Vila Mariana promove uma homenagem singular a este grande baluarte da cultura brasileira. Com curadoria e arranjos de Eduardo Gudin, o espetáculo promove o encontro de Elton com alguns de seus parceiros mais caros, como Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, entre outros destacados personagens do nosso cenário musical. 

Nos dois primeiros dias, Gudin e Hermínio Bello convidam Paulinho da Viola, Demônios da Garoa, Fabiana Cozza e Beatriz Faria, filha de Paulinho. Nos dias seguintes, é a vez de Carlos Lyra, Ná Ozzetti, Adriana Moreira e Carlinhos Vergueiro serem recepcionados pelos dois anfitriões.

"Estou falando de Elton Medeiros" é um espetáculo imperdível para aqueles que cultuam e valorizam os verdadeiros heróis brasileiros: os artistas populares.

Ficha técnica:

Alfredo Castro - percussão
André Gomes - trombone
Da Do - saxofones, flauta e clarinete

Edu Malta - contrabaixo
Eduardo Gudin - violão
Henrique Menezes - flauta
João Poleto - flauta e saxofones
Jorginho Saavedra - bateria
Karina Ninni - vocal
Maik Moura - cavaquinho e bandolim
Maurício Santana - vocal
Maycon Mesquita - trombone
Raphael Moreira - percussão

Estou falando de Elton Medeiros - com Eduardo Gudin, Hermínio Bello de Carvalho, Paulinho da Viola, Demônios da Garoa, Fabiana Cozza e Beatriz Faria
Local: Sesc Vila Mariana
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000 - Belenzinho – São Paulo/SP
Datas: 3 e 4 de julho (quarta e quinta)
Horário: 21h
Valor: de 10 a 40 reais

Estou falando de Elton Medeiros - com Eduardo Gudin, Hermínio Bello de Carvalho, Carlo Lyra, Ná Ozzetti, Carlinhos Vergueiro e Adriana Moreira
Local: Sesc Vila Mariana
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000 - Belenzinho – São Paulo/SP
Datas: 5 e 6 de julho (sexta e sábado)
Horário: 21h
Valor: de 10 a 40 reais

3 de julho de 2013

Centenário de Wilson Baptista

No dia 3 de julho de 1913, nascia um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Wilson Baptista foi um dos grandes, gigantes do samba. Compositor autêntico, ajudou, ao lado de Geraldo Pereira e Ciro de Souza, a desenvolver o chamado "samba de bossa", mais desprendido da limitação de métricas e rimas e ideal para a interpretação de orquestras de gafieira, muito popular nos anos 40. 

Como letrista, abordou temas sociais, até mesmo políticos e, a despeito da composição de "Emília" (lembrado por gerações a fio como um samba machista), pintou a mulher com tintas libertárias, sendo um dos primeiros sambistas a valorizar o papel feminino como protagonista da sociedade, dotada de direitos e apta a desfrutar de lazeres até então restritos ao homem, como sambar até a sandália furar e cair na orgia até cansar. 

Wilson morreu em 1968, sem ter desfrutado da revalorização de sambistas, iniciada naquela década e que culminou nos anos 70, quando antigos compositores, que por décadas amargaram o ostracismo, voltaram a ter destaque - Adoniran Barbosa, Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça gravaram seus primeiros álbuns apenas nesta década, todos com mais de 60 anos de idade.

Em homenagem aos 100 anos deste grande mestre do samba, O Couro do Cabrito preparou uma seleção de sambas pouco conhecidos dele. Desfrute sem moderação!

Estás no meu caderno (Benedito Lacerda - Osvaldo Silva - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1934 na VICTOR - canta: Mario Reis

Não durmo em paz (Geraldo Augusto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1936 na ODEON - canta: Carmen Miranda 1936

Meu último cigarro (Wilson Baptista) - Samba gravado em 1937 na COLUMBIA - canta: Déo

Não sei dar adeus (Ataulfo Alves - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1939 na ODEON - canta: Déo

Mania da falecida (Ataulfo Alves - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1939 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

Quando dei adeus (Ataulfo Alves - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1939 na VICTOR - canta: Odete Amaral

Carta verde (Valfrido Silva - Wilson Baptista - Armando Lima) - Samba gravado em 1940 na COLUMBIA - canta: Zila Fonseca

Brigamos outra vez (Marino Pinto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1940 na VICTOR - canta: Aracy de Almeida

Depois da discussão (Marino Pinto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1940 na VICTOR - canta: Odete Amaral

É mato (Alvaiade - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na ODEON - canta: Odete Amaral

A voz do sangue (Valfrido Silva - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na ODEON - canta: Newton Teixeira

A mulher que eu gosto (Ciro de Souza - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

Hildebrando (Haroldo Lobo - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1941 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

Essa mulher tem qualquer coisa na cabeça (Cristóvão de Alencar - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1942 na VICTOR - canta: Ciro Monteiro

O Juca do Pandeiro (Augusto Garcez - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1943 na ODEON - canta: Aracy de Almeida

Gosto mais do Salgueiro (Geraldo Augusto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1943 na ODEON - canta: Aracy de Almeida

Como se faz uma cuíca (Haroldo Lobo - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1944 na VICTOR - canta: Anjos do inferno

Apaguei o nome dela (Haroldo Lobo - Wilson Baptista - Jorge de Castro) - Samba gravada em 1944 na CONTINENTAL - canta: Arnaldo Amaral

Benedito não é de briga (Geraldo Augusto - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1945 na ODEON - canta: Quarteto Ases e Um Coringa

Outras mulheres (Wilson Baptista - Jorge de Castro) - Samba gravado em 1945 na RCA VICTOR - canta: Carlos Galhardo

Memórias de um torcedor (Geraldo Gomes - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1946 na ODEON - canta: Aracy de Almeida

Filomena, cadê o meu? (Wilson Baptista - Antônio Almeida) - Samba gravado em 1949 na RCA VICTOR - canta: Anjos do Inferno


Olhos vermelhos (Roberto Martins - Wilson Baptista) - Samba gravado em 1951 na RCA VICTOR - canta: Anjos do Inferno


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